Ciência

Menopausa causa gordura no fígado? Entenda a relação entre as duas coisas

A gordura no fígado pode evoluir para doenças graves como fibrose e cirrose se não for tratada

Menopausa: o que a gordura no fígado tem a ver? (Choreograph/Getty Images)

Menopausa: o que a gordura no fígado tem a ver? (Choreograph/Getty Images)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 19 de julho de 2025 às 17h13.

Tudo sobreMulheres
Saiba mais

A menopausa traz consigo uma série de transformações hormonais e metabólicas que afetam a saúde das mulheres, indo além dos sintomas comuns como calores e alterações de humor. Uma dessas mudanças, ainda pouco discutida, é a esteatose hepática, mais conhecida como gordura no fígado.

Embora raramente associada ao climatério, essa condição pode ser extremamente perigosa se não for diagnosticada e tratada adequadamente. Ela pode evoluir para problemas sérios como fibrose, cirrose e até mesmo câncer de fígado.

Em entrevista à Folha de São Paulo, a médica ginecologista e nutróloga Alessandra Bedin Pochini, do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que a queda do estrogênio durante a menopausa é um dos principais fatores para o desenvolvimento de doenças metabólicas, como a esteatose hepática.

"A mulher tem o estrogênio como principal fator protetor. E esse hormônio, quando começa a cair a partir dos 45 anos, já promove alterações no corpo, especialmente no metabolismo da glicose e do colesterol", explica a especialista. A deficiência estrogênica favorece o acúmulo de gordura visceral, que é mais inflamatória e tem impactos negativos em diversas áreas da saúde, como o aumento do risco de doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2.

Momentos

De acordo com a médica, o período mais crítico para o surgimento de gordura no fígado ocorre durante a transição para a menopausa, intervalo que pode durar de três a cinco anos. Nesse período, o corpo feminino passa por mudanças significativas na composição corporal, com a perda de massa muscular e ganho de gordura abdominal.

"É nessa fase que a gordura hepática aparece com mais frequência e pode evoluir com maior gravidade", alerta Pochini.

Estudos apontam que a prevalência de esteatose hepática em mulheres pós-menopausa é 20% maior do que nas que ainda não passaram por essa fase. Em nível mundial, cerca de 30% das mulheres sofrem da condição, com pico de incidência entre 60 e 69 anos.

Porém, o grande problema dessa condição é sua natureza silenciosa. A maioria das mulheres não percebe os sintomas iniciais, que são vagos, como cansaço ou desconforto abdominal, o que dificulta o diagnóstico precoce. A médica afirma que muitas vezes a gordura no fígado é minimizada por profissionais da saúde, sendo considerada apenas uma "gordurinha", quando, na realidade, trata-se de um problema sério. "Isso precisa mudar", ressalta.

Como reverter a esteatose hepática?

Por outro lado, a boa notícia é que a esteatose hepática pode ser revertida nos estágios iniciais, principalmente com a implementação de mudanças no estilo de vida e, em alguns casos, medicamentos para obesidade. "Nos graus mais avançados, quando já existe uma inflamação muito grande ou fibrose, não conseguimos reverter completamente, mas conseguimos melhorar", destaca a médica.

A terapia de reposição hormonal (TRH) também tem mostrado resultados promissores no combate à gordura hepática. Contudo, ela deve ser aplicada com cuidado e dentro da chamada "janela de oportunidade", ou seja, até dez anos após a última menstruação. Após esse período, o uso do estrogênio pode trazer mais riscos do que benefícios. Como sempre, o acompanhamento médico é essencial para garantir a eficácia do tratamento.

O diagnóstico precoce é fundamental para evitar complicações mais graves. A ultrassonografia abdominal é o principal exame para detectar a gordura no fígado, e em casos mais complexos, a biópsia hepática pode ser indicada. "É crucial que as mulheres a partir dos 40 anos redobrem a atenção para a saúde hepática, não só fazendo exames de rotina, como papanicolau ou mamografia, mas também monitorando o metabolismo, os níveis de colesterol e a glicemia", conclui Alessandra Bedin Pochini.

Acompanhe tudo sobre:MulheresCuriosidadesFicção científicaDoenças

Mais de Ciência

Asteroides 'invisíveis' perto de Vênus podem ameaçar a Terra nos próximos anos, dizem cientistas

Conheça o gato cientista que ajudou a descobrir dois vírus perigosos

Técnica pioneira no Reino Unido impede transmissão de doenças hereditárias em oito bebês

Como a ciência descobriu a composição do Sol sem enviar sondas até lá