Ciência

Briga entre Elon Musk e Donald Trump ultrapassa os EUA e chega em nova área: o espaço

O homem mais rico do mundo e o presidente dos EUA brigam nas redes sociais e Musk ameaça descomissionar a Crew Dragon, uma das principais espaçonaves da SpaceX em missões com a Nasa

Trump e Musk: briga entre magnatas chega à Nasa (Chris Unger/Reprodução)

Trump e Musk: briga entre magnatas chega à Nasa (Chris Unger/Reprodução)

Publicado em 5 de junho de 2025 às 17h38.

Última atualização em 5 de junho de 2025 às 17h48.

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Em mais um capítulo do divórcio entre Donald Trump e Elon Musk, o bilionário fundador da SpaceX agora ameaçou descomissionar a nave Crew Dragon usada em parceria com a Nasa para missões espaciais governamentais.

Em seu perfil no X (antigo Twitter), Musk disse que "à luz da declaração do Presidente sobre o cancelamento dos meus contratos governamentais, @SpaceX começará a descomissionar a sua nave espacial Dragon imediatamente".

A ameaça vem em meio a um aumento nas tensões entre o homem mais rico do mundo e o presidente americano após a saída de Musk do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês).

A parceria entre a SpaceX e a Nasa teve marcos históricos desde sua assinatura, com a Nasa escolhendo a SpaceX como uma das primeiras empresas privadas a colaborar para missões de transporte para a Estação Espacial Internacional (ISS) sob o programa Commercial Orbital Transportation Services (COTS), iniciado em 2006.

A partir de 2020, a SpaceX começou o desenvolvimento de sua cápsula Dragon, que logo se tornaria a primeira espaçonave de uma empresa privada a realizar missões comerciais para o governo dos Estados Unidos.

Missões e contratos da SpaceX com a Nasa

Em 2020, durante o primeiro mandato de Trump, a SpaceX completou uma série de missões fundamentais com sua espaçonave Dragon, consolidando-se como uma parceira essencial da Nasa e marcando um avanço significativo para os voos comerciais no espaço.

No dia 30 de maio de 2020, a SpaceX lançou a missão Crew Dragon Demo-2, o primeiro voo tripulado da cápsula Dragon 2. A missão transportou astronautas da Nasa para a Estação Espacial Internacional (ISS), restaurando a capacidade dos EUA de lançar astronautas do solo americano, algo que não acontecia desde a aposentadoria do programa Space Shuttle, em 2011. A missão foi parte do programa Nasa Commercial Crew, que visava o desenvolvimento de sistemas privados para o transporte de tripulantes à ISS.

Poucos meses depois, em 6 de dezembro de 2020, a SpaceX executou a missão Cargo Dragon CRS-21, a primeira sob o segundo contrato da Nasa no programa Commercial Resupply Services (CRS). A versão atualizada da cápsula Cargo Dragon trouxe melhorias significativas, como o acoplamento autônomo com a ISS, eliminando a necessidade do braço robótico usado nas versões anteriores, reforçando ainda mais a confiabilidade da SpaceX no fornecimento de transporte para a Nasa.

Além disso, 2020 marcou o fim da primeira geração da cápsula Dragon. A SpaceX completou sua última missão com o modelo Dragon 1, na missão CRS-20, que entregou suprimentos à ISS e trouxe de volta experimentos científicos para a Terra, encerrando o ciclo de operações da versão inicial da espaçonave.

Ainda em 2020, a Nasa fez história ao certificar oficialmente os foguetes Falcon 9 e as cápsulas Crew Dragon, tornando-os a primeira opção comercial para missões tripuladas regulares à ISS.

Contrato bilionário

A parceria entre a SpaceX e a Nasa também gerou significativos retornos financeiros.

Desde o contrato inicial, a SpaceX recebeu cerca de US$ 3,1 bilhões para o desenvolvimento da cápsula Crew Dragon, incluindo o período de 2020, quando os voos tripulados começaram. O contrato do programa Commercial Crew foi responsável por aproximadamente US$ 2,6 bilhões dessa quantia, cobrindo o desenvolvimento e certificação da Crew Dragon, além de várias missões tripuladas para a ISS.

