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Após 600 anos, peste negra voltou? O que se sabe sobre caso registrado da doença e possíveis riscos

Infecção transmitida por pulgas provocou uma pandemia na Europa medieval entre os anos 1347 e 1351 e matou dezenas de milhões

Pulga infectada com a bactéria da peste (CDC/Reprodução)

Pulga infectada com a bactéria da peste (CDC/Reprodução)

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 23 de agosto de 2025 às 10h59.

Última atualização em 23 de agosto de 2025 às 11h07.

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Autoridades de saúde da região da Sierra Nevada, na Califórnia, nos Estados Unidos, declararam recentemente que um morador foi diagnosticado com peste — uma infecção bacteriana extremamente rara, geralmente transmitida por picadas de pulgas.

Embora o caso ainda esteja sendo investigado, as autoridades acreditam que a pessoa, que já se encontra em recuperação em casa, pode ter sido picada enquanto acampava em South Lake Tahoe. A peste é tratável com antibióticos se detectada precocemente, mas sem tratamento adequado, pode se tornar uma condição grave, segundo informações do jornal norte-americano The New York Times.

A peste ainda existe?

Embora a maioria das pessoas associe a peste à pandemia medieval conhecida como peste negra, que matou milhões de pessoas na Europa, a bactéria Yersinia pestis ainda persiste e circula entre roedores e pulgas, que funcionam como reservatórios da infecção. Isso torna a erradicação da doença praticamente impossível.

Especialistas acreditam que a peste foi trazida aos Estados Unidos em 1900, quando navios infestados por ratos chegaram a cidades portuárias. A doença se espalhou periodicamente em áreas urbanas em rápido crescimento, como Los Angeles na década de 1920, que tinha grande concentração de ratos. Hoje, os casos são raros e ocorrem principalmente em áreas rurais, onde as pessoas têm maior contato com roedores selvagens.

Como a peste se espalha e causa a doença?

A peste é causada pela bactéria Yersinia pestis. A infecção pode ocorrer quando uma pessoa é picada por pulgas contaminadas de roedores, como esquilos, tatus ou furões. Também é possível contrair a doença ao manipular animais infectados, por exemplo, ao caçar ou preparar suas carcaças. Animais de estimação, especialmente gatos, podem ser infectados ao caçar ou brincar com roedores doentes.

Existem três formas principais de peste, explica Edward Jones-Lopez, especialista em doenças infecciosas da Keck Medicine, da Universidade do Sul da Califórnia. A mais comum é a peste bubônica, em que a bactéria se multiplica nos gânglios linfáticos próximos à picada da pulga, causando inflamação. A peste septicêmica ocorre quando a infecção se espalha para a corrente sanguínea, enquanto a peste pneumônica afeta os pulmões.

A transmissão entre pessoas só ocorre no caso da peste pneumônica, quando a infecção é transmitida por gotículas expelidas ao tossir ou espirrar. Contudo, casos de transmissão entre humanos não são registrados nos Estados Unidos há mais de um século, embora tenha ocorrido em veterinários e donos de animais expostos a gatos infectados.

Quais são os sintomas e o tratamento?

Os sintomas geralmente aparecem dentro de duas semanas após a exposição e incluem febre, náusea, fraqueza e inchaço dos gânglios linfáticos. Se houver suspeita de infecção, o médico pode coletar amostras de sangue ou de um linfonodo inchado para exames laboratoriais.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) recomenda iniciar o tratamento com antibióticos imediatamente, mesmo antes dos resultados dos exames, devido ao risco de complicações graves se a peste não for tratada a tempo. No mês passado, um homem morreu em decorrência da doença no Arizona.

A situação é grave?

Embora a peste continue sendo extremamente rara nos Estados Unidos, com uma média de sete casos por ano, os especialistas destacam que ela ocorre principalmente em estados do Oeste, como Califórnia, Arizona e Novo México. No Brasil, o último caso de peste humana foi registrado em 2005, no município de Pedra Branca, no Ceará, de acordo com informações do Ministério da Saúde.

No condado de El Dorado, que inclui South Lake Tahoe, não houve casos desde 2020. O Departamento de Saúde Pública da Califórnia, que monitora a presença da bactéria em roedores, detectou a Yersinia pestis em apenas 45 esquilos e tâmias desde 2021, todos na região da Bacia de Tahoe.

"O risco é extremamente baixo", afirma Jones-Lopez. "Em termos de saúde, você tem muito mais chances de se deparar com outras doenças, como o sarampo, por exemplo."

Como posso evitar o contágio?

Para aqueles que acampam ou fazem trilhas em áreas com roedores selvagens, as autoridades de saúde recomendam cautela. Deve-se evitar tocar ou alimentar os animais e manter os pets com coleiras, para impedir que se aproximem de tocas.

Além disso, é importante prevenir as picadas de pulgas, usando calças longas presas dentro das botas e aplicando repelente com DEET nas meias. Também é aconselhável usar produtos de controle de pulgas nos animais de estimação, para proteger tanto os animais quanto seus donos.

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