Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 23 de setembro de 2025 às 09h00.
Última atualização em 23 de setembro de 2025 às 11h54.
Os diretores do Banco Central (BC) afirmaram nesta terça-feira, 23, que a taxa de juros permanecerá em 15% ao ano por um "período bastante prolongado" para garantir a convergência da inflação à meta de 3%. As informações foram divulgadas na ata da última reunião do colegiado.
Segundo os membros do Comitê de Política Monetária (Copom), apesar da desaceleração da economia dentro do esperado, da queda da inflação nos últimos meses e da redução nas expectativas medidas pelo Boletim Focus, o atual cenário exige que a Selic permaneça em um patamar "significativamente contracionista" por um longo período.
"Os vetores inflacionários seguem adversos, como a resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho, expectativas de inflação desancoradas e projeções de inflação elevadas. Tal cenário exige uma política monetária em patamar significativamente contracionista por um período bastante prolongado para assegurar a convergência da inflação à meta", informou o BC.
O comitê reforçou que a desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto comum a todos os membros, criando um ambiente que aumenta o custo da desinflação em termos de atividade.
O Focus prevê a inflação no fim de 2025 em 4,83%, 4,29% para 2026, 3,90% para 2027 e 3,70% para 2028. Todas as projeções estão longe do centro da meta de 3%.
Os diretores afirmaram que o cenário de convergência da inflação à meta torna-se mais desafiador com expectativas desancoradas para prazos mais longos.
"Na discussão sobre esse tema, a principal conclusão obtida e compartilhada por todos os membros do Comitê foi que, em um ambiente de expectativas desancoradas, como o atual, exige-se uma restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado", disse.
Na ata, os diretores afirmaram que as leituras recentes da inflação mostram uma dinâmica mais benigna do que se previa no início. A avaliação do Copom é que esse resultado é a combinação de um câmbio mais apreciado e de um comportamento mais benigno das commodities, que contribuiu para a redução nos preços de bens industrializados e alimentos. Por outro lado, os membros do comitê observam que a inflação de serviços tem se mantido "mais resiliente".
"Para além das variações dos itens, ou mesmo das oscilações de curto prazo, os núcleos de inflação têm se mantido acima do valor compatível com o atingimento da meta há meses, corroborando a interpretação de uma inflação pressionada pela demanda e que requer uma política monetária contracionista por um período bastante prolongado", informou o BC.
Hoje, o Banco Central projeta que o IPCA vai atingir 3,4% no primeiro trimestre de 2027, período em que o Copom mira para colocar a inflação na meta de 3,0%.
A avaliação dos diretores é que a atividade econômica brasileira indica “moderação no crescimento”, como esperado pelo comitê. O Copom afirma que, mesmo com elementos que poderiam gerar "discrepâncias", como estímulos fiscais e de crédito, não houve mudanças no que se esperava.
"As pesquisas setoriais mensais e os dados mais recentes de consumo corroboram, em geral, a continuidade da redução gradual do crescimento. Em momentos de inflexão no ciclo econômico, é natural que se observem sinais mistos provenientes de indicadores econômicos ou de diferentes mercados. Desse modo, o Comitê seguirá acompanhando a totalidade dos dados". disse.
O comitê afirma ainda que mercados mais sensíveis às condições financeiras, como o mercado de crédito, têm apresentado moderação mais nítida, com arrefecimento no volume de concessões, do que o mercado de trabalho.
"O Comitê reforça que o arrefecimento da demanda agregada é um elemento essencial do processo de reequilíbrio entre oferta e demanda da economia e convergência da inflação à meta", informou.
Em relação ao mercado externo, o comitê afirma que, apesar do início do ciclo de corte de juros pelo Federal Reserve (Fed), o cenário se mantém incerto devido às tarifas impostas pelo governo americano a outros países e ao aumento de gastos fiscais.
“Como de praxe, o Comitê focará nos mecanismos de transmissão da conjuntura externa sobre a dinâmica da inflação interna e seu impacto sobre o cenário prospectivo”, disse a ata.
Os diretores discutiram ainda a recente apreciação do câmbio, possivelmente relacionada, em parte, ao diferencial de juros e à depreciação da moeda norte-americana frente a diversas outras moedas.