Ciência

Injeção inteligente? Novo tratamento reduz câncer de cabeça e pescoço em seis semanas

Pesquisa internacional revelou que 76% dos pacientes com a doença em fase avançada tiveram benefício clínico com a terapia injetável após não terem respondido a imunoterapia e quimioterapia

A injeção já foi aprovada para um tipo de câncer de pulmão e tem potencial de ajudar em outros tipos de tumores (Brendan McDermid/Reuters)

A injeção já foi aprovada para um tipo de câncer de pulmão e tem potencial de ajudar em outros tipos de tumores (Brendan McDermid/Reuters)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 19 de outubro de 2025 às 16h08.

Última atualização em 19 de outubro de 2025 às 16h15.

E se uma simples injeção fosse capaz de reduzir o câncer de cabeça e pescoço em pacientes?

Um estudo clínico apresentado no Congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Médica 2025, realizado em Berlim e apresentado no The Instituto Of Cancer Reaserch, mostrou sinais promissores de um novo tratamento com o medicamento amivantamab, desenvolvido pela Johnson & Johnson.

A terapia, aplicada por meio de injeção subcutânea, demonstrou eficácia em pessoas com carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço recorrente ou metastático em fase avançada — um tipo de câncer difícil de tratar que frequentemente retorna após as terapias convencionais.

Dos 86 pacientes que já haviam recebido imunoterapia e quimioterapia tratados apenas com a injeção, 76% experimentaram benefício clínico, ou seja, seus tumores encolheram ou pararam de crescer.

As respostas foram observadas em média dentro de seis semanas, e o tratamento foi geralmente bem tolerado, com a maioria dos efeitos colaterais sendo leves a moderados. A sobrevida média livre de progressão foi de 6,8 meses.

O câncer de cabeça e pescoço é o sexto mais comum no mundo e usualmente é tratado com cirurgia e radioterapia, englobando a boca, língua, garganta, laringe, seios paranasais e glândulas salivares. Só no Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) prevê 39.550 novos casos por ano.

Segundo especialistas, quando a doença se espalha ou retorna, o tratamento costuma incluir imunoterapia e quimioterapia à base de platina. Se não houver sucesso, as opções se tornam extremamente limitadas.

Kevin Harrington, professor do Instituto de Pesquisa do Câncer de Londres e um dos autores da pesquisa, destacou que é a primeira vez que testam esse tipo de terapia de tripla ação em pacientes cuja doença retornou depois das terapias convencionais. 

"É um medicamento 'inteligente' que não apenas bloqueia duas vias-chave do câncer, mas também ajuda o sistema imunológico a fazer seu trabalho", declarou no comunicado.

Um dos beneficiados é Carl Walsh, de 59 anos, da Inglaterra, diagnosticado com câncer de língua em maio de 2024 e que entrou no estudo em julho, após a quimioterapia e a imunoterapia não terem funcionado.

"Estou no meu sétimo ciclo de tratamento e está funcionando bem até agora. Estou muito feliz com o progresso", relata no estudo. Ele contou que antes não conseguia falar direito e nem comer, mas o inchaço diminuiu e a dor constante passou.

"Às vezes até esqueço que tenho câncer. O único efeito colateral que experimentei até agora são problemas menores de pele, o que é um grande alívio comparado aos muitos efeitos colaterais que tive com a quimioterapia", complementou.

Como funciona a injeção de tripla ação

O amivantamab já aprovado para um tipo de câncer de pulmão, é um anticorpo monoclonal biespecífico — um medicamento de nova geração que ataca o tumor maligno de três formas diferentes:

  1. Bloqueia o EGFR (receptor do fator de crescimento epidérmico), uma proteína que ajuda os tumores a crescerem;
  2. Bloqueia o MET, uma via alternativa que as células cancerígenas frequentemente usam para escapar do tratamento;
  3. Ativa o sistema imunológico para atacar o tumor;

Segundo os pesquisadores, uma vantagem significativa do amivantamab é sua forma simples de aplicação e que pode representar uma mudança real no tratamento -- não apenas em termos de eficácia, mas também em cuidado.

"Diferentemente de muitos tratamentos que exigem horas em uma cadeira de hospital, o medicamento é administrado como uma injeção sob a pele. Isso o torna mais rápido, mais conveniente e potencialmente mais fácil de administrar em clínicas ambulatoriais — ou até mesmo em casa no futuro", disse Kevin.

Potencial além do câncer de cabeça e pescoço

A injeção está mostrando promessa não apenas no câncer de pulmão e de cabeça e pescoço, mas também no colorretal. Os pesquisadores esperam que a inovação possa se tornar uma nova opção para pacientes com poucas alternativas restantes.

A professora Clare Isacke, reitora de Assuntos Acadêmicos e de Pesquisa do Instituto de Pesquisa do Câncer de Londres, disse no estudo que este é um lembrete poderoso da necessidade urgente de tratamentos mais eficazes e acessíveis para pessoas que vivem com a doença.

"É um câncer que frequentemente retorna de forma agressiva e deixa os pacientes com muito poucas opções", concluiu.

Acompanhe tudo sobre:Química (ciência)OMS (Organização Mundial da Saúde)SaúdeCâncerDoenças

Mais de Ciência

Nova Terra? Astrônomos podem ter descoberto outro planeta do Sistema Solar

Apple reforça foco em wellness e prepara coach de inteligência artificial

Para Jeff Bezos, fundador da Amazon, seres humanos viverão no espaço em até 20 anos

China acelera a integração entre inteligência artificial e medicina tradicional chinesa