Em 2018, um artigo publicado na revista Progress in Biophysics and Molecular Biology causou polêmica ao sugerir que os polvos poderiam ter origens extraterrestres (Thinkstock)
Redação Exame
Publicado em 29 de julho de 2025 às 16h19.
Última atualização em 29 de julho de 2025 às 16h34.
A ideia de que os polvos seriam “alienígenas” não é literal, mas simbólica: eles representam uma forma de vida tão distinta que parecem ter evoluído em um planeta diferente. Essa percepção ganhou força com a publicação do sequenciamento do genoma do polvo Octopus bimaculoides, em 2015, na revista científica Nature. O estudo revelou que o animal possui cerca de 33 mil genes — superando os 27 mil dos seres humanos — e que muitos desses genes são únicos, sem paralelos em outros organismos conhecidos.
Além disso, os polvos têm a capacidade de editar seu próprio RNA, o ácido ribonucleico responsável pela tradução das informações genéticas em proteínas. Esse mecanismo, raro entre os animais, permite que eles adaptem rapidamente suas funções celulares a mudanças ambientais, como temperatura e salinidade. Essa plasticidade genética é vista por pesquisadores como uma das chaves para sua inteligência e comportamento sofisticado.
A estrutura do sistema nervoso dos polvos também é incomum. Cerca de dois terços de seus neurônios estão localizados nos braços, e não no cérebro central. Isso significa que cada braço pode agir de forma quase autônoma, processando informações sensoriais e motoras de maneira independente.
Em experimentos conduzidos pela Universidade de Chicago, ficou constatado que o sistema nervoso segmentado ajuda os polvos a terem maior mobilidade nos tentáculos, num circuito neural inédito.
A origem evolutiva dos polvos ainda é um mistério. Eles pertencem ao filo dos moluscos, o mesmo de caracóis e mariscos, mas sua complexidade neurológica e comportamental está em outro patamar. Alguns cientistas sugerem que os cefalópodes, grupo que inclui polvos, lulas e sépias, passaram por um processo de evolução acelerada após um evento de duplicação genômica, o que teria impulsionado sua diferenciação.
Em 2018, um artigo publicado na revista Progress in Biophysics and Molecular Biology causou polêmica ao sugerir que os polvos poderiam ter origens extraterrestres, com base na hipótese da panspermia — teoria segundo a qual a vida pode ter chegado à Terra por meio de cometas ou meteoros. Embora a comunidade científica rejeite essa ideia como especulativa e sem evidências concretas, o estudo reacendeu o debate sobre o quão “alienígenas” os polvos realmente são.
O fascínio por esses animais não é novo: registros históricos mostram que civilizações como os gregos e os fenícios já representavam polvos em cerâmicas e mosaicos, muitas vezes associados a divindades marinhas e mistérios do oceano.
Hoje, eles continuam a inspirar não apenas a ciência, mas também a cultura pop, como no documentário vencedor do Oscar Professor Polvo (“My Octopus Teacher”), que retrata a relação entre um cineasta e um polvo selvagem na costa da África do Sul.