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Como este parasita destrói células humanas — e usa restos para se esconder

Pesquisadores revelam como o parasita consegue se esconder do sistema imunológico e propõem novas abordagens para combatê-lo

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 13 de maio de 2025 às 07h29.

A Entamoeba histolytica, um parasita microscópico que chega ao corpo humano através de alimentos e água contaminados, é uma das maiores ameaças à saúde pública global, infectando cerca de 50 milhões de pessoas por ano.

Embora a maioria dos casos resulte apenas em diarreia, entre 50.000 e 100.000 pessoas não sobrevivem a essa infecção, que pode evoluir para complicações graves e fatais, com o parasita causando danos aos órgãos internos, como o fígado, os pulmões e o cérebro. Durante décadas, cientistas ficaram perplexos tentando entender como esse parasita conseguia escapar do sistema imunológico humano e continuar sua destruição.

Recentemente, um avanço significativo foi feito por uma equipe de pesquisadores liderada pela microbiologista Katherine Ralston, da Universidade da Califórnia, Davis. Em um estudo publicado na revista Trends in Parasitology, a equipe revelou o truque mortal de E. histolytica: o parasita se disfarça ao se cobrir com partes de células humanas mortas, criando uma camuflagem que impede o sistema imunológico de reconhecê-lo e destruí-lo.

A estratégia do parasita

Katherine Ralston, que iniciou sua pesquisa sobre E. histolytica durante seu pós-doutorado em 2011, tem se dedicado a entender como o parasita sobrevive e se propaga no corpo humano. Em suas primeiras observações, ela percebeu que o parasita não devora as células humanas, mas as "morde" e deixa os pedaços danificados para que seus conteúdos vazem, permitindo ao parasita se deslocar rapidamente para o próximo alvo. Essa estratégia lhe conferiu o nome histolytica, que significa "dissolvedor de tecido".

Em 2022, Ralston fez uma descoberta ainda mais importante: E. histolytica desenvolve uma habilidade rara de se esconder de uma parte essencial do sistema imunológico, os complementos, proteínas que ajudam a identificar e destruir células invasoras. Para escapar dessa defesa, o parasita incorpora proteínas das células humanas em sua própria membrana, o que lhe permite se camuflar e evitar a detecção pelo sistema imunológico.

O desafio genético

Apesar dessa descoberta, o estudo completo de E. histolytica ainda se mostrava um desafio devido à complexidade de seu genoma. O sequenciamento genético do parasita foi realizado em 2005, mas a análise das informações genéticas levou muitos anos para ser concluída. Em 2013, pesquisadores identificaram um processo celular que permite ao parasita controlar sua expressão genética, conhecido como RNA de interferência (RNAi). Esse processo ajuda o parasita a se adaptar rapidamente ao ambiente do hospedeiro e a regular sua resposta imunológica.

Foi apenas recentemente que Ralston e sua equipe conseguiram usar a tecnologia de edição genética CRISPR em conjunto com uma biblioteca de RNAi para analisar os genes do parasita de forma mais detalhada. Essa abordagem permite aos cientistas monitorar a interação do parasita com proteínas específicas e descobrir quais genes são cruciais para sua capacidade de se esconder e se proliferar no corpo humano.

O plano de combate

Com essa nova ferramenta, os pesquisadores estão mais próximos de criar tratamentos eficazes para controlar as infecções causadas por E. histolytica. O estudo mais recente propõe o uso de CRISPR e RNAi para marcar proteínas do parasita com indicadores fluorescentes. Isso permitirá aos cientistas observar em tempo real como o parasita se comporta e quais mecanismos ele usa para se proteger contra o sistema imunológico. A partir dessas observações, os pesquisadores poderão identificar alvos específicos para novos medicamentos e terapias.

Wesley Huang, coautor do estudo, expressou otimismo sobre os próximos passos na luta contra o parasita. "Estamos começando a ver um caminho claro para o futuro. Acreditamos que podemos alcançar uma solução eficaz", disse Huang.

Ralston conclui dizendo que a ciência é um processo contínuo de construção, onde cada avanço serve de base para o próximo. Com as ferramentas agora disponíveis, os pesquisadores estão mais próximos de desenvolver vacinas e tratamentos que podem salvar milhares de vidas a cada ano, ao impedir a destruição causada por Entamoeba histolytica.

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