Carolina Pett, Diretora LatAm da PepsiCo (Global Partners)
Colunista
Publicado em 15 de agosto de 2025 às 15h43.
Dizem que sou uma pessoa alegre. Na verdade, esse sentimento reflete a determinação, o foco e a energia que carrego comigo e busco colocar em cada ação que realizo. Acredito que o entusiasmo que trago vem de muito tempo, algo que aprendi com os meus pais. Eles sempre foram a minha base, os meus grandes mentores. A maneira como lidavam com as situações me trouxe lições que levo para a vida pessoal e corporativa.
Lições de casa: O legado dos pais que moldaram minha liderança
Do meu pai, Emilio, carrego a resiliência e a coragem para me reinventar. Ele me mostrou, com seu exemplo, que é possível passar por esse processo tantas vezes quanto forem necessárias — basta ter vontade e motivação. Já da minha mãe, Maria Helena, o maior ensinamento veio da empatia. Ela sempre foi aquela em quem qualquer um pode confiar. Se alguém cruzar com ela agora na rua e pedir ajuda, certamente ela vai abrir um sorriso e parar tudo para ajudar, por mais que esteja cheia de problemas. Ela me ensinou: “Filha, mesmo por telefone, as pessoas sentem o nosso sorriso. Então, quando falar com alguém, seja sempre receptiva, pois, dessa forma, a conexão será diferente e as soluções serão mais fáceis”.
Essas nuances marcaram toda a minha infância e adolescência. Não só a minha, aliás, mas também a da minha irmã Bruna, onze anos mais nova do que eu — alguém que considero uma grande parceira. Ela sempre me ajudou a manter a cabeça jovem e a me aproximar tanto das novas gerações quanto da geração das minhas filhas, hoje crianças, mas que, futuramente, pensarão e viverão de forma diferente de mim.
Do jurídico ao chão de fábrica: uma escolha por propósito
No início da carreira, ao me formar em Direito, enfrentei o desafio de conhecer na prática um mercado que até então era apenas teórico. Após dez anos atuando com fusões e aquisições, entrei na PepsiCo em 2016 por meio de um programa de trainee sênior. Queria vendas, mas fui para operações — e aceitei. Essa escolha marcou uma virada na minha vida. Foi nesse momento também que conheci meu marido, José Eduardo, com quem sou casada há sete anos e tenho duas filhas. Um parceiro e apoiador em todos os sentidos.
Recomeçar não é retroceder – é evoluir
A decisão de mudar de trajetória veio de uma inquietação interna. Desde o estágio, atuava com fusões e aquisições, sempre em mesas de negociação. Com o tempo, percebi que queria ir além do aspecto legal e entender a lógica do negócio. Comecei a fazer perguntas estratégicas: “Esse valor faz sentido?”, “Essa produção é viável?”. Durante meu MBA em Gestão Empresarial na FGV, confirmei esse feeling. Tomei coragem e mudei de caminho. Não me arrependo da formação em Direito — ela me ensinou a pensar estrategicamente, resolver problemas e estruturar argumentos. Mas eu queria mais: sair do papel e viver a prática.
Perguntar é poder: o valor da curiosidade na liderança
Entrei na PepsiCo como coordenadora. Já tinha maturidade, mas nenhum conhecimento técnico da área. Precisava conquistar a confiança das pessoas — e, acima de tudo, confiar em mim mesma.
Muitas vezes me perguntava: “Será que estou no caminho certo?”. Mas entendi que, se profissionais tão competentes confiaram em mim, é porque eu tinha capacidade. Isso se confirmou quando disseram: “Queremos exatamente esse olhar fresco e questionador”. Isso me deu coragem para assumir meu lugar — sem medo de perguntar.
Tudo era novo. Eu perguntava o tempo todo, até o que parecia óbvio para os outros. Sempre fui curiosa e transparente. Costumava dizer: “Sou advogada. Posso fazer perguntas óbvias?”. Essa postura, com humildade, abriu portas e me permitiu aprender de verdade.
Nem todos me receberam bem. Alguns achavam que ocupei o lugar de alguém mais técnico. Conquistar essas pessoas foi um desafio. Acredito na empatia — e, com escuta, entrega e respeito, fui construindo conexões. Hoje, muitos dos que me desafiaram são parceiros de trabalho.
Passei por diversas áreas: qualidade, EHS, customer, planejamento de demanda, manufatura, engenharia (em um job rotation de quatro meses). Depois, liderei um projeto nacional em Supply Chain Transformation, que cobria toda a cadeia de serviço.
Atuei ainda em Customer Service, Demand Planning, Produtividade e Melhoria Contínua. Hoje, lidero EHS na América Latina e no Brasil. Cada ciclo trouxe um novo frio na barriga — e muito aprendizado. O segredo está em equilibrar visão estratégica com execução, sem perder o contato com a realidade.
