Economia

As quatro consequências práticas para o governo após o aumento do IOF

Atrito entre ala política e econômica, tensão com o Congresso, risco de abalo na popularidade de Lula e abalo na credibilidade da política econômica ocorreram depois da alta do imposto

Ministério da Fazenda: pasta comandada por Fernando Haddad tem sido alvo de críticas de parlamentares e membros da ala política pela decisão de aumentar as alíquotas do IOF (Leandro Fonseca/Exame)

Ministério da Fazenda: pasta comandada por Fernando Haddad tem sido alvo de críticas de parlamentares e membros da ala política pela decisão de aumentar as alíquotas do IOF (Leandro Fonseca/Exame)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 28 de maio de 2025 às 14h09.

Última atualização em 28 de maio de 2025 às 16h06.

O aumento das alíquotas do Imposto sobre Operação Financeira (IOF) trouxe quatro consequências imediatas para a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo banqueiros, investidores e analistas políticos ouvidos pela EXAME. A mais recente é uma nova crise entre as alas política e econômica, opondo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o ministro da Casa Civil, Rui Costa.

Segundo reportagem da Folha de S. Paulo publicada na última terça-feira, 27, a Casa Civil alegou que o conteúdo do decreto presidencial ficou restrito ao núcleo de secretários de Haddad, de forma que a equipe de Rui Costa teve menos de 24 horas para fazer a análise técnica e jurídica do texto.

Por outro lado, reportagem de O Globo, publicada também na última terça, informou que a equipe econômica enviou os detalhes do texto, incluindo as alíquotas à Casa Civil uma semana antes da publicação do decreto.

Esse imbróglio reforçou entre analistas econômicos e políticos a visão de que as alas política e econômica não se entendem.

Crise com o Congresso

No último domingo, 25, Haddad criou constrangimento com o Congresso ao afirmar, em entrevista à O Globo, que o equilíbrio fiscal depende muito mais dos parlamentares do que governo.

Coube ao presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), em evento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), mandar um recado ao petista.

“O Executivo não pode gastar sem freio e depois passar o volante para o Congresso segurar. O Brasil não precisa de mais imposto. Precisa de menos desperdício”, disse Motta.

Já tramitam tanto na Câmara quanto no Senado projetos de decreto legislativo para derrubar o aumento do IOF. Além disso, as bancadas do PL, do Republicanos e do União Brasil, que totalizam 194 deputados, já sinalizaram que votarão para derrubar a medida do governo.

A equipe econômica, por outro lado, jogou mais gasolina na fogueira ao sinalizar que se o Congresso derrubar o decreto será necessário aumentar o contingenciamento de emendas parlamentares.

Popularidade de Lula em ameaça

Outra consequência do decreto é a possibilidade de afetar negativamente a popularidade de Lula entre os brasileiros de classe média.

Como mostrou a EXAME, viajar ficará mais caro e parte do aumento de alíquotas encarece gastos em cartões de crédito e débito no exterior, a compra de moeda estrangeira em espécie e a remessa de recursos para o exterior.

Além de Rui Costa, o ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República, Sidônio Palmeira, mostrou desconforto com a estratégia de divulgação da medida. Ele se queixou de não ter sido consultado sobre o assunto, diante do impacto direto que pode causar na popularidade de Lula.

Questionado sobre esse fato, Haddad afirmou que a Secom nas participa das divulgações dos resultados bimestrais das contas públicas.

Credibilidade da equipe econômica arranhada

Por fim, a divulgação de aumento de alíquotas de IOF minou parte da credibilidade de Haddad, diante dos efeitos negativos para o mercado financeiro.

O ministro recuou do aumento da tributação de fundos de investimento, mas o estrago já estava feito.

A percepção entre analistas, banqueiros e investidores ouvidos pela EXAME nos últimos dias é de que o governo deu mais uma demonstração clara de que não pretende cortar gastos. Somente aumentar a arrecadação via impostos.

Diante das repercussões negativas e após ouvir banqueiros, o Ministério da Fazenda passou a estudar alternativas ao aumento da alíquota de IOF para aumentar a arrecadação de impostos.

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