Agência
Publicado em 5 de junho de 2025 às 14h47.
Última atualização em 5 de junho de 2025 às 14h54.
Cientistas chineses confirmaram, por meio de análises de genética molecular, que o sítio arqueológico de Fujia, em Guangrao, província de Shandong, abrigava uma sociedade composta por dois clãs matrilineares entre 4.750 e 4.500 anos atrás.
A descoberta, publicada em 4 de junho na revista Nature, representa a primeira evidência empírica de uma estrutura social matrilinear na era Neolítica da China. O estudo foi conduzido por equipes do Instituto Provincial de Relíquias Culturais e Arqueologia de Shandong e da Universidade de Pequim.
Segundo Sun Bo, diretor do instituto em Shandong, a evidência genética oferece um contraponto direto e localizado às teorias sobre sociedades matrilineares formuladas por Morgan e Engels. Já Ning Chao, da Escola de Arqueologia e Museologia da Universidade de Pequim, afirmou que, até então, todas as evidências de DNA antigo apontavam para estruturas sociais patrilineares em contextos pré-históricos. As pistas mais antigas sobre linhagens matrilineares eram restritas à Idade do Ferro europeia.
No sítio de Fujia, os arqueólogos identificaram dois agrupamentos de sepulturas em áreas distintas do local. As análises genéticas mostraram que a divisão espacial das tumbas correspondia a padrões hereditários maternos. A equipe encontrou múltiplos vínculos genéticos de primeiro a terceiro grau dentro dos cemitérios, além de uma relação de segundo grau entre indivíduos enterrados em regiões opostas, o que indica práticas funerárias com base na linhagem materna.
Huang Yanyi, do Centro de Inovação em Fronteiras Biomédicas da Universidade de Pequim, destacou que o DNA mitocondrial, herdado exclusivamente da mãe, era idêntico entre os membros de cada grupo. A presença de dois padrões distintos desse DNA indica a existência de dois clãs maternos separados.
Ning Chao também apontou uma rede densa de relações de quarto a sexto grau entre e dentro dos cemitérios. Os dois grupos mantiveram laços de casamento e convivência por pelo menos 250 anos. A escala do sítio e a organização dos sepultamentos reforçam a hipótese de uma estrutura social com base em clãs matrilineares.
Zhang Hai, também da Universidade de Pequim, explicou que a equipe utilizou técnicas avançadas de análise de DNA antigo e integração de dados arqueológicos para mapear a estrutura social. O estudo revelou informações sobre o tamanho da população, as estratégias de subsistência e o nível de produtividade das comunidades da região costeira do baixo Rio Amarelo, contribuindo para a compreensão das sociedades clânicas na pré-história.