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Beyond Expo 2025 projeta um futuro de cooperação global e expansão além da Terra

Mais do que inovação, o encontro em Macau projeta o nascimento de uma nova ordem baseada em dados, inteligência coletiva e sobrevivência compartilhada.

 (Divulgação)

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Publicado em 25 de maio de 2025 às 06h50.

Por Dr. Faustino Júnior*

A Beyond Expo 2025, em Macau, reconhecido como o maior evento de tecnologia, investimentos e inovação de impacto global, escancarou aquilo que os líderes mais atentos já pressentiam, mas que agora se tornou inegável: a próxima grande fronteira da humanidade está além dos limites terrestres. Mais do que uma feira de tecnologia, o evento se afirmou como uma plataforma de discussão estratégica sobre o futuro da espécie humana em um planeta sob pressão climática, energética e institucional. As transformações em curso não dizem respeito apenas ao que produzimos, mas à maneira como iremos sustentar a vida nos próximos séculos. A inteligência artificial, a exploração espacial e a cooperação internacional emergem, não como apostas experimentais, mas como alicerces indispensáveis a qualquer projeto civilizacional consistente.

O ponto de inflexão parece claro. A retórica tradicional, baseada na competitividade entre nações e na proteção de mercados internos, começa a perder tração diante da complexidade dos desafios contemporâneos. O século XX foi movido pela corrida nuclear e pelas disputas territoriais. O século XXI está sendo moldado por dados, algoritmos e governança climática. A ciência, como ficou claro nos debates em Macau, não tem nacionalidade. O avanço das tecnologias de uso dual, como computação em nuvem, sensores climáticos, algoritmos preditivos e painéis solares orbitais, demonstra que nenhuma potência, sozinha, será capaz de sustentar a aceleração tecnológica e lidar com os seus efeitos colaterais. A proposta de uma governança científica multilateral, que há anos parecia utópica, agora emerge como necessidade. Não se trata apenas de distribuir responsabilidades, mas de compartilhar capacidade técnica, recursos computacionais e estratégias globais de mitigação de riscos.

É neste ponto que a Beyond Expo assume relevância histórica. Entre os momentos mais emblemáticos do evento esteve a fala de Jian Wang, fundador da Alibaba Cloud, que defendeu a substituição da mentalidade de supremacia tecnológica por uma arquitetura cooperativa, onde o conhecimento circula, se complementa e gera soluções distribuídas. Essa lógica ganha forma prática em projetos espaciais que integram inteligência artificial com a captação energética fora da atmosfera terrestre. Sistemas orbitais estão sendo desenvolvidos para capturar a radiação solar diretamente no espaço e transmiti-la de forma estável para estações terrestres, resolvendo parte substancial da crise energética e, ao mesmo tempo, aliviando pressões sobre os recursos ambientais. O estudo da relação entre Sol e Terra, que até então era restrito a cientistas e climatologistas, agora se transforma em pauta de segurança energética, alimentar e geopolítica.

Os paralelos com a história são inevitáveis. Se a corrida espacial da Guerra Fria era motivada por supremacia simbólica e militar, a corrida atual é movida por uma urgência civilizatória. Não se trata mais de quem chegará primeiro a Marte, mas de quem será capaz de garantir a continuidade da vida com dignidade, estabilidade e equilíbrio ecológico. A inteligência artificial passa a ser o novo petróleo — não como commodity, mas como infraestrutura crítica. Os algoritmos que hoje otimizam entregas, anúncios e diagnósticos médicos serão os mesmos que, em breve, calcularão rotas orbitais, distribuirão energia solar espacial e monitorarão os ciclos atmosféricos com precisão milimétrica.

Participei da Beyond Expo como palestrante em 2024 e, neste ano, retornei como convidado em meio a um ambiente ainda mais maduro e provocativo. A cada edição, a impressão de que estamos desenhando uma nova ordem tecnológica global se fortalece. A inteligência artificial, que até recentemente era tratada como ferramenta de automação e ganho de escala, passa a ser compreendida como base para a expansão interestelar, para a simulação de colapsos ecológicos e para o redesenho de cadeias logísticas que operem além da Terra. A corrida espacial do século XXI não será movida apenas por foguetes e satélites, mas por dados, protocolos de integração e visão compartilhada de espécie.

E é neste cenário que emerge o papel estratégico do líder, do investidor, do formulador de políticas públicas e do empreendedor de impacto. Durante a Beyond Expo, formulei oito reflexões que considero essenciais para qualquer liderança que deseja permanecer relevante em um mundo em profunda transformação. A primeira é que startups podem quebrar, mas fundadores não, já que a resiliência continua sendo o capital mais importante. É ela que sustenta a reinvenção quando o ciclo se encerra. A segunda é que a inovação verdadeira sobrevive ao hype, porque seu valor está na constância e não na viralização. O que importa não é quem aparece nas manchetes, mas quem entrega valor de forma consistente ao longo do tempo. A terceira é que resolver um problema é sempre mais valioso do que aliviar uma dor momentânea. Alívio é pontual. Solução é estrutural. A quarta é que disrupção não aguarda aprovação de mercado, pois inovação não é sobre permissão, é sobre coragem. Quem espera validação perde o timing. A quinta é que aquilo que você constrói deve ser capaz de mover o mundo, pois impacto real nasce de propósito, não de escala. É a visão que define o tamanho da transformação. A sexta é que o caos molda o caráter, revelando lideranças consistentes e descartando estruturas frágeis. Momentos difíceis são, também, auditorias de valores. A sétima é que devemos perseguir significado, não barulho, pois ruído gera atenção, mas propósito gera lealdade. E, finalmente, toda grande mudança começa com uma ideia considerada maluca, porque o impossível só existe até que alguém o execute.

Essas reflexões não são teóricas. Elas têm aplicações concretas nos setores produtivos, nos conselhos empresariais e na formulação de teses de investimento para os próximos vinte anos. Quando falamos em inteligência artificial aplicada à colonização espacial, estamos falando de novas fronteiras jurídicas, tributárias, educacionais e de soberania digital. A migração de capital para setores de alta densidade tecnológica exige marcos regulatórios ágeis, lideranças preparadas e estruturas institucionais mais abertas à experimentação. As nações e empresas que entenderem isso primeiro terão não apenas vantagem competitiva, mas protagonismo histórico.

A Beyond Expo não é um evento comum. É uma janela para o futuro. Uma antecipação do mundo que virá, com suas urgências e oportunidades. Um mundo onde as fronteiras entre ciência, ética e estratégia se dissolvem e onde pensar em termos locais, isolados ou setoriais será sinônimo de obsolescência. O futuro não será decidido apenas por quem tiver mais capital, mais dados ou mais tecnologia. Será liderado por quem conseguir alinhar tudo isso a um projeto de espécie. E quem ainda pensa em termos de mercado, território e vantagem isolada, em breve entenderá que a verdadeira inovação nunca foi sobre dominação, mas sobre sobrevivência compartilhada.

 

*Faustino Júnior é advogado tributarista, empreendedor digital e investidor imobiliário.
consultoria@faustinojunior.adv.br | @faustinojunior.adv.br

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