A cidade de São Paulo lidera o ranking global de frotas de helicópteros, com 411 aeronaves registradas (Revo/Divulgação)
Redação Exame
Publicado em 19 de outubro de 2025 às 12h06.
Por Igor Maia* e Samuel Barros**
O setor de aviação executiva do Brasil é um dos maiores do mundo. Mesmo diante das oscilações recorrentes da economia brasileira, o setor tem sustentado um ritmo de expansão exponencial, com números que não deixam margem para dúvida
A cidade de São Paulo lidera o ranking global de frotas de helicópteros, com 411 aeronaves registradas, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil. No segmento de jatos, o Brasil ocupa a segunda posição mundial, com 1.103 aeronaves em operação de acordo com o levantamento da Airbus Corporate Jets de 2025, sendo superado apenas pelos Estados Unidos, considerado a maior potência da aviação mundial.
Enquanto diversos setores brasileiros enfrentam problemáticas crônicas e incontáveis obstáculos estruturais se acumulam no caminho do desenvolvimento, um setor tão sofisticado prospera e projeta o Brasil nos rankings globais.
É nesse sentido, diante de uma dissonância tão grande da realidade de outras parcelas da economia, que uma pergunta, outrora pertinente, se torna indispensável: o que faz, afinal, um país em desenvolvimento como o Brasil, marcado por tantos entraves políticos, instabilidades econômicas e ineficiências burocráticas, abrigar uma das maiores frotas de aviação executiva do mundo, superando economias tão mais ricas e consolidadas?
A resposta está diretamente relacionada aos problemas do Brasil. Em um país de dimensões continentais e com infraestrutura de transporte deficiente, o tempo se transforma no ativo mais escasso do alto escalão corporativo. A possibilidade de estar presente, física e estrategicamente, onde as decisões acontecem, não apenas otimiza agendas, ela encurta ciclos de negociação, acelera a execução de estratégias e torna palpável aquilo que a distância física costuma comprometer. Mesmo com o apoio da tecnologia tem decisões que só acontecem presencialmente.
A aviação executiva, portanto, não é luxo, é um elo logístico que sustenta a agilidade das grandes corporações. Ela integra polos econômicos, conecta centros decisórios a ativos operacionais em tempo real e permite que empresas respondam com mais velocidade a mudanças de mercado, crises e oportunidades.
Para ilustrar o impacto real que a aviação executiva pode ter em um cronograma corporativo, imagine um empresário de alto nível, morador do Rio de Janeiro, que precisa participar de duas reuniões estratégicas num certo dia da semana sendo uma em São Paulo, às 9h, e outra em Brasília, que terá início com sua chegada.
Sem o suporte da aviação executiva, sua jornada começa na noite do dia anterior, com deslocamento até o aeroporto, espera pelo voo, check-in no hotel, poucas horas de sono e pela manhã, trânsito intenso até a Faria Lima. Após a primeira reunião, ele retorna ao aeroporto, almoça por lá, aguarda o próximo voo disponível e segue para Brasília.
Lá, cumprindo o segundo compromisso e, sem opções de retorno imediato, só consegue voltar ao Rio na manhã do dia seguinte
Agora, com uma operação aérea dedicada, o mesmo empresário sai de casa às 7h30 do próprio dia das reuniões, embarca em um jato executivo no aeroporto próximo de sua residência, pousa em Congonhas às 8h40 e, em minutos, já está num helicóptero rumo ao heliponto do prédio, um dos mais de 260 da cidade de São Paulo.
Pontualmente, às 9h, ele está na sala de reuniões. Após 1h30 de negócios, retorna ao helicóptero, embarca novamente no jato e segue direto para Brasília. Tendo almoçado a bordo, chega ao destino às 13h10, participa da segunda reunião e, às 15h50, já está retornando ao Rio. Às 17h30, adianta uma reunião no escritório e, às 19h, está em casa, a tempo de jantar com a família, de tomar um banho e descansar para o dia seguinte.
De quase 40 horas para menos de 12. A diferença, contudo, não é apenas de tempo, é de controle, previsibilidade, eficiência e resultados reais.
É exatamente esse tipo de resultado que leva tantas centenas de empresários e outras pessoas com alto poder aquisitivo a optarem pela mobilidade aérea. Ainda que seja financeiramente mais dispendioso, essa estratégia economiza um ativo que não pode ser recuperado e cujo valor ultrapassa os limites de qualquer planilha, o tempo.
E no mundo dos negócios, quando decisões milionárias estão à distância de uma reunião ou de uma assinatura, o investimento em uma operação de aviação executiva, quando bem utilizada, proporciona retornos financeiros e impactos executivos em escala.
Ou seja, apesar do alto investimento necessário à aviação, os ganhos podem se manifestar em resultados, como contratos, parcerias, expansão territorial, decisões estratégicas aceleradas, com volume e impacto que não apenas compensam o custo da operação, mas que também alavancam resultados econômicos de maneira ampla e significativa, frequentemente se multiplicando em cifras que fazem o custo inicial se tornar marginal.
Ao eliminar horas mortas entre conexões, escalas e engarrafamentos, uma operação de mobilidade aérea dedicada não apenas devolve tempo ao empresário, ela reconfigura a lógica de produtividade no mais alto nível de decisão.
Num país como o Brasil, onde a geografia e os impasses logísticos desafiam a fluidez dos negócios, jatos e helicópteros não são apenas meios de transporte, e sim, são catalisadores estratégicos da economia real.
E em um nível empresarial em que a maioria dos competidores se utiliza dessa estratégia de deslocamento operacional, o que outrora se configurava como uma vantagem competitiva, hoje se consolida como um ativo indispensável para a sobrevivência das grandes corporações.
* Estudante de Administração do IBMEC e Diretor de Desenvolvimento de Negócios da Direct Brazil Aviation
** Professor de Finanças, Doutor em Administração e Reitor do Ibmec Rio de Janeiro