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Investir é um ato de permanência

A filosofia da permanência na gestão de patrimônio

O capital é só o veículo. O que ele transporta é a história de cada família: seu esforço, sua trajetória, suas inquietações e suas esperanças (Ekin Kizilkaya/Getty Images)

O capital é só o veículo. O que ele transporta é a história de cada família: seu esforço, sua trajetória, suas inquietações e suas esperanças (Ekin Kizilkaya/Getty Images)

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Panorama Econômico

Panorama Econômico

Publicado em 2 de junho de 2025 às 19h59.

Última atualização em 2 de junho de 2025 às 20h09.

Por Bernardo Zajd

Num mundo que celebra o efêmero, insistir na ideia de permanência é quase um ato de rebeldia. Mais do que disciplina, permanência é um modo de estar no tempo — com visão, responsabilidade e serenidade. Investir, nesse contexto, não é apenas uma alocação de capital: é um ato de rara esperança.

Daquela esperança que não se confunde com ingenuidade, mas que se ancora em método, escuta e paciência. E que, desses elementos, constrói uma visão de futuro — uma crença.

Essa convicção molda o nosso jeito de cuidar do patrimônio. E, se há algo que aprendemos ao longo da jornada, é que a verdadeira sofisticação na gestão está menos em vencer o trimestre e mais em atravessar os ciclos com coerência. A performance importa, sim. Mas é a permanência que sustenta.

Do ruído à escuta: onde tudo começa

Nossos dias são marcados pela velocidade, sempre acelerando. Em mercados, o agora reina — alimentado por algoritmos, manchetes e impulsos. Mas quem trabalha com famílias, como nós, sabe: o bom trabalho não começa nos números velozes, mas no diálogo cuidadoso. A escuta é o ponto de partida. E escutar de verdade é raro.

É nesse gesto — silencioso, mas profundo — que começamos a construir algo que vai além do portfólio: entendimento e confiança. O capital é só o veículo. O que ele transporta é a história de cada família: seu esforço, sua trajetória, suas inquietações e suas esperanças.

Por isso, a escuta vem antes da estratégia. Antes do retorno, vem o vínculo. Antes da rentabilidade, vem o entendimento.

Investimento com vocação para durar

Muitos nos perguntam por que admiramos os endowments universitários. Não é modismo nem fetiche intelectual. É um modelo que traduz, com clareza, o que acreditamos: capital não é um fim em si mesmo. É uma ferramenta para viabilizar o tempo.

Esses fundos não celebram retornos isolados. Celebram consistência. Não buscam genialidade tática, mas coerência estrutural. Não se medem em meses, trimestres ou mesmo anos. Se autoavaliam em décadas. E, talvez o mais importante: não se deixam seduzir pela urgência do mercado, porque servem a missões de longo prazo. Isso nos inspira.

Nesses períodos de maior volatilidade — e eles são recorrentes, como as marés —, a tentação do atalho reaparece. Mas o que distingue um bom family office não é o ímpeto

de reagir, e sim a serenidade de resistir. É a decisão, reiterada diariamente, de seguir princípios mesmo quando o mercado sussurra o contrário.

Patrimônio: mais do que números

O patrimônio de uma família é muito mais que os ativos que o compõem. É a história da sua construção e o legado que ele deixa.

Na gestão patrimonial, aprendemos que riqueza de verdade não cabe apenas numa planilha. O que sustenta o capital ao longo de gerações é a sua capacidade de fazer sentido. Chamamos isso de "felicidade emotiva do capital" — quando os investimentos não servem apenas ao retorno, mas à biografia.

Foi desse desejo que nascemos — e muitos outros family offices mundo afora também —, para construir um espaço onde capital, confiança e continuidade pudessem conversar com coerência.

Esse é o nosso ponto de convergência: unir performance com permanência, técnica com afeto, disciplina com visão. Nosso trabalho é, essencialmente, ajudar famílias a transformar capital em patrimônio — e patrimônio em legado. A preservar o que importa. A planejar o que vem depois.

Não se promete o impossível. Oferece-se o que se tem de mais precioso: clareza, vínculo e um pacto com o tempo.

Na 1618, o que nos move não é a ambição de ser os maiores. É a responsabilidade de sermos os mais fiéis ao que acreditamos.

Bernardo Zajd é sócio-fundador, Co-CEO da 1618 Investimentos e tem mais de 20 anos de experiência na indústria de Wealth Management. Economista, com curso de especialização em Behavioral Finance na University of Chicago.

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