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A sociedade da neve e as verdades amargas

Acredito que, juntos, somos mais fortes e que dois mais dois pode somar cinco — ou mais

Mais vale uma verdade amarga do que uma mentira doce (AFP/AFP)

Mais vale uma verdade amarga do que uma mentira doce (AFP/AFP)

Publicado em 28 de maio de 2025 às 07h00.

Última atualização em 28 de maio de 2025 às 08h12.

Resolvi escrever sobre o tema após uma recente frustração. Contava com “um amigo” para uma empreitada importante. Eu acredito na soma de esforços. Acredito que, juntos, somos mais fortes e que dois mais dois pode somar cinco — ou mais. Concentrei-me, então, na minha parte do combinado. Nosso esforço conjunto renderia bons frutos! Porém, infelizmente, ele não estava realmente comprometido. Eu teria tido melhores resultados se tivesse feito tudo sozinho. Perdi tempo.

Essa situação me fez lembrar da palestra de Roberto Canessa, que assisti no MIT, em Boston, nos idos de 2003. Canessa é um dos protagonistas da fascinante história que deu origem ao filme Sociedade da Neve. A história do desastre aéreo na Cordilheira dos Andes e da luta pela sobrevivência dos jovens uruguaios, jogadores de rúgbi, é mundialmente conhecida. Já foi retratada em mais de uma dezena de livros e cinco filmes. Apenas dezesseis jovens – das 45 pessoas a bordo - conseguiram sobreviver ao desastre aéreo, que foi seguido por setenta e dois dias na neve, com temperaturas congelantes, avalanches e falta de comida. Os sobreviventes tiveram que se alimentar dos mortos. Não foi o primeiro episódio conhecido de canibalismo humano, mas, certamente, é o mais emblemático.

A palestra de Canessa durou duas horas, mas passou voando; mais pareceram quinze minutos. Ouvir o relato de Canessa foi inesquecível. Das inúmeras lições e aprendizados ao longo daquele drama nas montanhas nevadas, a mais impactante foi o momento em que eles souberam que as buscas tinham sido encerradas — os jovens escutavam as notícias através do que restou do rádio do avião, mas não conseguiam se comunicar por meio dele.

Segundo Canessa, a notícia do encerramento das buscas foi recebida com pavor e desespero. Porém, de acordo com ele, essa notícia foi absolutamente determinante para a sobrevivência do grupo. A partir daquele momento, perceberam que a salvação dependeria tão somente deles mesmos. Então, ao invés de ficarem inertes, esperando pelo socorro — que agora sabiam que nunca chegaria — começaram a planejar maneiras de sair daquela situação.

Cientes de que não haveria outra alternativa para salvar a si e aos seus companheiros, Roberto Canessa e Fernando Parrado enfrentaram o desafio. Encararam as montanhas do Andes, uma das regiões mais traiçoeiras do mundo, sem equipamento e sem proteção para o frio de até -30ºC. Seu esforço e coragem foram recompensados. Depois de dez dias numa expedição quase suicida, conseguiram encontrar ajuda, e sobreviveram para contar essa história incrível.

O relato de Canessa ensina algo precioso e que sempre deve ser lembrado, especialmente em situações nas quais dependemos do esforço ou da boa vontade de outras pessoas: mais vale uma verdade amarga do que uma mentira doce. Ou seja, é preferível saber logo que estamos sozinhos e agirmos, do que ficarmos na expectativa de uma ajuda que não vai chegar.

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