Empatia é estratégia
Quando preciso tomar decisões difíceis, busco dados e escuto quem sabe mais sobre o assunto — mas também uso o feeling, o coração. Quando envolve pessoas, coloco a empatia à frente e penso não só em como tornar o impacto menos doloroso, como também em como posso ajudar a pessoa a seguir seu caminho.
Silencie as dúvidas e amplifique sua voz interna
Se existe uma armadilha que pode atrapalhar o desenvolvimento de uma carreira bem-sucedida, certamente é perder a confiança em si mesmo. É preciso discernimento para entender o que é seu e o que é do outro — especialmente ao receber feedbacks difíceis. Diria que é uma luta diária separar o que daqueles retornos é, de fato, voltado para o seu desenvolvimento e o que tem relação com frustrações ou a história da pessoa que está falando contigo. É importante fazer essa separação para focar sua energia no que realmente pode — e deve — ser melhorado.
Por isso, é crucial ter uma rede de apoio, composta por pessoas que me conhecem e possam oferecer feedbacks honestos. Isso me ajudou muito. Sempre me cerquei de pessoas de confiança. A terapia também me ajuda nesse processo, assim como entender que, apesar de sempre buscar fazer tudo com perfeição, nem tudo será impecável — e está tudo bem. O importante é não deixar a negatividade alheia te contaminar, a ponto de te paralisar. Lembre-se: você pode aprender o que quiser. Basta querer e ajustar o seu mindset.
Quando você entende o que te inspira, tudo muda
A motivação me move. Começo o dia com exercícios físicos para clarear a mente e recarregar a energia. O contato com pessoas também me inspira — gosto de ouvir, ajudar e ver o outro crescer. Na liderança, busco entender o que motiva cada um. Nem sempre é salário; às vezes, é um novo desafio. Com as ferramentas da PepsiCo, identifico essas nuances e ofereço oportunidades. Respeitar o que move cada pessoa é parte essencial do meu papel como líder.
Seja lembrado pelo que você entrega — e como entrega
Uma coisa que percebi ao longo da jornada — especialmente quando mudei de área e entrei em operações — é o quanto a reputação tem peso. Ela abre portas e conquista espaços.
No começo da PepsiCo, é fato que nem todo mundo entendeu o que eu estava fazendo ali. O desafio foi conquistar essas pessoas. A reputação, nesse contexto, não era algo que eu pudesse trazer pronta — eu precisava construí-la, do zero, naquele novo ambiente. E como fiz isso? Com escuta, com empatia, com interesse genuíno em aprender, com entrega de resultados e, principalmente, com coerência entre o que eu dizia e o que eu fazia.
Tenho comigo a máxima de que a reputação se constrói na prática — no dia a dia, nas pequenas entregas, nas perguntas certas, na forma como você trata as pessoas. De que adianta ter um currículo incrível se o profissional não consegue se conectar, não gera confiança com pares, time ou líderes?
No meu caso, a estratégia foi mostrar, com o tempo, que mesmo sem a formação técnica tradicional, eu estava ali para somar, aprender, colaborar, entregar — e que merecia estar naquele espaço.
Evitar erros e ser o mais diligente possível também faz parte da construção de uma boa reputação. Tenha consciência do alcance do que diz e de como age, bem como das decisões que toma — pois elas podem impactar muitas pessoas. É importante manter a comunicação clara em todos os momentos e admitir os erros, quando eles acontecerem. Quando se é genuíno e se mantém a clareza, os colaboradores recebem melhor a mensagem e sua reputação se preserva.
Alta performance começa quando você se permite ser inteiro
Conciliar vida profissional e pessoal não é fácil, mas é possível. Tenho gêmeas de cinco anos — Anna e Alice — e um marido com quem estou desde que entrei na PepsiCo. Tenho algumas regrinhas para equilibrar tudo: se for urgente, me liguem; senão, respondo quando puder. Tento blindar os horários das meninas, participar dos momentos importantes da vida delas e me organizar para isso. Nem sempre consigo estar em tudo, então escolho onde sou essencial — e ajo com transparência, seja com a família, seja com o trabalho.
Aliás, quando me perguntam qual o segredo para manter uma equipe em alta performance, digo: é a transparência. Eu me entrego por inteiro. Não sou só profissional — sou filha, mãe, esposa, amiga. E acredito que as pessoas também são múltiplas. Ser transparente, mostrar quem você é, criar conexões. É com essa conexão que conseguimos entender, motivar e fazer as coisas acontecerem juntos.
Porque liderar, no fundo, é isso: se reinventar com coragem, se conectar com empatia e nunca parar de aprender!
Livros que inspiram:
O Monge e o Executivo: Uma história sobre a essência da liderança – James C. Hunter (Editora Sextante)
Start with Why – Simon Sinek