Napoleão Bonaparte: imperador francês perdeu boa parte de suas tropas na Rússia em 1812 (Sarah Meyssonnier/Reuters)
Redação Exame
Publicado em 24 de outubro de 2025 às 18h37.
Historiadores debateram por muito tempo os fatores que levaram ao colapso do exército do imperador francês Napoleão I. Ao recuar de Moscou em 1812, a maior parte das tropas foi assolada por fome, doenças e o inverno russo severo. Agora, a análise do DNA de alguns dos soldados mortos revelou duas doenças que assolaram as tropas sem levantar suspeitas.
O novo estudo do Instituto Pasteur em Paris usou de técnicas que podem rastrear DNA antigo em busca de qualquer micróbio conhecido. Os pesquisadores extraíram DNA dos dentes de 13 soldados, cujos restos mortais foram escavados na Lituânia em 2002.
Dos 13 soldados, quatro mostraram evidências de infecção por Salmonella enterica, que causa febre paratifoide. Os sintomas da doença incluem perda de apetite e manchas cor-de-rosa. Dois outros soldados foram infectados por Borrelia recurrentis, um patógeno transmitido por piolhos que causa uma doença chamada febre recorrente.
Em 2006, pesquisadores estudando DNA em alguns dos restos dos soldados identificaram dois agentes de doenças: Rickettsia prowazekii, que causa tifo, e Bartonella quintana, que causa febre das trincheiras. Esses dois já pareciam culpados prováveis com base em sintomas descritos em registros históricos e na descoberta de piolhos, que transmitem tifo, nos restos dos soldados.
No entanto, há a técnica usada nas pesquisas de 2006 pode ter gerado essa diferença de resultados comparada às descobertas mais recentes.
As identificações de quase 20 anos atrás fizeram uso da reação em cadeia da polimerase (PCR), uma técnica que cria milhões de cópias de um segmento curto de DNA. A PCR permite aos pesquisadores detectar sequências de DNA para patógenos específicos.
Diferentemente do estudo do Instituto Pasteur, que detecta qualquer micróbio conhecido independentemente das suspeitas, o uso da PCR é feita para verificar a presença de patógenos que os historiadores já suspeitavam estar presentes nos restos mortais.
A equipe do Instituto Pasteur não encontrou vestígios das doenças identificadas em 2006, possivelmente porque essas infecções não se espalharam para o grupo de soldados estudado.
Outra explicação possível para essa diferença de resultados é que os patógenos identificados na pesquisa anterior tenham passado despercebidos pelas novas técnicas. O sequenciamento em massa é menos sensível em alguns aspectos do que o método PCR.
De qualquer forma, os resultados mostram que o colapso do exército napoleônico não foi causado por "uma única epidemia", diz Nicolás Rascovan, coautor do novo estudo. "Essas pessoas morreram de uma multiplicidade de fatores, provavelmente muitos mais do que os que encontramos".
Quando se trata de determinar o resto desses fatores, Rascovan acredita que os cientistas devem fazer outra pausa em suas investigações. Em vez de usar agora as amostras restantes, "vamos esperar até termos técnicas mais poderosas para fazer coisas que nem sequer podemos imaginar hoje", afirma.