Redação Exame
Publicado em 30 de maio de 2025 às 09h14.
Última atualização em 30 de maio de 2025 às 09h15.
Um animal marinho é capaz de viver 11 mil anos, segundo pesquisas científicas, e pode ultrapassar 2 metros de comprimento, apesar de ter somente um centímetro de espessura.
É o caso da Monorhaphis chuni, uma esponja-do-mar peculiar encontrada em ambientes oceânicos profundos, como o Mar da China Oriental e a Antártida.
O animal foi descoberto em 1986, durante operações de dragagem a profundidades próximas a 1.100 metros. Com o auxílio de microscopia eletrônica e análises químicas, pesquisadores conseguiram estimar a idade da esponja pelo exame de seu esqueleto de sílica, chamado espícula. Essa análise indicou uma faixa entre 8.000 e 14.000 anos, com a idade média em torno de 11 mil anos.
O corpo da esponja cresce em torno de uma espícula gigante, uma estrutura longa e fina de sílica que pode atingir até 3 metros de comprimento.
Esponja-do-mar: animal pode viver 11 mil anos (Wikimedia Commons)
Essa espícula funciona como uma espécie de “âncora” que fixa a esponja no fundo do mar. O crescimento ocorre pela adição de camadas concêntricas de sílica, processo semelhante ao surgimento de anéis em árvores. Essas camadas não representam necessariamente incrementos anuais, mas refletem variações ambientais, especialmente a temperatura da água ao longo dos milênios.
A espícula é a base estrutural que sustenta a Monorhaphis chuni. Além de seu tamanho impressionante, ela desempenha um papel fundamental na fixação da esponja ao fundo do oceano, proporcionando estabilidade em ambientes profundos e inóspitos.
O crescimento em camadas dessa espícula guarda informações valiosas sobre as condições ambientais que a esponja enfrentou ao longo de milhares de anos.
A composição química das camadas da espícula permite aos cientistas acessar um verdadeiro arquivo climático do passado.
Análises isotópicas revelaram episódios de variações significativas na temperatura das águas profundas, incluindo períodos de aquecimento brusco e resfriamento subsequente. Essas informações ajudam a entender as dinâmicas oceânicas e os eventos geológicos que moldaram o ambiente marinho desde o início do Holoceno.
A longa vida da Monorhaphis chuni desperta interesse sobre como organismos simples conseguem manter a integridade celular e evitar danos por milhares de anos.
Pesquisas indicam que a esponja tem mecanismos eficientes para proteger suas células contra o estresse oxidativo, o que pode explicar sua longevidade. Esse estudo oferece pistas importantes para a compreensão do envelhecimento em organismos mais complexos, inclusive humanos.
A esponja-de-vidro Monorhaphis chuni representa um dos animais mais antigos conhecidos da Terra. Seu esqueleto não apenas atesta essa impressionante duração de vida, mas também oferece uma janela única para os registros ambientais do Holoceno, o período dos últimos 11 mil anos. Esse conhecimento contribui para o estudo das mudanças climáticas de longo prazo em ambientes oceânicos profundos e para a compreensão dos processos biológicos que possibilitam tal longevidade.
O estudo dessas esponjas e de outros animais basalmente simples — como medusas, corais e vermes planos — também ajuda a entender as bases evolutivas da longevidade e dos mecanismos de regeneração celular.
Esses animais mantêm populações de células-tronco pluripotentes, capazes de regenerar e renovar o organismo, o que pode explicar sua capacidade de vida prolongada e até potencial imortalidade em alguns casos.
A longevidade de algumas espécies do reino animal é resultado de uma combinação de fatores biológicos, ambientais e evolutivos. Adaptados para sobreviver em condições extremas e com mecanismos internos eficientes, esses animais desafiam o envelhecimento e vivem por séculos.
Fatores biológicos desempenham um papel fundamental na longevidade. Espécies como o tubarão-da-Groenlândia e a baleia-da-Groenlândia, por exemplo, possuem um metabolismo extremamente lento, o que retarda os processos de envelhecimento celular.
A baixa taxa metabólica reduz o desgaste dos tecidos e prolonga a vida. Além disso, algumas dessas criaturas desenvolveram mecanismos eficientes de reparo de DNA, como observado no tubarão-da-Groenlândia, o que protege suas células de danos ao longo do tempo.
Outro fator importante é o tamanho corporal: animais maiores, como as baleias, tendem a viver mais tempo, pois sua grande massa corporal proporciona maior resistência física e proteção contra predadores e doenças.
Além das características biológicas, adaptações ambientais são essenciais para a longevidade. Muitos animais que vivem mais tempo, como o tubarão-da-Groenlândia, prosperam em ambientes extremos e desafiadores, como as águas frias e profundas do Ártico.
Nessas condições, as baixas temperaturas desaceleram os processos metabólicos, contribuindo para um envelhecimento mais lento. A capacidade de armazenar energia também é um fator determinante. Baleias e tartarugas, por exemplo, acumulam reservas em camadas de gordura ou em seus corpos, permitindo que sobrevivam por longos períodos sem alimento, o que reduz o estresse metabólico.
Fatores evolutivos também influenciam a capacidade de viver por longos períodos. A ausência de predadores naturais é um exemplo importante: espécies como a tuatara vivem em habitats isolados com poucos predadores, o que lhes proporciona vidas mais estáveis e seguras.
Além disso, essas espécies tendem a apresentar estratégias reprodutivas únicas. Animais que atingem a maturidade sexual mais tarde, como os tubarões e as tartarugas, geralmente possuem um envelhecimento mais lento, uma adaptação que favorece a sobrevivência em ambientes onde o ritmo de vida é mais pausado.