Simulação de colisão de asteróide na Lua
Repórter de Negócios
Publicado em 26 de julho de 2025 às 10h58.
Última atualização em 26 de julho de 2025 às 11h05.
Descoberto no fim de 2024, o asteroide 2024 YR4 chegou a ser considerado o mais arriscado já observado — com 3,1% de chance de atingir a Terra em dezembro de 2032.
Agora, com novos cálculos em mãos, cientistas afastaram a hipótese de colisão com nosso planeta.
Mas outro alvo entrou no radar: a Lua.
Com cerca de 60 metros de diâmetro — o equivalente a um prédio de 20 andares — o asteroide 2024 YR4 ficou conhecido como um “city killer”.
O apelido não é à toa: objetos desse porte podem causar devastação regional em caso de impacto com a Terra.
Para comparação, o meteoro que explodiu sobre a cidade russa de Chelyabinsk, em 2013, tinha cerca de 20 metros e feriu mais de 1.500 pessoas por conta da onda de choque que quebrou janelas e danificou edifícios.
Inicialmente, o 2024 YR4 preocupou cientistas por sua trajetória. Em fevereiro, as chances de colisão com a Terra chegaram ao pico de 3,1% — algo que, no campo da astronomia, representa uma ameaça considerável.
Desde então, observações com telescópios em solo e no espaço permitiram refinar os cálculos. Em junho, os dados mais recentes apontaram que a Terra está fora de perigo.
Mas a Lua, agora, entrou na linha de risco.
Mesmo sem representar uma ameaça direta à Terra, a colisão do 2024 YR4 com a Lua teria consequências relevantes.
O impacto, se ocorrer, pode acontecer no fim de 2032 e geraria um clarão visível da Terra por alguns segundos, seguido de um impacto violento o suficiente para abrir uma cratera de 1 quilômetro de largura — a maior dos últimos 5.000 anos no satélite natural.
Com base em simulações feitas por pesquisadores, a colisão poderia lançar até 100 milhões de quilos de rocha e poeira lunar para o espaço. Parte desses detritos, especialmente partículas entre 0,1 mm e 10 mm, poderia viajar em alta velocidade e chegar à Terra dias ou meses depois — gerando uma intensa chuva de meteoros.
Não haveria risco à população: fragmentos maiores que um cubo de açúcar dificilmente atravessariam a atmosfera.
Mas satélites em órbita baixa, como os que usamos para navegação e comunicação, poderiam ser danificados. A Estação Espacial Internacional, no entanto, não deve estar mais em operação até lá.
Apesar de improvável, um impacto do 2024 YR4 na Terra teria efeitos muito mais significativos do que um choque lunar. A energia liberada seria equivalente a uma explosão nuclear, com potencial para arrasar uma cidade inteira.
Esses asteroides menores (entre 50 e 150 metros) não chegam a ser “matadores de planeta”, como o que extinguiu os dinossauros há 66 milhões de anos, mas representam um risco real para regiões populosas. Segundo estimativas da NASA, ainda faltam ser identificados cerca de 60% dos asteroides desse porte que se aproximam da Terra.
A colisão sobre Chelyabinsk, em 2013, é um lembrete claro dos perigos. E o 2024 YR4 se soma à lista de corpos celestes que reforçam a importância de sistemas de alerta e defesa planetária.
O 2024 YR4 foi descoberto pelo telescópio ATLAS, no Chile, apenas dois dias depois de ter passado despercebido pela Terra — escondido pelo brilho do Sol. Esse tipo de "ponto cego" preocupa astrônomos, já que muitos asteroides pequenos podem se aproximar sem serem detectados com antecedência.
Mas há avanços no horizonte.
Telescópios espaciais como o NEOMIR, da Agência Espacial Europeia, e o NEO Surveyor, da NASA, devem ajudar a reduzir essa zona cega, identificando asteroides muito antes de chegarem perto da Terra ou da Lua.
Em casos de risco real, estratégias de defesa já foram testadas. Em 2022, a missão DART, da NASA, conseguiu desviar um asteroide ao colidir propositalmente uma espaçonave contra ele. A ideia é simples: alterar a trajetória do objeto para evitar um impacto futuro.
No caso do 2024 YR4, ainda é cedo para dizer se uma missão do tipo será necessária. Ele só voltará a ficar visível em 2028, quando novos dados devem confirmar — ou não — o risco real para a Lua.
Tradicionalmente, as missões de defesa planetária focam em proteger a Terra. Mas o 2024 YR4 está fazendo os cientistas ampliarem o campo de visão.
Com planos cada vez mais avançados de presença humana permanente na Lua — seja por missões da NASA, da China ou de empresas privadas — os riscos à infraestrutura lunar ganham outra dimensão. Um impacto como o previsto para o 2024 YR4 poderia ameaçar bases, habitats e astronautas.
Ainda que o risco de um desastre seja pequeno, o evento seria histórico — e uma oportunidade rara para os cientistas estudarem os efeitos de um impacto em tempo real, com dados valiosos sobre o comportamento da superfície lunar.