Museu: expansão de 400 m2 reúne protótipos, carros-conceito e modelos que nunca foram à venda. (Divulgação/Divulgação)
Colunista
Publicado em 9 de agosto de 2025 às 08h08.
Última atualização em 10 de agosto de 2025 às 13h09.
“Agradecemos o seu interesse em visitar a Volkswagen. As vagas abertas para outubro, novembro e dezembro já foram preenchidas. Se desejar saber em primeira mão sobre novas disponibilidades e integrar a lista de espera, envie um e-mail para visitasvw@programadevisita.com.br com o assunto LISTA DE ESPERA e informe seu nome e contato”.
É o que diz a página oficial do programa de visitas à histórica fábrica da Anchieta, em São Bernardo do Campo (SP). Inaugurada há 15 dias, a atração viu desaparecer em quatro horas as vagas de dois meses. Quando um novo lote foi aberto, no último dia 1º, esgotaram-se novamente, agora por três meses.
Frustrante para dezenas de colecionadores que ainda não conhecem a Garagem Volkswagen – o principal destino dos inscritos no passeio –, a mensagem diz mais sobre o momento de conexão da marca com o antigomobilismo nacional do que o congestionamento do programa.
Tudo começou em novembro de 2019, quando o acervo de exemplares históricos da Volkswagen, até então uma lenda desse universo, foi enfim apresentado a poucos convidados. Entre os 22 carros revelados, peças únicas, como a última Kombi produzida no mundo, o Gol BY e o Vemp, ou Veículo Militar Protótipo, um jipe construído sobre a base do Fusca para atender a uma licitação do Exército Brasileiro.
Exatamente três anos depois, outro convite à fábrica da Anchieta para conhecer as novas instalações da coleção, agora com 1.430 m² e capaz de comportar 36 carros, entre eles a Kombi Last Edition número 56 (das 1.200 confeccionadas para celebrar sua aposentadoria, em 2013) e um Golf GTI VR6, precisamente o número 1 de 99 da safra especial lançada em 2003 e que serviu como carro de teste do departamento de Imprensa da empresa.
Já era muito mais do que qualquer outra fabricante havia feito pelo segmento de clássicos no Brasil, mas na sequência a Volks decidiu empacotar seu legado histórico em um podcast e uma página de Instagram, que conta atualmente com pouco mais de 24 mil seguidores.
No último dia 4, a Garagem Volkswagen inaugurou uma extensão de 400 m2 para abrigar 13 exemplares de protótipos, carros-conceito, esportivos e modelos que nunca foram lançados. “São iniciativas independentes, mas sincronizamos a abertura do programa de visitas com a conclusão da ampliação da Garagem”, explica André Drigo, Gerente Executivo de Desenvolvimento do Produto na VW do Brasil e um dos idealizadores do acervo.
Extensão, aliás, patrocinada exclusivamente pela comercialização do Certificado de Veículos Clássicos, uma espécie de certidão de nascimento expedida pela Volkswagen que reconhece as características de produção de modelos fabricados em território nacional e também fornece dados originais de produção, que podem ser úteis para preservar e restaurar os veículos da marca.
Para que se perpetue independente da gestão em curso, a Garagem Volkswagen precisa ser autossustentável. Daí a importância do certificado, que custa R$ 500 (mais o frete) e pode ser encomendado por proprietários de modelos da marca com pelo menos 20 anos. Os dados são extraídos de um banco de dados da marca composto por cerca de 6,5 milhões de registros.
A marca também acaba de lançar uma coleção de 29 óculos e cinco relógios com temática vintage assinada pela Chilli Beans. “Comecei vendendo óculos no porta-malas de uma Parati. Então, ver essa coleção da Volkswagen ganhando vida é como dar sequência a um ciclo”, reflete Caito Maia, fundador da Chilli Beans.
“Sempre digo que todo brasileiro tem uma história com a Volkswagen. A Parati do Caito e outros clássicos da VW espalhados pelo Brasil representam a nossa trajetória nos últimos 72 anos por aqui”, acrescenta Ciro Possobom, CEO & Presidente da Volkswagen do Brasil.
Óculos da Chili Beans: modelo inspirado na linha VW. (Divulgação/Divulgação)
Embora seja protagonista entre as fabricantes de algum modo envolvidas no antigomobilismo nacional, a Volkswagen não está sozinha.
Para a JLR, o negócio é reformar e restaurar veículos antigos. Majoritariamente da Land Rover, mas modelos da Jaguar também são bem-vindos nos 900 m2 da Clínica de Restauração, aberta em 2021 dentro dos 60 mil m2 da fábrica de Itatiaia (RJ), que desde 2016 monta Evoque e Discovery Sport.
De acordo com a empresa, não há qualquer parte de um Land Rover que não possa ser restaurada ou recriada. Alguns fornecedores locais já chegaram a reproduzir peças (principalmente te acabamento) via impressão 3D, mas o fluxo principal de suprimentos é importado da Inglaterra. Cabines de pintura e estanqueidade, teste de rolos e pista de rodagem – recursos típicos de uma fábrica de veículos – também estão a serviço da clínica.
Renault e Stellantis mantêm acervos próprios. No da marca francesa, a principal relíquia é o primeiro protótipo da Scenic, montado em abril de 1998 e utilizado para treinar a equipe que fabricaria a minivan em série a partir de dezembro do mesmo ano. A Fiat vacilou e deixou escapar o primeiro 147 produzido em Betim (MG), mas hoje guarda, entre outros, uma unidade de 1978 na versão L.
Durante a comemoração pelos 100 anos de presença no Brasil, no dia 23 de janeiro, a General Motors insinuou que também partiria para o segmento de clássicos. “Em um século, saíram das fábricas da GM do Brasil produtos que marcaram época e se tornaram ícones da nossa cultura. A partir de 2025, esses clássicos estarão de volta às ruas como os Vintages Chevrolet, uma série limitada de veículos restaurados e customizados pela própria GM”, anunciou.
Mas, na verdade, o nebuloso plano da empresa envolveu a seleção de três oficinas de customização. Nos bastidores, diz-se que nem mesmo a GM sabe qual será o destino dos carros – um Monza, um Chevette, uma S10, um Omega, uma C10, um Kadett, uma Chevrolet Brasil, uma D20 e dois Opalas da década de 1970.