Ciência

Chocolate amargo é realmente mais saudável? Saiba o que dizem cientistas

Embora promissores, os benefícios do chocolate amargo para a saúde ainda precisam de mais estudos; entenda

Chocolate: benefícios comprovados, mas a moderação é essencial (Flavio Coelho/Getty Images)

Chocolate: benefícios comprovados, mas a moderação é essencial (Flavio Coelho/Getty Images)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 10 de outubro de 2025 às 08h41.

Há anos, o chocolate amargo, especialmente com 70% de cacau ou mais, é visto como um alimento com potenciais benefícios para a saúde, como a redução da pressão arterial, a prevenção de doenças cardíacas e até melhorias cognitivas.

O alto teor de flavonoides, compostos antioxidantes presentes no cacau, é frequentemente apontado como responsável por essas propriedades. Mas, segundo diversos estudos científicos que investigaram os efeitos do chocolate amargo na saúde, os resultados, embora promissores, não são tão conclusivos quanto sugerido pelas campanhas publicitárias e pelo senso comum.

A resposta sobre o chocolate amargo varia dependendo do tipo de estudo. Ensaios clínicos randomizados, considerados o padrão-ouro da pesquisa científica, têm fornecido evidências mistas.

Um exemplo é o estudo COSMOS (Cocoa Supplement and Multivitamin Outcomes Study), realizado nos Estados Unidos entre 2015 e 2024, que acompanhou mais de 21 mil pessoas com 60 anos ou mais e avaliou os efeitos do consumo de suplementos diários de flavonoides de cacau.

Os resultados mostraram uma redução de 27% nas mortes por doenças cardiovasculares, mas não houve impacto significativo em novos casos de diabetes, doenças circulatórias graves ou declínio cognitivo, segundo a pesquisa. O estudo demonstrou que, embora haja benefícios para a saúde cardiovascular, os efeitos do chocolate amargo podem ser mais limitados do que a percepção popular sugere.

Outro estudo publicado no British Medical Journal (BMJ) em 2017 concluiu que o consumo regular de chocolate amargo, consumido três vezes por semana, pode reduzir o risco de doenças cardíacas em até 9%.

O efeito é atribuído principalmente à presença de flavonoides, compostos que melhoram a função vascular e reduzem a pressão arterial. As descobertas, contudo, são baseadas em dados observacionais e não em ensaios clínicos randomizados, o que implica que a correlação entre chocolate amargo e redução de risco cardiovascular não necessariamente implica causalidade.

E as diabetes?

Pesquisas recentes têm sugerido que o chocolate amargo pode ajudar a prevenir o diabetes tipo 2.

Um estudo feito por pesquisadores de Harvard, que acompanhou 192 mil pessoas ao longo de mais de 30 anos, encontrou uma redução de 21% no risco de diabetes tipo 2 em indivíduos que consumiam chocolate amargo regularmente, com pelo menos cinco porções por semana.

O mecanismo por trás disso é atribuído ao efeito dos flavonoides sobre a sensibilidade à insulina, o que ajuda a reduzir a resistência à insulina, um dos principais fatores de risco para o diabetes tipo 2.

Entretanto, os cientistas afirmam que os efeitos protetores do chocolate amargo dependem da qualidade do produto. Chocolate amargo de alta qualidade, com baixo teor de açúcar e gordura, pode trazer benefícios. Por outro lado, versões de baixo custo, com maior quantidade de açúcar e gordura saturada, podem ter efeitos bem diferentes, anulando os benefícios para a saúde.

Impacto cognitivo

Além dos benefícios cardiovasculares e metabólicos, o chocolate amargo também é relacionado à melhora da função cerebral.

Um estudo publicado no Frontiers in Nutrition em 2020 demonstrou que o consumo de chocolate amargo 70% aumentou a memória episódica verbal em até duas horas após a ingestão. Outros estudos, como os realizados na University of Exeter, mostraram que o consumo regular de chocolate amargo pode aumentar o volume da massa cinzenta no cérebro, melhorando o processamento cognitivo e a memória.

Os efeitos são atribuídos aos flavonoides e à teobromina, compostos que ajudam a aumentar o fluxo sanguíneo cerebral, o que pode promover melhorias na função cognitiva.

Apesar da boa notícia, esses benefícios ainda precisam ser mais bem explorados. Embora os estudos iniciais mostrem resultados promissores, os cientistas afirmam que é necessário mais tempo de pesquisa para verificar os efeitos a longo prazo do consumo regular de chocolate amargo na saúde cognitiva.

Os riscos do excesso

Embora o chocolate amargo tenha benefícios comprovados para a saúde, o consumo excessivo pode trazer riscos. Uma das principais preocupações está no alto conteúdo calórico e na quantidade de açúcar e gordura saturada, especialmente nas versões comerciais de chocolate amargo.

O consumo excessivo pode levar ao ganho de peso, o que, por sua vez, aumenta o risco de doenças cardíacas e outros problemas de saúde.

Além disso, um estudo da Consumer Reports revelou que 23 das 28 barras de chocolate amargo testadas continham níveis preocupantes de cádmio e chumbo, metais pesados que, quando ingeridos em abundância, podem causar danos ao sistema nervoso, ao fígado e aos rins.

Outro risco associado ao consumo excessivo de chocolate amargo é o potencial efeito estimulante devido à presença de cafeína e teobromina, que podem causar insônia, ansiedade ou até dores de cabeça em pessoas sensíveis.

Acompanhe tudo sobre:Chocolateexame.core

Mais de Ciência

Dietas podem ter o mesmo efeito que Ozempic para emagrecer?

Bolsa encantada da Hermione existe? O Nobel mostra uma arquitetura molecular que parece mágica

Nobel 2025: brasileiro pode conquistar o prêmio de Literatura pela 1ª vez; saiba quem é

Quem foi a matemática chamada de gênio por Albert Einstein