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Maldição do faraó? Fungo que matou exploradores de tumbas impressiona cientistas com 'novo poder'

Pesquisadores dos Estados Unidos modificaram as substâncias químicas isoladas do Aspergillus flavus e as submeteram a testes em células leucêmicas

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 25 de junho de 2025 às 06h00.

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Após a abertura do túmulo de Tutancâmon na década de 1920, uma série de mortes prematuras entre os membros da equipe de escavação gerou rumores sobre uma suposta "maldição do faraó". Já na década de 70, quando o túmulo de Casimiro IV foi aberto, uma nova onda de mortes ocorreu entre os cientistas envolvidos.

Investigações subsequentes revelaram que a tumba abrigava o fungo Aspergillus flavus, conhecido por causar infecções pulmonares, especialmente em indivíduos com o sistema imunológico comprometido. No entanto, agora esse mesmo fungo se tornou a base para uma nova e promissora terapia contra o câncer.

Pesquisadores dos Estados Unidos modificaram as substâncias químicas isoladas do A. flavus e as testaram contra células de leucemia.

Os resultados, publicados na Nature Chemical Biology, destacaram a descoberta de um composto "promissor" para o tratamento do câncer, abrindo novas possibilidades no desenvolvimento de medicamentos derivados de fungos.

“Esses resultados mostram que ainda há muito mais medicamentos derivados de produtos naturais a serem descobertos”, afirmou Sherry Gao, autora sênior do estudo e professora da Universidade da Pensilvânia.

A pesquisa se concentrou em uma classe de compostos conhecidos como peptídeos sintetizados ribossomicamente e modificados pós-traducionalmente, ou RiPPs.

O termo refere-se ao processo de produção desses compostos — que ocorre no ribossomo, uma estrutura celular responsável pela produção de proteínas — e sua modificação posterior para melhorar as propriedades anticancerígenas. Embora milhares de RiPPs tenham sido encontrados em bactérias, apenas alguns tipos foram identificados em fungos.

Para encontrar mais RiPPs fúngicos, a equipe de pesquisa analisou diversas cepas de Aspergillus, que pesquisas anteriores sugeriram que poderiam conter esses compostos. Ao comparar os produtos químicos dessas cepas com os componentes conhecidos dos RiPPs, os cientistas identificaram o A. flavus como um candidato "promissor" para investigações mais profundas.

A equipe explicou que essa nova abordagem, que combina informações metabólicas e genéticas, não só revelou o A. flavus como uma fonte rica em RiPPs fúngicos, mas também pode ser aplicada para encontrar outros compostos semelhantes no futuro.

"As células cancerosas se dividem de forma descontrolada. Esses compostos bloqueiam a formação de microtúbulos, que são essenciais para a divisão celular”, detalhou Gao.

A pesquisadora também observou que os compostos testados tiveram pouco ou nenhum efeito em células de câncer de mama, fígado ou pulmão, ou em uma variedade de bactérias e fungos, o que sugere que seus efeitos são específicos para certos tipos de células, um atributo essencial para o desenvolvimento de medicamentos eficazes no futuro.

Novas descobertas

Além de confirmar o potencial medicinal das aspergimicinas, os pesquisadores também identificaram grupos semelhantes de genes em outros fungos, indicando que muitos outros RiPPs fúngicos ainda podem ser descobertos.

“Embora apenas alguns tenham sido encontrados, quase todos apresentam forte bioatividade. Esta é uma região inexplorada com um potencial tremendo”, afirmou Qiuyue Nie, autor principal do estudo.

Os pesquisadores agora se concentram em testar as aspergimicinas em modelos animais, com a expectativa de que, eventualmente, esses estudos possam avançar para ensaios clínicos em humanos.

“A natureza nos deu esta farmácia incrível. Cabe a nós desvendarmos seus segredos. Como engenheiros, estamos entusiasmados em continuar explorando, aprendendo com a natureza e usando esse conhecimento para projetar soluções melhores”, concluiu Gao.

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