Desde 2008, a pesquisa sobre objetos próximos à Terra se intensificou (buradaki/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 20 de julho de 2025 às 14h16.
Última atualização em 20 de julho de 2025 às 15h46.
Em janeiro, uma base da Força Espacial dos EUA nas Montanhas Rochosas recebeu um alerta incomum: um possível impacto de asteroide contra a Terra.
Segundo informações do Financial Times, o aviso não partiu dos sensores militares nem de radares estratégicos, mas sim de um pequeno escritório das Nações Unidas em Viena, o Escritório para Assuntos do Espaço Exterior. A mensagem, posteriormente confirmada, tratava do asteroide batizado de 2024 YR4 — um corpo celeste de até 90 metros de diâmetro, descoberto no final de 2024.
A distância inicial de YR4 da Terra era de 830 mil quilômetros, mas, ao calcular sua órbita, cientistas detectaram uma chance de colisão em 2032. O risco inicial era de 1%, suficiente para acionar o protocolo de alerta internacional. Em três semanas, subiu para mais de 3%, tornando-o o objeto mais ameaçador já identificado próximo à Terra.
Enquanto isso, em Los Angeles, o matemático italiano Davide Farnocchia, da Nasa, monitorava o asteroide desde que ele apareceu, em 27 de dezembro, nas imagens de um telescópio chileno operado remotamente. À medida que incêndios florestais avançavam sobre o Laboratório de Propulsão a Jato, Farnocchia e colegas evacuaram e passaram a rastrear o objeto de casa. Mais de 60 observatórios e até o Telescópio Espacial James Webb acompanharam o asteroide, segundo a reportagem do FT.
Farnocchia e sua equipe calcularam que, se houvesse impacto, ele ocorreria em 22 de dezembro de 2032, ao longo de uma faixa que incluiria o oceano Pacífico, América do Sul, África Ocidental, Oriente Médio e Sul da Ásia.
A liberação de energia estimada seria equivalente a 500 vezes a bomba de Hiroshima, capaz de gerar um tsunami ou explosões atmosféricas destrutivas.Estimar rotas de asteroides próximos à Terra é tarefa complexa: a gravidade de corpos celestes e a radiação solar afetam as órbitas, e muitos só são visíveis por breves janelas de tempo. Mas em fevereiro, novas medições dissiparam a ameaça: YR4 passará a 270 mil km da Terra em 2032. No entanto, há 4% de chance de ele colidir com a Lua, o que poderia espalhar até 100 milhões de quilos de rochas lunares, parte das quais atingiria a Terra.
O grupo de resposta a ameaças espaciais da ONU, o SMPAG, estava envolvido em um exercício de simulação de impacto quando a crise real emergiu. Nenhuma missão de desvio foi necessária, mas a situação expôs a fragilidade do sistema global diante de ameaças espaciais reais.
Desde 2008, a pesquisa sobre objetos próximos à Terra se intensificou. A Nasa criou em 2016 o Planetary Defense Coordination Office, seguido pela ESA em 2019. Hoje, mais de 40 mil objetos são monitorados, com cerca de 40 novos sendo descobertos semanalmente. O número deve crescer com o início das operações do Observatório Vera C. Rubin, no Chile, que abriga a maior câmera digital do mundo.
Ao mesmo tempo, crescem os cortes orçamentários: em 2025, a Casa Branca propôs reduzir pela metade os fundos científicos da Nasa, incluindo um corte de US$ 3 milhões (quase 8%) na detecção de asteroides. Em resposta, a agência afirmou que “segue comprometida com a missão de proteger o planeta”.
A Rede Internacional de Alerta de Asteroides comunicou à ONU que um novo corpo celeste, o 2024 PCD25, colidirá com a Terra em 24 de abril de 2041. Medindo cerca de 150 metros, ele liberará energia entre 45 e 160 megatons, atingindo com força total uma faixa que se estende do norte de Angola à República Democrática do Congo — uma das regiões mais pobres do mundo, segundo reportagem do FT.
As consequências estimadas incluem centenas de milhares de mortos, incêndios e destruição de infraestrutura em uma área de até 120 quilômetros de raio. A tragédia equivaleria a mais de 10 mil bombas de Hiroshima explodindo simultaneamente.