Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 18 de setembro de 2025 às 06h00.
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) em manter a taxa de juros em 15% ao ano reforça a perspectiva de que um ciclo de corte somente deve começar a partir de 2026, segundo economistas ouvidos pela EXAME.
No comunicado, o Banco Central (BC) manteve a mesma comunicação da última reunião, sem indicação do início de um ciclo de corte da Selic no curto prazo.
“O tom ainda foi bem hawkish, sem dar espaço para discussão sobre corte de juros no curto prazo, apesar da melhora recente no cenário externo, com o corte de juros pelo Fed e a valorização do câmbio desde a última reunião”, afirma Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter.
A economista diz que o Copom manteve a sua avaliação, parecida com a decisão de julho, sobre o dinamismo do mercado de trabalho e desaceleração moderada do crescimento econômico.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta semana mostraram que a taxa de desemprego no país está no nível mais baixo da história.
Enquanto isso, o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre deste ano mostrou que a economia desacelerou em relação ao primeiro trimestre.
“Com expectativas desancoradas e mercado de trabalho robusto, o Comitê indica que não deve ter pressa em iniciar a discussão sobre redução na Selic. A perspectiva de corte de juros ainda em 2025 fica mais distante”, diz.
Para Rafael Cardoso, economista-chefe do Banco Daycoval, o reforço do BC de que é necessário cautela na condução da política monetária e que não hesitará em retomar um ciclo de ajuste caso julgue apropriado passa uma mensagem “conservadora de reforço da sua estratégia”.
“A mensagem foi conservadora, baseada num diagnóstico que faz algum reconhecimento da melhora do cenário, mas muito leve e com bastante ressalva. Portanto, no final das contas, o BC vê isso como argumento para reforçar a estratégia de manter os juros estáveis em um patamar contracionista durante um período prolongado”, afirma Cardoso.
O economista diz ainda que o comunicado, sem sinais de corte no curto prazo, reforça a projeção do banco de que o ciclo comece apenas no próximo ano.
“Temos a projeção do primeiro corte para o início do próximo ano. Acreditamos que o BC deve iniciar o ciclo em janeiro. Internamente, nossos relatórios avaliavam um viés de postergação do início do ciclo. O comunicado de hoje não aumenta esse viés, mas reforça o cenário de corte apenas no início de 2026”, diz.
O economista-chefe do Daycoval disse ainda que o início do ciclo do Federal Reserve (Fed) pode ajudar o Banco Central na tarefa de convergir para um patamar inflacionário mais benigno.
“Obviamente, o Fed pega mais os bens voláteis do que a inflação como um todo, dado o impacto no câmbio. Mas ainda assim seria uma ajuda que o BC poderia ter”, diz.
Em relatório da Warren Rena, os economistas Luis Felipe Vital, Cecilia Mazzoni e Thais Borges destacam pequenos ajustes na comunicação do BC, com a retirada do trecho que falava sobre a “continuação da interrupção”.
“[O BC] assume, por ora, o final do ciclo de aperto monetário, mas manteve que avalia se a manutenção da taxa de juros por tempo bastante prolongado será suficiente para assegurar a convergência da inflação”, afirmam.
Os economistas também avaliam que o comunicado reduz as apostas de corte na taxa Selic ainda em 2025, com a manutenção do trecho que fala sobre “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado”.