Sistema solar: origem de Theia é redefinida e estudo aponta formação no Sistema Solar interno (NASA/JPL-Caltech)
Redatora
Publicado em 21 de novembro de 2025 às 15h12.
Uma nova análise de rochas da Terra e da Lua indica que Theia — o protoplaneta que colidiu com a Terra há cerca de 4,5 bilhões de anos e originou a Lua — não veio de regiões distantes.
Segundo o estudo, publicado na revista Science, Theia nasceu no Sistema Solar interno, em uma área próxima à proto-Terra e possivelmente até mais perto do Sol.
A descoberta ajuda a resolver um dos maiores enigmas da teoria do Grande Impacto: a semelhança química entre Terra e Lua. Se o satélite fosse composto majoritariamente por material de Theia, como sugerem os modelos, seria esperado que houvesse diferenças marcantes entre os dois corpos. As assinaturas isotópicas praticamente idênticas sempre desafiaram os cientistas, e o novo estudo traz a explicação mais consistente para essa proximidade.
Para investigar o enigma, pesquisadores do Instituto Max Planck e da Universidade de Chicago analisaram isótopos de ferro, zircônio e molibdênio em rochas terrestres, amostras lunares trazidas pelas missões Apollo e diferentes tipos de meteoritos.
Esses elementos funcionam como “marcadores de origem”. O zircônio registra o material que formou o manto de um planeta, enquanto ferro e molibdênio revelam estágios finais da formação, já que tendem a migrar para o núcleo.
Ao comparar os dados, os cientistas observaram um padrão decisivo: Terra e Lua se alinham exatamente à composição de meteoritos não carbonáceos, que representam materiais formados no Sistema Solar interno. Mais do que isso, os dois corpos aparecem em uma extremidade da correlação observada nesses meteoritos, indicando um tipo de material ainda não identificado nas amostras disponíveis — mas claramente originado da região interna do Sistema Solar.
Os cálculos de massa mostraram que o cenário mais simples, e o único compatível com todas as medições isotópicas, é que a Terra e Theia foram formadas a partir do mesmo reservatório de matéria. Ou seja: eram vizinhas desde o início.
A análise também identificou um leve enriquecimento em isótopos produzidos pelo chamado “processo-s”, sugerindo que Theia pode ter surgido ainda mais perto do Sol que a Terra. Esse detalhe ajuda a explicar pequenas, mas importantes, diferenças químicas entre os dois corpos.
A conclusão do estudo resolve a antiga “crise isotópica” da formação da Lua. Em vez de um encontro entre dois mundos completamente distintos, o impacto que moldou o sistema Terra-Lua foi provavelmente a colisão de dois corpos formados lado a lado. Isso explica por que Terra e Lua compartilham composições tão semelhantes.
A descoberta também reforça a ideia de que planetas rochosos crescem a partir da fusão de múltiplos blocos planetários da mesma região. Além disso, a colisão com Theia pode ter contribuído para a entrega de elementos essenciais à vida, como carbono e nitrogênio, influenciando diretamente a habitabilidade da Terra.