Plataforma de petróleo P-52, na bacia de Campos, no Rio de Janeiro, em 2010 (Germano Lüders/Exame)
Agência de Notícias
Publicado em 3 de setembro de 2025 às 16h52.
Última atualização em 3 de setembro de 2025 às 17h18.
Uma Amazônia livre de combustíveis fósseis e na qual se promova o desenvolvimento sustentável e se apoie os indígenas e as comunidades que a habitam parece utópica diante dos interesses que insistem em explorar petróleo e gás na floresta, mas uma proposta de um grupo de ecologistas e povos originários quer torná-la real.
A ideia tem sido debatida há décadas, mas na recente reunião presidencial da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), ONGs indígenas e ambientalistas pediram que o tema seja incluído na próxima Conferência do Clima da ONU (COP30).
"A Amazônia, centro de nossa vida e memória, ecossistema fundamental para o equilíbrio climático global, enfrenta um ataque cada vez mais amplo dos interesses extrativistas, entre eles os combustíveis fósseis", diz o pedido, assinado por cerca de 50 ONGs.
As organizações denunciam um "ataque cada vez mais amplo dos interesses extrativistas", com exemplos concretos em quatro nações que integram a OTCA: Brasil, Colômbia, Equador e Peru.
Para a coordenadora de Políticas Públicas da rede brasileira de organizações ecologistas Observatório do Clima, Suely Araújo, embora uma Amazônia sem petróleo pareça distante, "é possível" e "pode se tornar realidade" se decisões imediatas forem tomadas.
"As utopias são o que nos movem. Devemos lutar para que a demanda por uma Amazônia livre de petróleo se torne realidade o mais rápido possível, e isso começa com a decisão de não abrir mais áreas de exploração na região, tanto em terra firme quanto em mar aberto", disse ela à EFE.
No Brasil, a posição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se diz defensor do meio ambiente, tem sido categórica: "É com este petróleo que vamos enriquecer o nosso povo e financiar a transição energética".
A declaração é uma referência ao polêmico projeto da Petrobras para exploração de petróleo em águas profundas que se localizam nas proximidades da foz do Rio Amazonas.
Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), essa região é considerada de "extrema sensibilidade", porque conta com reservas ambientais, territórios indígenas, manguezais, recifes e uma variada diversidade marinha com espécies em perigo de extinção, como o boto-cinza e o peixe-boi.
O Ibama tem sido uma 'pedra no sapato' para a Petrobras, pois resiste em conceder a licença ambiental devido aos altos riscos que o projeto representa.
Apesar disso, o governo federal licitou projetos para a exploração em 47 blocos de petróleo e gás na mesma região, dos quais 19 foram concedidos à Petrobras, às americanas ExxonMobil e Chevron e à chinesa CNPC.
Araújo questiona as licitações, enfatizando que "a exploração de petróleo traz dinheiro, mas não distribuição de renda".
Ela ressaltou que, apesar da experiência do Brasil como oitavo maior produtor de petróleo do mundo, as regiões do país onde há exploração de hidrocarbonetos "não resolveram seus problemas sociais e estão longe de fazê-lo".
"Acreditar em um desenvolvimento com base em combustíveis fósseis é olhar para o século passado e negar a gravidade da crise climática", alegou.
Para a COP30, Araújo advertiu que o debate sobre uma Amazônia livre de petróleo e gás não será resolvido nessa instância, "nem poderia", já que, segundo defende, deve ser decidido pelos países que integram a Amazônia.
No entanto, ela ressaltou que "esse processo pode dar passos relevantes na COP30, o que seria muito bom, mas tende a demorar algum tempo".
A transição energética e a descarbonização serão um dos temas centrais do III Fórum Latino-Americano de Economia Verde, organizado pela Agência EFE em São Paulo na próxima quinta-feira.
O encontro reunirá autoridades e especialistas para debater sobre a crise climática e conta com o patrocínio de ApexBrasil e Norte Energia, além do apoio de Ibmec, Observatório do Clima e Imaflora.