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O que o Brasil ganha com os dois prêmios do Carde na Monterey Car Week

Ferrari F50 e Isotta Fraschini Tipo 8A SS voltaram da Califórnia com troféus do The Quail e de Pebble Beach

Ferrari F50: modelo premiado no Monterey Car Week

Ferrari F50: modelo premiado no Monterey Car Week

Rodrigo Mora
Rodrigo Mora

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Publicado em 30 de agosto de 2025 às 08h35.

Menos de um ano depois de inaugurado, o museu de Campos do Jordão (SP) fez o que nenhum colecionador ou instituição havia feito: despachou três exemplares do seu acervo — que hoje ultrapassa 500 carros — para a Monterey Car Week, na Califórnia, o mais importante evento automotivo das Américas, realizada nessa edição entre os dias 8 e 17 de agosto.

Acabou voltando com dois troféus. O primeiro veio com a Ferrari F50, nada menos do que o segundo de três protótipos construídos antes da produção em série de 349 unidades. Após um desafiador processo de restauração, foi premiada no The Quail: A Motorsports Gathering, talvez o único banquete automotivo a oferecer clássicos pré-guerra em abundância, marcas ultra exclusivas (Gordon Murray Automotive e Koenigsegg, por exemplo) e lançamentos — foi lá que a Lamborghini escolheu para revelar suas últimas novidades, Temerario e Fenomeno.

O Pebble Beach Concours d’Elegance encerra a semana como o apogeu da Monterey Car Week. Criado em 1950, premia os clássicos mais exclusivos, fiéis ao estado original e historicamente relevantes com o título Best of Show, que nessa edição ficou com um Hispano-Suiza H6C Nieuport-Astra Torpedo 1924.

Dentre os 229 inscritos — 174 dos EUA e 55 vindos de 22 países —, o Isotta Fraschini Tipo 8A SS Guida Interna Sport 1928 do Carde saiu com o prêmio “Lap of the Luxury”. Estabelecido neste ano, consagra o carro mais luxuoso do evento.

“Esses reconhecimentos transmitem à elite do antigomobilismo mundial que nossa cultura automotiva comporta modelos desse calibre de sofisticação, raridade e valor”, declara Luiz Goshima, idealizador e diretor do Carde.

Outro modelo do Carde que conheceu de perto o Pebble Beach Concours d’Elegance foi um DuPont Model E Touring 1927.

No entendimento de Roberto Suga, Presidente do Conselho Consultivo da Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA), “essa conquista valoriza não só o acervo brasileiro, mas também a competência dos profissionais de restauração daqui do Brasil”.

Isotta Fraschini Tipo 8A SS: vencedor do prêmio “Lap of the Luxury” (Divulgação/Divulgação)

Mesma avaliação tem o colecionador Marco Pigossi: “marcar presença nos dois principais eventos da Monterey Car Week com automóveis brasileiros, restaurados por brasileiros no Brasil, é um simbolismo muito marcante. Essa é a consequência de um minucioso e dedicado esforço, que não se limita apenas a preservar a história do automóvel no Brasil, mas também a fomentar sua cultura e mostrá-la ao mundo”.

Pigossi também é Diretor de Cultura e Juventude da FBVA, e portanto já rodou o mundo atrás de clássicos. “O que se vê lá fora é um ecossistema completamente diferente do que temos por aqui, mais maduro em todos os aspectos. Com esse ponto de contato mais forte com o exterior, espera-se que o meio de veículos históricos no Brasil amadureça. Coisas que talvez levassem 20 ou 30 anos para acontecer, de repente tornam-se próximas. Criam-se mais iniciativas no país, espelhadas em negócios já consolidados lá fora. Oficinas passam a mirar padrões internacionais, colecionadores se organizam melhor, eventos ganham curadoria mais cuidadosa, e até a forma como contamos a nossa história muda. E quando a régua sobe, todo o ambiente evolui junto”, conclui.