Economia

Ata mostra Fed dividido entre corte de juros já em julho ou só em 2026

Dirigentes do BC americano seguem atentos a inflação acima da meta, mas percebem sinais de desaceleração na economia americana

BC americano manteve taxa de juros inalteradas na última reunião (Samuel Corum/Bloomberg)

BC americano manteve taxa de juros inalteradas na última reunião (Samuel Corum/Bloomberg)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 9 de julho de 2025 às 15h24.

A ata da mais recente reunião do Federal Reserve, divulgada nesta terça-feira (9), revelou que o debate sobre o início do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos segue ganhando força dentro do Comitê. Segundo o documento, alguns membros do FOMC (Comitê de Mercado Aberto, na sigla em inglês) estariam abertos a reduzir os juros já na próxima reunião, prevista para julho, caso os próximos dados econômicos confirmem a trajetória atual de desaceleração da inflação e moderação da atividade.

“Alguns participantes observaram que, se os dados evoluírem conforme suas expectativas, estariam abertos a considerar uma redução da faixa-alvo da taxa básica já na próxima reunião”, registra a ata.

O texto não especifica o número exato de dirigentes favoráveis ao corte imediato, mas a expressão “a couple of participants” — usada no documento — costuma indicar dois membros do comitê.

Inflação em queda, mas ainda elevada

A sinalização ocorre em meio a uma leitura mais equilibrada do cenário econômico por parte dos dirigentes do Fed. A maioria dos participantes reconheceu que a inflação nos EUA vem cedendo de forma gradual desde o pico em 2022. Ainda assim, o índice segue acima da meta de 2% do banco central, o que justifica a cautela de parte do Comitê.

A ata destaca que a inflação tem mostrado progresso, ainda que de forma “desigual”. Houve avanço principalmente nos preços de serviços, mas alguns dirigentes apontaram que o núcleo da inflação (que exclui alimentos e energia) tem mostrado pouco avanço recentemente. Além disso, há preocupação com o impacto potencial de tarifas sobre os preços, o que pode dificultar a convergência da inflação para a meta no curto prazo.

“Alguns participantes notaram que os aumentos tarifários tendem a pressionar os preços para cima”, afirma o documento, ponderando, no entanto, que esses efeitos podem ser temporários e parcialmente compensados pela capacidade de adaptação das empresas.

Atividade sólida, mas com sinais de moderação

A economia americana continua crescendo em ritmo sólido, segundo os membros do Comitê. A ata destaca que o consumo e o investimento das empresas seguem positivos, embora existam sinais de arrefecimento tanto no comportamento das famílias quanto nas decisões corporativas.

Medidas de confiança permanecem baixas entre consumidores e empresários, e há indícios de que famílias de baixa e média renda já estão trocando marcas e cortando gastos diante de preços ainda elevados. No setor corporativo, a incerteza política e comercial tem levado muitas empresas a adiar projetos de maior escala.

No caso do mercado de trabalho, os dirigentes do Fed afirmam que as condições permanecem sólidas e o desemprego segue baixo, mas há indícios de desaceleração, como a menor intensidade de contratações e relatos de empresas congelando vagas. Além disso, a política migratória tem limitado o crescimento da força de trabalho, e o crescimento dos salários já dá sinais de moderação, o que pode contribuir para aliviar pressões inflacionárias.

Debate sobre juros em aberto

A ata mostra que há divisão no comitê sobre o momento mais adequado para iniciar os cortes de juros. Enquanto a maioria considera que alguma redução ainda este ano será apropriada, outro grupo defende a manutenção dos juros nos níveis atuais — entre 4,25% e 4,5% — até que haja mais clareza sobre a persistência da inflação.

Muitos membros argumentam que os efeitos inflacionários das tarifas podem ser limitados e temporários, e que a ancoragem das expectativas de inflação no longo prazo favorece um corte ainda em 2025. Outros alertam que uma redução prematura poderia reverter os avanços recentes no combate à inflação, especialmente se a economia permanecer resiliente.

Por outro lado, os riscos de manter os juros altos por muito tempo também foram mencionados: caso o mercado de trabalho e a atividade econômica se enfraqueçam de forma mais intensa, o Fed pode ser forçado a agir para evitar uma desaceleração mais forte.

“Os participantes concordaram que, embora a incerteza sobre a inflação e as perspectivas econômicas tenha diminuído, ainda é apropriado adotar uma abordagem cautelosa em relação aos ajustes na política monetária”, conclui a ata.

Acompanhe tudo sobre:Fed – Federal Reserve SystemJerome PowellEstados Unidos (EUA)Juros

Mais de Economia

Queremos a principalidade do cliente sem perder a essência de fomento, diz CEO do Banco da Amazônia

Argentina consegue viabilizar empréstimo de US$ 2 bi para oleoduto de Vaca Muerta

'Quando um não quer, dois não brigam', diz Haddad sobre relação com Motta

Vendas no comércio caem 0,2% em maio, segundo recuo consecutivo