Ciência

Carl Sagan: cientista com mais de 600 artigos publicados trocou vida pessoal pela carreira

Durante décadas, Sagan conciliou pesquisas astronômicas, produção literária, programas de TV e aulas em Cornell University sem abrir espaço para lazer ou hobbies pessoais

Carl Sagan: cientista focava no trabalho e não tinha tempo para lazer (CBS Photo Archive / Colaborador/Getty Images)

Carl Sagan: cientista focava no trabalho e não tinha tempo para lazer (CBS Photo Archive / Colaborador/Getty Images)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 2 de novembro de 2025 às 10h29.

Última atualização em 2 de novembro de 2025 às 12h01.

A rotina de Carl Sagan, um dos mais célebres divulgadores científicos do século XX, combinava trabalho intenso, métodos nada convencionais e uma dedicação quase exclusiva à ciência e à comunicação pública do conhecimento.

Durante décadas, ele conciliou pesquisas astronômicas, produção literária, programas de TV e aulas em Cornell University sem abrir espaço para lazer ou hobbies pessoais.

Gravadores no bolso e prosa ditada

Sagan raramente digitava ou escrevia à mão. Em vez disso, o cientista andava com dois gravadores de fita cassete, ditando textos diferentes: um voltado para pesquisas científicas e outro para artigos, livros, cartas pessoais e colunas de revista.

A prática era feita em qualquer lugar — inclusive caminhando pela praia — e rendia o equivalente a quatro ou cinco quilos de transcrições por dia, segundo a esposa de Sagan, Ann Druyan.

As fitas eram entregues a uma equipe de transcritores em seu escritório na Universidade Cornell, que depois imprimia os textos para que Sagan os revisasse à mão, com marcações e ajustes intensos. O livro Pale Blue Dot passou por vinte versões completas antes da publicação.

Druyan dizia que Sagan ditava com uma clareza impressionante, criando parágrafos que poderiam ser "esculpidos em mármore". Colegas descreviam a fala de Sagan como já moldada em estilo literário.

Na universidade e fora dela

Carl Sagan foi professor em Cornell de 1968 até sua morte, em 1996, onde atuou como diretor do Laboratório de Estudos Planetários. Mesmo com o prestígio do cargo, financiava parte da equipe e da estrutura de seu laboratório com recursos próprios — mais do que o salário que recebia da universidade.

Suas palestras públicas também seguiam um padrão fora do comum: Sagan falava por até uma hora usando apenas um pequeno cartão com três ou quatro palavras-chave. Todo o conteúdo era desenvolvido de forma espontânea, com fluidez e precisão admiradas por acadêmicos e leigos.

Sem hobbies, só ciência

Segundo biógrafos, Sagan praticamente abdicou da vida pessoal em nome do trabalho.

Não acompanhava esportes, não tinha atividades artísticas, não cozinhava, não via filmes e não tocava instrumento.

Até seus casamentos foram impactados pela carga de trabalho: duas de suas ex-esposas mencionaram a dificuldade de conviver com sua dedicação quase exclusiva à carreira científica.

Em compensação, mantinha uma agenda pública ativa, aparecendo 26 vezes no The Tonight Show Starring Johnny Carson ao longo de 13 anos. Sagan considerava a televisão um meio poderoso para ensinar ciência e não hesitava em priorizar esses convites, mesmo com prazos acadêmicos apertados.

Uma mente em atividade contínua

Os arquivos de Sagan na Biblioteca do Congresso revelam uma produção intelectual constante. Há rascunhos em envelopes, listas de tarefas incompletas, ideias de livros infantis e fragmentos de projetos espalhados por centenas de documentos. Em momentos de descanso, sua mente seguia projetando novas formas de explicar o universo.

Ao longo da carreira, Carl Sagan escreveu ou coescreveu mais de 20 livros, publicou 600 artigos científicos e liderou programas como a série Cosmos, vista por mais de 500 milhões de pessoas.

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