Repórter
Publicado em 7 de agosto de 2025 às 16h05.
Última atualização em 7 de agosto de 2025 às 16h30.
A demanda global por eletricidade está longe de desacelerar. O consumo desse tipo de energia deve aumentar de cerca de 3,3% em 2025 para 3,7% em 2026, segundo dados da Agência Internacional de Energia (IEA).
No momento, esse fenômeno é impulsionado pelo crescimento das indústrias, data centers, eletrificação de transportes e o consumo de eletrodomésticos. Há muitas dúvidas sobre as consequências do uso desenfreado da eletricidade. Mas, e se o mundo inteiro acendesse as luzes ao mesmo tempo?
O principal impacto disso seria o aumento instantâneo da demanda por eletricidade, que é amplamente usada para alimentar as luzes de muitas pessoas ao redor do mundo, de acordo com um artigo publicado no site The Conversation.
A eletricidade é gerada de diversas fontes de energia. Usinas termelétricas, por exemplo, produzem eletricidade utilizando combustíveis como carvão, gás natural, urânio, água, vento e luz solar. Essa eletricidade é então distribuída por uma rede elétrica que a leva até residências e empresas.
Para garantir o funcionamento estável da rede elétrica, a eletricidade precisa ser fornecida de acordo com a demanda. Quando uma luz é acesa, há uma demanda instantânea de energia da rede. Isso exige que um gerador forneça a mesma quantidade de eletricidade imediatamente. Se houver desequilíbrio no sistema, mesmo que por breves segundos, pode ocorrer um apagão.
Os operadores da rede usam sensores e sistemas computadorizados para monitorar a demanda de energia, ajustando a produção conforme necessário. A carga total de eletricidade varia significativamente ao longo do dia e das estações. Por exemplo, a quantidade de energia consumida em uma casa durante o dia é muito diferente da que é usada à noite, e em períodos de calor intenso no verão a demanda é maior do que em um dia frio de outono.
Se todos acendessem suas luzes ao mesmo tempo ao redor do mundo, isso causaria um aumento repentino e massivo na demanda por eletricidade. As usinas precisariam aumentar sua produção rapidamente para evitar falhas no sistema. No entanto, as usinas reagem de maneira diferente às flutuações de demanda.
Usinas a carvão e nucleares, por exemplo, podem gerar grandes quantidades de eletricidade a qualquer momento, mas têm uma resposta lenta a mudanças na demanda e podem levar muitas horas para serem reativadas após manutenção ou falhas.
Já as usinas movidas a gás natural conseguem responder mais rapidamente às variações de demanda, sendo frequentemente usadas em momentos de pico de consumo, como nas tardes quentes de verão.
Fontes renováveis de eletricidade, como a solar, eólica e hidrelétrica, produzem menos poluição, mas sua produção é menos previsível, já que o vento nem sempre sopra na mesma intensidade e a radiação solar pode variar de um dia para o outro.
Para ajustar a produção de eletricidade conforme a demanda, a rede usa grandes baterias, mas atualmente não é possível armazenar energia suficiente para abastecer uma cidade inteira, já que as baterias seriam muito caras e esgotariam rapidamente.
Algumas usinas hidrelétricas também podem bombear água para reservatórios durante períodos de baixa demanda e liberar essa água quando a demanda aumenta, utilizando turbinas para gerar eletricidade.
Por outro lado, se todos acendessem as luzes ao mesmo tempo, dois fatores ajudariam a prevenir um apagão total. O primeiro é que não existe uma rede elétrica global unificada. A maioria dos países possui suas próprias redes, ou redes regionais. Redes vizinhas, como as dos Estados Unidos e Canadá, frequentemente estão conectadas, permitindo a troca de eletricidade entre os dois países. No entanto, essas redes podem ser desconectadas rapidamente, tornando improvável que todas as redes falhem ao mesmo tempo.
O segundo fator é que, nos últimos 20 anos, as lâmpadas LED substituíram muitas das lâmpadas tradicionais. Os LEDs consomem muito menos energia para produzir a mesma quantidade de luz, resultando em uma redução significativa no consumo de eletricidade.
De acordo com o Departamento de Energia dos EUA, o uso de LEDs pode economizar em média US$ 225 por ano para uma família. Em 2020, quase metade das residências nos Estados Unidos usava LEDs para todas ou a maioria de suas necessidades de iluminação.
Além de gerar mais consumo de energia, é importante considerar o impacto do aumento na iluminação sobre o ambiente. O brilho do céu, que ocorre quando a luz reflete em partículas de poeira e neblina no ar, se intensificaria drasticamente com um aumento repentino na iluminação.
A luz, especialmente à noite, tende a ser usada de maneira excessiva, como em prédios comerciais desocupados, onde as luzes permanecem acesas sem necessidade, ou em postes de iluminação pública que iluminam as ruas para cima, em vez de para baixo.
Mesmo sistemas de iluminação planejados para reduzir a poluição luminosa podem agravar o problema, tornando as cidades e rodovias visíveis do espaço e obscurecendo a visão das estrelas na Terra. Essa poluição luminosa não só afeta a observação do céu, mas também pode interferir no ciclo de sono e vigília dos seres humanos, além de desorientar animais como insetos, aves e tartarugas marinhas.
Se todos acendessem suas luzes ao mesmo tempo, embora a demanda por energia aumentasse, o impacto visual seria ainda mais notável: veríamos uma grande intensificação do brilho no céu, mas nenhuma estrela visível. Isso não seria uma cena muito agradável.