Baleia Jubarte (Jonathan Wilkins/Wikimedia Commons)
Redação Exame
Publicado em 23 de julho de 2025 às 11h14.
Observar baleias-jubarte nas águas antárticas vai além de simples encontros com esses gigantes do oceano — é uma oportunidade de desvendar as histórias desses cetáceos e entender como eles se adaptaram ao longo do tempo.
Nos últimos 20 anos, a população de baleias-jubarte nessa região tem se recuperado de maneira impressionante, após décadas de quase extinção causadas pela caça comercial, iniciando um processo de renascimento que ocorre em paralelo com avanços tecnológicos e esforços colaborativos sem precedentes na pesquisa marinha.
Um dos maiores desafios para a conservação e estudo desses animais tem sido a identificação precisa de cada indivíduo. Para isso, os cientistas se utilizam de uma característica única das jubartes: suas flacas — as enormes “caudas” que as baleias exibem durante o mergulho.
Assim como as impressões digitais humanas, as flacas apresentam padrões distintos, incluindo a forma das bordas, pigmentações únicas, cicatrizes de encontros com orcas ou redes de pesca, e a presença de cracas.
Esses detalhes permitem identificar cada baleia e reconstruir sua história, comportamentos e movimentos ao longo do tempo, oferecendo uma visão mais detalhada sobre sua vida.
Esse método inovador ganhou força com o uso de fotografia, inteligência artificial e o envolvimento do público, amplificado por plataformas como a Happywhale.
Lançada por pesquisadores como o ecologista marinho Ted Cheeseman e apoiada por laboratórios renomados, a plataforma convida turistas, pesquisadores e entusiastas a enviar imagens das flacas que avistaram.
Essas fotos são então comparadas automaticamente com um banco de dados global, que contém mais de 112 mil indivíduos identificados.
Algoritmos treinados ajudam no reconhecimento, mesmo quando as cicatrizes desaparecem ou a pigmentação muda ao longo dos anos, garantindo um monitoramento contínuo e preciso.
Além disso, o processo conta com seleção humana, o que preserva a integridade dos dados e mantém o vínculo íntimo entre o observador e a baleia, promovendo a chamada “ciência cidadã”.
Essa conexão emocional tem sido crucial para engajar o público e fomentar um sentimento de responsabilidade para com esses animais, que enfrentam ameaças constantes, como colisões com embarcações, mudanças climáticas, alterações nas cadeias alimentares e a poluição sonora dos oceanos.
O trabalho conjunto entre tecnologia, ciência tradicional e participação pública transformou o estudo das baleias-jubarte de uma abstração distante para uma experiência concreta e humana. Conhecer cada baleia como um indivíduo possibilita entender como fatores ambientais específicos afetam populações e gerações — informações cruciais para o desenvolvimento de estratégias de conservação.
Em especial, as águas da Antártida, cenário desses estudos, se destacam por serem uma das últimas “fronteiras selvagens” do planeta, com um equilíbrio ecológico delicado e de importância global. Com parcerias entre universidades, instituições científicas e empresas de expedição como a Quark Expeditions, pesquisadores retornam regularmente à região para ampliar o conhecimento sobre a migração, o comportamento e a saúde dos mamíferos marinhos.