A SpaceX também gerou receitas consideráveis com seus lançamentos. Estima-se que cada lançamento do foguete Falcon 9 gere cerca de US$ 62 milhões, com missões tripuladas em um patamar ainda mais alto.

Nos últimos anos, três missões tripuladas geraram cerca de US$ 780 milhões em receita. No total, os contratos da Nasa com a SpaceX para missões de carga e tripulação em 2020 provavelmente trouxeram à empresa receitas que variam de centenas de milhões a mais de US$ 1 bilhão, dentro de acordos multibilionários e de vários anos, embora os números não sejam oficiais, já que a SpaceX não é uma empresa aberta.

Uma briga de gigantes

Segundo o Wall Street Journal, um funcionário do alto escalão da Casa Branca afirmou que o presidente não entendeu por que o bilionário intensificou os ataques mesmo após meses de colaboração direta no governo.

A decisão recente de retirar a indicação de Jared Isaacman, aliado de Musk, para chefiar a Nasa também teria aumentado o atrito. Musk teria se queixado a pessoas próximas de ter investido “centenas de milhões” para apoiar Trump na eleição, e em troca viu seu indicado ser descartado, segundo pessoas com conhecimento direto do assunto.

O histórico de colaboração entre os dois inclui a atuação de Musk como conselheiro informal da Casa Branca e sua liderança no Departamento de Eficiência Governamental (Doge).

Ao se despedir do cargo, foi homenageado por Trump no Salão Oval, em uma cerimônia descrita como calorosa. Mas, segundo o WSJ, divergências vêm se acumulando nos bastidores, especialmente em relação à política comercial da gestão e, agora, ao megaprojeto fiscal e ao espaço.

O impacto da ameaça de Musk

A ameaça de Musk de descomissionar a Crew Dragon levanta questões sobre o futuro da colaboração entre a SpaceX e a Nasa, especialmente considerando que a SpaceX continua sob rigorosos contratos com a agência espacial para missões comerciais de transporte de carga e tripulação.

Musk tem controle operacional sobre a empresa, mas qualquer alteração nesse acordo precisaria de discussões com a Nasa e o cumprimento de obrigações contratuais com a agência espacial.

Sonho virou pesadelo?

A crescente tensão entre Trump e Musk pode se transformar em um pesadelo para o presidente dos Estados Unidos, afetando não só sua imagem, mas também a dinâmica política e econômica que ele construiu. A relação entre os dois gigantes passou de um apoio mútuo a um confronto aberto, com consequências que podem prejudicar a agenda de Trump, especialmente no Congresso e no cenário eleitoral.

Primeiramente, a perda do apoio de Musk, um dos empresários mais influentes do país, pode enfraquecer a base de apoio que Trump mantém entre figuras do setor privado e do Partido Republicano. Musk, que tem uma grande influência na indústria de tecnologia e energia, tem sido visto como um dos maiores aliados de Trump, especialmente por suas contribuições em áreas como a exploração espacial e a mobilidade elétrica. No entanto, o recente afastamento de Musk da Casa Branca, impulsionado por desacordos sobre políticas fiscais e comerciais, pode afastar aliados estratégicos e enfraquecer o respaldo de importantes financiadores.

Além disso, Musk tem o poder de influenciar o debate político, especialmente entre os republicanos. Sua crítica ao One Big Beautiful Bill, que envolve cortes de impostos e aumento de gastos, ressoou com uma parcela do partido que já questiona a eficácia e as prioridades da proposta de Trump. Com sua voz ativa no Partido Republicano, Musk pode galvanizar a oposição interna e tornar a proposta fiscal mais difícil de passar no Senado, onde até pequenas dissidências republicanas podem prejudicar o avanço da medida.

Por fim, a quebra de relações com Musk também pode ter implicações para o futuro de Trump na corrida eleitoral. Musk, com sua capacidade de mobilizar recursos e apoio, é um aliado valioso em uma campanha presidencial. A deterioração dessa aliança pode prejudicar a imagem de Trump como líder de negócios, especialmente quando muitos de seus eleitores o veem como alguém que defende os interesses do setor privado. Além disso, Musk ainda é uma figura de destaque entre aqueles que apoiam a inovação tecnológica e a independência econômica, e seu afastamento pode gerar um impacto negativo nas eleições, ao afastar um eleitorado jovem e progressista, mesmo que com visões mais liberais.

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