Economia

Ataque ao Brasil de caráter político, diz Haddad sobre tarifas de Trump

Ministro da Fazenda afirmou que a medida é um 'tiro no pé' por parte da extrema-direita

Segundo Haddad, decisão de presidente dos EUA não parte de ‘nenhuma racionalidade econômica’ (Diogo Zacarias/ Flickr)

Segundo Haddad, decisão de presidente dos EUA não parte de ‘nenhuma racionalidade econômica’ (Diogo Zacarias/ Flickr)

Publicado em 10 de julho de 2025 às 11h52.

Última atualização em 10 de julho de 2025 às 11h53.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticou o anúncio do governo dos Estados Unidos de que aplicaria tarifas de 50% sobre as importações brasileiras, medida prevista para entrar em vigor a partir de 1º de agosto. Para o ministro, a decisão não tem fundamentação econômica e reflete um movimento político, associado ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

"A família Bolsonaro urdiu esse ataque ao Brasil com um objetivo específico que está em curso. A única explicação é de caráter político", disse o ministro em entrevista coletiva nesta quinta-feira, 10, a uma série de veículos independentes.

Haddad destacou que setores econômicos do Brasil já procuram o governo federal em busca de alternativas para reverter a tarifa imposta pelos EUA. O ministro afirmou que a medida é um "tiro no pé" por parte da extrema-direita, pois, além de encarecer os produtos exportados ao mercado americano, afeta as cadeias produtivas, como exemplificado pelo impacto na Embraer, que depende de componentes americanos para a fabricação de seus aviões.

Crítica à família Bolsonaro e "golpe contra o Brasil"

Haddad também criticou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos Estados Unidos buscando apoio para uma possível anistia ao ex-presidente, em relação aos atos de 8 de janeiro.

Para o ministro da Fazenda, a tarifa é um "golpe contra o Brasil" e uma agressão à soberania nacional, sem justificativa econômica.

"Não há espaço para vassalagem no Brasil. Isso acabou em 1822", afirmou, dirigindo-se ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que havia atribuído a responsabilidade pela taxa a uma suposta postura do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

A tarifa de 50% atinge setores diversos, incluindo o agronegócio e a indústria, especialmente em São Paulo. Segundo o ministro, apesar do “mau dia” para o país, há espaço para negociação, uma vez que a medida não reflete um equilíbrio comercial entre os dois países.

"Uma guerra comercial não ajuda a ninguém", destacou Haddad, afirmando que o Brasil continuará a defender o multilateralismo e agir com pragmatismo.

Entenda o que se sabe e o que não se sabe sobre a tarifa anunciada por Trump

A tarifa de Trump ainda pode ser revista?

Sim. Trump disse na carta que as tarifas poderão ser reduzidas ou aumentadas, a depender de decisão dele.

A nova tarifa se sobrepõe a outras taxas já cobradas?

Ainda há dúvida. Na carta, Trump diz que as novas taxas serão cobradas 'separadamente' de outras tarifas setoriais, como a cobrança de 50% pelo aço.

No entanto, em outras ocasiões, o presidente evitou a acumulação de tarifas por país e produto. A questão só será esclarecida quando uma ordem executiva sobre o tema for publicada.

Como a medida pode afetar a economia brasileira?

Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Em 2024, o país vendeu cerca de US$ 40 bilhões em produtos aos Estados Unidos. Ao todo, o Brasil exportou US$ 337 bilhões em mercadorias, de modo que os EUA representam cerca de 12% do total das vendas brasileiras. 

Os itens mais vendidos aos EUA foram:

  • Óleos brutos de petróleo
  • Produtos semi-acabados de ferro ou aço
  • Aeronaves e suas partes
  • Café não torrado
  • Ferro-gusa, e ferro-ligas
  • Óleos combustíveis de petróleo
  • Celulose
  • Equipamentos de engenharia civil
  • Sucos de frutas ou de vegetais
  • Carne bovina

Como o Brasil pode reagir à tarifa de Trump?

O Brasil poderia aplicar tarifas a produtos que importa dos EUA. O Congresso do Brasil aprovou uma lei em abril que permite ao governo brasileiro retaliar tarifas da mesma forma. A retaliação, no entanto, não é obrigatória e fica a critério do Conselho Estratégico da Câmara de Comércio Exterior (Camex), ligado ao Executivo.

Porém, Trump ameaçou impor tarifas ainda mais altas caso o Brasil reaja. "Se, por qualquer motivo, você decidir aumentar suas Tarifas, o valor que você escolher para aumentá-las será adicionado aos 50% que cobramos", escreveu o presidente americano.

O país também poderia abrir um processo na Organização Mundial do Comércio (OMC), mas o órgão está com seu poder de decisão paralisado por conta de uma medida dos EUA, que se recusa a nomear juízes para cargos vagos na entidade.

O que levou Trump a impor as tarifas?

Desde que tomou posse, em janeiro, Trump passou a aumentar tarifas de importação sobre outros países, sob argumento de que eles estariam trazendo problemas aos EUA.

Trump quer que as empresas voltem a produzir nos Estados Unidos, em vez de ter fábricas no exterior, como fazem há décadas para cortar custos. Assim, ao encarecer as exportações por meio de novas taxas, ele espera que mais indústrias se mudem para os EUA e gerem empregos no país.

Além disso, Trump reclama do déficit comercial dos EUA com os outros países, e usa as tarifas como meio de pressionar os parceiros a comprarem mais itens americanos. Em vários casos, houve acordos nesse sentido: um compromisso de maiores compras ou abertura de mercados a produtos dos EUA em troca de Trump desistir de novas taxas.

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