Haddad: ministro vive um dos momentos mais conturbados em seu cargo neste governo (AFP)
Agência de notícias
Publicado em 3 de junho de 2025 às 13h28.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta terça-feira que “sofre bastante” no cargo que ocupa no governo, mas que tem “alegrias” ao encontrar brechas para soluções do problema fiscal do país.
Para Haddad, apesar da repercussão negativa do decreto que aumentou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), a crise rendeu bons frutos para a discussão sobre ajuste fiscal.
— Solução estrutural é a melhor possível. Para mim, foi muito bom. Sofro bastante no cargo, mas tenho essas alegrias de olhar uma brecha para encontrar soluções mais estruturadas. Não tem sido fácil para nenhum ministro da Fazenda, mas gosto de onde estou. Sobretudo se conseguirmos chegar na outra margem com uma situação mais estruturada — afirmou o ministro em evento da revista Piauí.
O ministro vive um dos momentos mais conturbados em seu cargo neste governo, sob pressão do mercado e Congresso para revogar a medida de aumento de arrecadação, frente a necessidade de buscar recursos para cumprir a meta fiscal deste ano.
Segundo o ministro da Fazenda, o presidente da Câmara, Hugo Motta, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, tiveram posturas essenciais para a condução da crise e dos diálogos em torno de uma solução.
— Eu entendo que o que aconteceu de uma semana para cá foi a melhor coisa que poderia ter acontecido, e devemos muito isso aos presidentes Hugo Motta e Davi Alcolumbre. Quando a crise, vamos chamar assim, se instalou, o papel que se esperava dos dois presidentes, institucionalmente falando, era exatamente o papel que eles cumpriram, de maneira muito eficaz.
Mais cedo, durante a manhã, Haddad disse que o pacote de medidas de ajuste fiscal negociado com o Congresso deve contemplar um Projeto de Emenda à Constituição (PEC), e um projeto de lei (PL), além de uma medida provisória (MP), caso seja necessário. Segundo ele, é um "plano robusto", com um impacto estrutural sobre as contas públicas
— Eu acredito que o tamanho está bom, acredito que até superior do que nós fizemos no ano passado, e dá uma estabilidade duradoura nas contas — disse Haddad, que completou — Tecnicamente é um plano robusto, politicamente está amparado.
Haddad, no entanto, não detalhou quais medidas devem ser propostas. Segundo ele, o pacote ainda deve ser levado primeiro para a avaliação do presidente Lula no início desta tarde.
O governo se enxerga em um cenário de paralisação da máquina pública caso o decreto que aumentou o IOF seja derrubado pelo Congresso.
Isso ocorre quando as despesas não obrigatórias caem a um nível que dificulta a manutenção do dia a dia do governo. As despesas não obrigatórias pagam investimentos, compras do governo e o custeio de coisas mais básicas, como insumos e contas de luz.
Apresentado pelo Ministério da Fazenda ao final do mês passado, o texto do decreto aumentou o imposto cobrado em transações como compra de moeda estrangeira, remessas ao exterior, operações de crédito e uso de cartão de crédito internacional. O objetivo foi elevar a arrecadação federal em cerca de R$ 20 bilhões.
No mesmo dia do anúncio, na última quinta-feira, o Ministério da Fazenda recuou da taxação sobre envio de recursos de fundos ao exterior, o que reduziu em R$ 1,4 bilhão o impacto da medida.