Agência de notícias
Publicado em 10 de julho de 2025 às 19h56.
Última atualização em 10 de julho de 2025 às 20h05.
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, publicou nesta quinta-feira uma carta aberta para justificar oficialmente o descumprimento da meta de inflação. A medida ocorre após o IPCA acumulado em 12 meses atingir 5,35% em junho, ultrapassando o teto da meta, de 4,5%, por seis meses consecutivos.
Com isso, o presidente do BC é obrigado por lei a enviar uma explicação formal ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, detalhando as causas da inflação fora da meta e as providências em curso.
Essa é a segunda vez consecutiva que Galípolo precisa redigir uma carta do tipo em menos de seis meses. A primeira foi no início do ano, referente ao estouro da meta em 2024, ainda sob a regra antiga.
A nova sistemática, da “meta contínua”, passou a valer em janeiro de 2025 e considera como descumprimento o desvio por seis meses seguidores do intervalo de tolerância — que vai de 1,5% a 4,5%, com centro em 3%.
Na carta, o BC atribui o descumprimento a uma combinação de "diversos fatores": atividade econômica aquecida, mercado de trabalho resiliente, inércia inflacionária elevada, desancoragem das expectativas e depreciação cambial. Segundo o documento, choques nos preços de alimentos industrializados, como café e carnes, e tarifas de energia elétrica também pressionaram o índice.
A carta destaca que a inflação efetiva de dezembro, janeiro e fevereiro surpreendeu e que houve altas mais intensas que as antecipadas no preço da gasolina, na inflação subjacente dos preços de serviços, nos preços de alimentos industrializados (em particular, do café) e nos preços de alguns bens industriais, como os do vestuário e de automóveis.
O texto detalha que a contribuição da inércia inflacionária para o desvio da meta foi de 0,69 ponto percentual (p.p.), enquanto as expectativas desancoradas responderam por 0,58 p.p. e o hiato do produto, por 0,47 p.p. Ao todo, os desvios somam 2,35 p.p. em relação ao centro da meta de 3%.
A autoridade monetária projeta que o IPCA volte a ficar dentro da faixa de tolerância apenas no final do primeiro trimestre de 2026. A inflação acumulada em quatro trimestres deve cair de 5,4% a 5,5% em 2025 para 4,2% no início de 2026, segundo o cenário de referência do Relatório de Política Monetária.
"O compromisso do Banco Central é com a meta de inflação de 3%, e suas decisões são pautadas para que este objetivo seja atingido no horizonte relevante de política monetária. O Banco Central se manterá atento à evolução das pressões inflacionárias e não hesitará em tomar medidas adicionais, caso julgue apropriado", diz um trecho da carta.
Para conter a alta dos preços, o Comitê de Política Monetária (Copom) têm elevado a taxa Selic de forma contínua desde de setembro de 2024, acumulando um aperto de 4,5 p.p., até alcançar 15% ao ano em junho deste ano. Apesar do aumento, o BC decidiu pausar o ciclo para avaliar os efeitos já deflagrados, sem descartar novas elevações caso o cenário inflacionário piore.
— Nós todos do Copom estamos bastante incomodados. Eu que já tenho esse começo que me incomoda demais na minha gestão de, em seis meses, ter de escrever a segunda carta de descumprimento da meta — afirmou Galípolo na quarta-feira, durante audiência na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados.
Desde 1999, a inflação ficou acima da meta oito vezes e uma vez abaixo, em 2017. Veja a seguir:
Em meio ao debate sobre a taxa básica de juros, hoje em 15% ao ano, Galípolo respondeu às críticas, durante sua participação na Comissão de Finanças e Tributação, que sugerem que o BC deveria flexibilizar a meta para permitir cortes mais rápidos na Selic.
O presidente do BC foi categórico ao afirmar que a meta de 3% com margem de 1,5 ponto percentual “não é uma sugestão” e não pode ser alterada conforme conveniências conjunturais.
— Tenho visto que a maior parte das críticas à elevada taxa de juros está associada a uma sugestão de que não se devia cumprir a meta. Mas a meta é 3%. O Banco Central não vai se desviar nenhum milímetro disso — disse. — Nenhum presidente do BC tem satisfação pessoal em ver o Brasil exibir taxas de juro mais altas. Nosso papel é colocar a taxa num patamar restritivo o suficiente, pelo tempo necessário, para trazer a inflação de volta à meta.