Economia

BC da Argentina vende US$ 379 milhões para segurar câmbio, sete vezes mais do que na quarta-feira

Peso atinge limite da banda cambial definida com FMI, enquanto desgaste político de Milei cresce

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 18 de setembro de 2025 às 18h07.

Última atualização em 18 de setembro de 2025 às 18h37.

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O Banco Central da Argentina aumentou seus esforços para proteger o peso e vendeu US$ 379 milhões nesta quinta-feira, 18. A movimentação ocorre após os ativos do país registrarem uma das piores perdas globais, intensificando a pressão sobre o governo do presidente Javier Milei.

Pelo segundo dia consecutivo, o Banco Central do país precisou intervir no mercado cambial, vendendo uma quantidade considerável de dólares para garantir que o peso se mantivesse dentro dos limites estabelecidos na negociação com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Nesta quarta-feira, 17, o BC argentino vendeu US$ 53 milhões para sustentar o peso em queda.

"O Banco Central nunca terá problemas em reagir quando o limite superior da banda for atingido", declarou Manuel Adorni, porta-voz do governo de Javier Milei, em uma coletiva de imprensa nesta quinta-feira. O peso oficial fechou a 1.474,5 por dólar, ligeiramente abaixo do limite superior.

Investidores aguardavam que as eleições de meio de mandato, previstas para o próximo mês, aumentassem o apoio a Milei no Congresso, favorecendo a implementação de sua agenda econômica.

No entanto, com os índices de desaprovação crescendo, a economia em retração e uma série de obstáculos políticos — que vão desde escândalos de corrupção até a resistência de parlamentares —, os investidores começaram a se desfazer de ativos argentinos.

O acordo com o FMI

Os títulos em dólares continuaram sua queda acentuada, liderando as perdas nos mercados emergentes. As obrigações com vencimento em 2035 caíram 4,5 centavos de dólar, sendo negociadas abaixo de 48 centavos, o nível mais baixo em quase um ano, segundo a Bloomberg. O índice de ações S&P Merval da Argentina recuou 4,7%, registrando a maior queda entre 92 índices globais.

"O duplo impacto da pressão cambial e da resistência legislativa aumenta a incerteza sobre o governo e eleva os riscos de um grande vazamento de reservas para manter a atual estrutura cambial ou de um abandono desordenado dela", explicou Juan Sola, analista do Banctrust & Co., em entrevista à Bloomberg.

Antes da intervenção de quarta-feira, a Argentina já usava outros mecanismos, como a venda de dólares pelo Tesouro ou contratos futuros de câmbio, para estabilizar o peso. O governo também restringiu a demanda de dólares pelas corretoras, com a autoridade de valores mobiliários reinterpretando uma norma existente que impede as corretoras de acumular posições em dólares.

Milei sob pressão

Com as eleições parlamentares se aproximando, o presidente tem agora o desafio de transmitir uma imagem de estabilidade econômica para conquistar mais apoio no Congresso e impulsionar sua agenda de reformas econômicas.

Investidores alertam que defender o peso no limite superior da banda pode resultar em um custo elevado, uma vez que as reservas líquidas do Banco Central permanecem em níveis muito baixos.

Especialistas já apontam a necessidade de acelerar a flexibilização cambial, ajustando os limites de forma mais rápida para as cotações da moeda. No entanto, outros investidores questionam o apoio político instável do presidente após uma derrota expressiva nas eleições provinciais em Buenos Aires, no início deste mês.

Em mais um revés na quarta-feira, a Câmara dos Deputados rejeitou, por uma maioria de dois terços, os vetos de Milei a projetos de lei que aumentariam os gastos com universidades e saúde. Agora, esses projetos seguem para o Senado, que se mostra ainda mais de oposição ao governo.

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