(Imagem gerada por IA)
Colunista
Publicado em 1 de setembro de 2025 às 18h34.
Quem me conhece sabe que tiro poucas férias por ano. Por isso, quando tiro, escolho destinos que alimentem minha mente, tanto quanto descansam meu corpo. Desta última vez escolhemos Roma, uma cidade que é um verdadeiro museu a céu aberto, berço da democracia, palco de invenções que resistem ao tempo e exemplo de como a arquitetura pode ser mais que funcional: pode ser eterna. Sem um bom guia, contudo, Roma pode parecer uma obra inacabada, cheia de ruínas espalhadas por suas tortuosas ruas. Felizmente, tivemos a sorte de conhecer o Wagner, um ex-padre que virou guia e historiador, e que conhecia cada pedra da cidade como a palma de sua mão. Com um sorriso no rosto, ele nos contou que o Coliseu, mesmo em ruínas, atrai mais de 12 milhões de visitantes por ano, sendo a atração mais visitada da Itália.
Dentre as diversas histórias que nos contou, uma das que mais chamou minha atenção foi a história das termas romanas. Foi Marcus Vipsanius Agripa, um grande general, estadista e homem de confiança do imperador Augusto, quem, no final do século I a.C., fundou as primeiras grandes termas públicas de Roma. Ele entendeu naquele tempo algo que hoje nos parece óbvio: as pessoas que se lavavam regularmente ficavam mais saudáveis. A solução dele foi uma política pública revolucionária para a época: obrigar todos os cidadãos a frequentarem as termas, pagando uma taxa para isso. Prevenção em forma de política. Roma não inventou apenas aquedutos e estradas; ela foi pioneira em transformar a prática da saúde preventiva em direito e dever cívico.
Séculos depois, essa lógica prévia retorna, agora reformulada. Em vez das piscinas de mármore, temos planos de saúde por assinatura. Empresas como a One Medical, que foi comprada pela Amazon por US$ 3,9 bilhões em 2023, oferecem acesso direto a médicos, consultas digitais e clínicas físicas, eliminando a tradicional burocracia dos convênios. Outro exemplo é a Forward Health, avaliada em mais de US$ 1 bilhão, que funciona como uma clínica futurista: você paga uma mensalidade e tem acompanhamento contínuo, exames básicos e atendimento integrado por inteligência artificial. São as termas romanas reinventadas para a era digital, com a fluidez e praticidade dos aplicativos.
No campo mental, aplicativos como Calm e Headspace fizeram da meditação um hábito tão rotineiro quanto ler um e-mail. Antes, para “se encontrar”, bastava uma temporada em Noronha; hoje, cinco minutos de respiração guiada pelo celular já te ajudam bastante.
Na esfera física, os wearables tornaram-se conselheiros diários. Eu mesmo, por exemplo, sou adepto do Oura Ring, que monitora meu sono, batimentos cardíacos e níveis de estresse. Ele me avisa quando meu corpo começa a esquentar demais, o que significa que posso estar ficando doente. Não tem colunas de mármore nem piscinas termais, mas o objetivo é o mesmo: preservar o equilíbrio do corpo e da mente.
Nem nossos pets ficaram de fora. Empresas como a Petco oferecem suplementos, planos de saúde e programas de bem-estar para cães e gatos. Pode parecer exagero, mas mostra que o wellness deixou de ser luxo para virar rotina, uma assinatura tão comum quanto nossa academia.
Esse movimento revela uma transformação profunda: a saúde deixou de ser um evento apenas reativo, acionado só quando temos algum problema, para se tornar um fluxo contínuo, preditivo e personalizado. Assim como Roma foi pioneira em distribuir água para garantir a saúde pública, hoje coletamos e analisamos dados biométricos para cuidar do bem-estar, antes que o problema se manifeste.
Nas paredes das termas romanas estava escrito Salvtem Per Aqvam (em português, saúde pela água). Foi daí, das três primeiras letras, que nasceu a palavra SPA. Dois mil anos depois, a história se repete: estamos criando novos clubes, apps e serviços que tentam traduzir em três letras, ou em uma sigla, a promessa da prevenção. Pode ser WAAS — Wellness as a Service, que em português significa bem-estar como serviço, ou pode ser outro nome qualquer. O fato é que o wellness deixou de ser luxo e virou recorrência, entrou no cartão de crédito como entrou o streaming. Roma batizou o spa e deixou sua marca na história. A questão agora é: quem vai batizar e capturar o wellness do futuro?