Emmy Noether: matemática desafiou o machismo acadêmico e mudou para sempre a matemática e a física (Wikimedia Commons)
Redação Exame
Publicado em 8 de outubro de 2025 às 08h39.
Há 90 anos, uma matemática alemã recebia de Albert Einstein um reconhecimento incomum: “o gênio matemático criativo mais importante desde que as mulheres passaram a estudar em universidades”, definiu o cientista.
Seu nome era Emmy Noether, e sua trajetória moldou os rumos da matemática e da física modernas — mesmo tendo sido, por muito tempo, invisibilizada.
Noether viveu em um tempo em que mulheres sequer podiam se matricular em cursos universitários. Ainda assim, desafiou barreiras sociais, acadêmicas e políticas para desenvolver ideias que hoje sustentam as teorias mais avançadas da ciência.
Seu principal legado é o teorema que leva seu nome, base fundamental da física teórica contemporânea. A fórmula estabelece que toda simetria presente em um sistema físico corresponde a uma grandeza que se conserva — como energia, momento ou carga elétrica. Sem esse conceito, não seria possível formular a física de partículas, a mecânica quântica ou até mesmo a relatividade geral.
Nascida em 1882, na cidade de Erlangen, no sul da Alemanha, Emmy era filha de um professor de matemática, mas isso não a livrou das limitações impostas às mulheres. Ela só pôde assistir às aulas como ouvinte, desde que recebesse autorização prévia dos professores. Quando finalmente conquistou um diploma, teve que ensinar por anos sem salário — muitas vezes substituindo o próprio pai.
Em 1915, foi convidada por grandes nomes da matemática, como David Hilbert, para integrar o prestigiado grupo da Universidade de Göttingen. Mas enfrentou resistência institucional. Teve que lecionar usando o nome de Hilbert, já que colegas homens se recusavam a aceitar uma mulher como professora universitária.
Foi nesse ambiente adverso que Noether desenvolveu seu famoso teorema, publicado em 1918, cuja relevância se estende por toda a física moderna. O próprio Einstein utilizou suas ideias para fortalecer a base matemática da teoria da relatividade geral.
A importância do trabalho de Noether vai além de fórmulas. Ela mudou a forma como se compreende a estrutura do universo, ao mostrar que as leis naturais são moldadas por simetrias invisíveis, mas fundamentais.
Com a ascensão do regime nazista, Emmy Noether foi demitida de seu cargo por ser judia. Ela se exilou nos Estados Unidos, onde continuou ensinando e pesquisando no Bryn Mawr College e no Instituto de Estudos Avançados de Princeton.
Apesar das dificuldades, seus últimos anos foram marcados pelo entusiasmo dos alunos e pelo reconhecimento crescente de sua genialidade. Morreu em 1935, aos 53 anos, após complicações de uma cirurgia.
Pouco antes de sua morte, Einstein escreveu ao The New York Times em sua homenagem, exaltando sua influência sobre gerações de matemáticos e cientistas. Hoje, o Teorema de Noether é parte obrigatória de qualquer formação em física, e sua obra se consolida como uma das mais elegantes e profundas já produzidas.