Ciência

'É um pesadelo sem fim': conheça pior dor do mundo, que pode levar brasileira à eutanásia

A neuralgia do trigêmeo, que afeta 0,3% da população mundial, é considerada pela medicina como a dor mais aguda que um ser humano pode sentir

Neuralgia do trigêmeo: conheça a pior dor do mundo (Divulgação/ Instagram/ Carolina Arruda)

Neuralgia do trigêmeo: conheça a pior dor do mundo (Divulgação/ Instagram/ Carolina Arruda)

Luiza Vilela
Luiza Vilela

Repórter de POP

Publicado em 15 de agosto de 2025 às 13h39.

Última atualização em 15 de agosto de 2025 às 13h56.

Pedra no rim, parto natural e quebra de ossos estão entre as doenças e experiências mais dolorosas dos seres humanos. Mas estão distantes de quem tem a neuralgia do trigêmeo, frequentemente descrita como a pior dor do mundo, condição que afeta a influenciadora brasileira Carolina Arruda.

A condição, também conhecida como "tique doloroso", afeta o nervo trigêmeo — responsável pela sensibilidade da face — e causa dores intensas, descritas como choques elétricos ou pontadas. A dor é súbita e pode levar à resistência aos medicamentos de dor, como morfina, afetando a qualidade de vida do paciente.

"A dor continua implacável, todos os dias e o dia inteiro, sem parar por um segundo. É uma tortura invisível, basicamente. É quase ser sorteada por uma loteria do azar, que te dá de prêmio uma dor crônica que é considerada pela medicina a maior dor do mundo. Chegar nesse ponto é desesperador. Saber que seu próprio cérebro virou uma máquina de fabricar uma dor sem fim... Eu só queria ter um pouco de paz", disse a influenciadora em um vídeo publicado recentemente em suas redes sociais.

Pelo potencial debilitante, a neuralgia do trigêmeo também é conhecida como "dor do suicídio" — posto que leva pessoas a procurarem pela eutanásia. É o caso de Carolina Arruda, que montou em 2024 uma vaquinha online para passar pela morte assistida na Suíça. Ao todo, ela já passou por seis cirurgias para diminuir a dor. Até agora, nenhuma delas solucionou o problema.

@caarrudar

Essa vai ser minha realidade no mês que vem… Depois de 6 cirurgias no cérebro, sem resultado… depois de anos sofrendo com a pior dor que um ser humano pode sentir… minha última esperança agora é ser colocada em coma induzido, entubada, sem consciência, pra ver se meu cérebro ‘reinicia’ e volta a responder aos remédios. A Neuralgia do Trigêmeo já é uma das doenças mais raras e cruéis do mundo. Menos de 0,3% da população tem. A minha forma — bilateral, dos dois lados do rosto — é ainda mais rara. E a dor? Ela nunca some. Nem dormindo. Nem de olhos fechados. Nem com remédio. Nem abrindo o crânio. É cruel demais ter que aceitar ser colocada em coma só pra tentar escapar desse sofrimento por alguns dias… mas quando se vive com uma dor que nunca desliga, qualquer chance de paz já parece um alívio. Mesmo que seja assim: apagando tudo por um tempo. 💔 neuralgneuralgiadotrigemeogneuralgiadotrigêmeoamastigacaodolorosandorcronicasdoençasrarasldorrealiminhahistoriafdesabafouautoimuneesaudementalncarolinaarrudaahospitalecrisededoredorarealidadeavidarealiespondiliteanquilosanteebombademorfinail #comainduzido #cerebro #coma

♬ som original - Carolina Arruda

O que é a neuralgia do trigêmeo?

No total, cerca de 0,3% da população mundial sofre com a neuralgia do trigêmeo, que pode afetar um ou os dois lados do rosto.

A doença é um distúrbio do nervo trigêmeo, que pode ser causado pela compressão do nervo por um vaso sanguíneo ou por condições como esclerose múltipla, tumores ou malformações vasculares. O nervo trigêmeo é um dos principais nervos cranianos, responsável por sensações faciais e pela musculatura de mastigação, distribuído por três ramos: área frontal (olhos e nariz), maxilar e mandíbula.

A dor associada à neuralgia do trigêmeo ocorre de forma repentina e intensa, e pode durar de alguns segundos a minutos, mas é extremamente dolorosa. É caracterizada por fisgadas, choques ou pontadas repetitivas que atingem geralmente um dos lados do rosto, e pode ser tão forte que a pessoa precisa interromper as atividades imediatamente.

Ela pode ser desencadeada por atividades do dia a dia, como falar, mastigar, escovar os dentes, sorrir, receber vento na face, colocar algo quente ou frio na boca, entre outros gestos simples.

Em alguns casos, a dor pode ser recorrente ou até crônica, como é o caso de Carolina Arruda.

Qual é o tratamento para a neuralgia do trigêmeo?

Atualmente, a neuralgia do trigêmeo não tem cura. O tratamento visa aliviar a dor e melhorar a qualidade de vida do paciente com o uso medicamentos, como anticonvulsivantes ou analgésicos. No entanto, se os remédios não forem eficazes ou causarem efeitos colaterais intoleráveis, existem outras opções, incluindo procedimentos cirúrgicos — muito embora eles também não garantam a cura.

Os procedimentos podem incluir a remoção da compressão vascular, que afeta o nervo trigêmeo, ou a retirada de zonas de gatilho que desencadeiam as crises.

Até conseguir o dinheiro necessário para a eutanásia na Suíça, Carolina Arruda passará por mais algumas cirurgias e tratamentos para tentar reverter as dores. Na última quarta-feira, 13, ela foi internada para uma nova fase do tratamento no âmbito de um programa de especialização médica do Sistema Único de Saúde (SUS).

Por lá, fará uma cirurgia para reposicionamento do neuroestimulador — uma maneira de reduzir a percepção da dor —, reabastecimento da bomba de infusão de medicamentos, crioablação para "congelar" o nervo e infusão de cetamina e outros adjuvantes, que culminam em um "coma induzido" pelo período de três a cinco dias.

"Imagina ser colocada em coma induzido, intubada, sedada, inconsciente por dias, não porque você sofreu um acidente grave. Não porque seu corpo não aguenta mais, mas porque a dor que você sente é tão absurda, tão desumana, que nem os remédios mais fortes do mundo funcionam mais", disse Arruda em um vídeo recente publicado em suas redes sociais. "Essa vai ser uma medida paliativa tentada pelos médicos porque já não tem mais o que fazer. É um jeito desesperado de tentar desligar e religar o meu cérebro, para ver se dá para escapar desse pesadelo que parece não ter fim".

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