Economia

Lula confirma linha de crédito de R$ 30 bi para exportadores afetados pelas tarifas de Trump

De acordo com o presidente, a medida será divulgada oficialmente pelo governo federal nesta quarta-feira, 13 de agosto

Lula: governo atual enfrenta muitos desafios em diversos setores (Ricardo Stuckert / PR/Divulgação)

Lula: governo atual enfrenta muitos desafios em diversos setores (Ricardo Stuckert / PR/Divulgação)

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 12 de agosto de 2025 às 18h52.

Última atualização em 12 de agosto de 2025 às 19h43.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou nesta terça-feira, 12, que vai sancionar uma Medida Provisória (MP) que criará uma linha de crédito de R$ 30 bilhões para apoiar os exportadores prejudicados pelo aumento das tarifas dos Estados Unidos.

De acordo com Lula, a medida será divulgada oficialmente pelo governo federal nesta quarta-feira, 13. A MP faz parte de um conjunto de ações do governo brasileiro para auxiliar as empresas que enfrentam os impactos das tarifas aplicadas pelo presidente norte-americano, Donald Trump.

"Amanhã eu vou assinar uma MP que cria uma linha de crédito de R$ 30 bilhões para as empresas brasileiras que, porventura, tiverem prejuízos com a taxação do Trump", disse o presidente Lula, em entrevista à rádio BandNews. "R$ 30 bilhões é o começo. Você não pode colocar mais, você não sabe quanto é. Teremos uma política de crédito que estamos elaborando para ajudar princialmente as pequenas empresas, como o pessoal que exporta tilápia, frutas, mel e outros produtos. Já as grandes contam com mais poder de resistência", completou.

De acordo com o presidente, o montante será destinado a empresas que viram sua competitividade no mercado internacional afetada pelo aumento das tarifas de importação.

"Será de grande relevância para que possamos demonstrar que ninguém ficará sem apoio devido à taxação imposta pelo presidente Trump. Vamos cuidar dos trabalhadores dessas empresas e buscar novos mercados para elas. Estamos enviando a lista dos produtos que exportávamos para os Estados Unidos para outros países".

Lula também enfatizou que vai acionar os presidentes de países que conhece para tentar abrir novos mercados para os produtos brasileiros e vai considerar as vantagens comerciais para o Brasil. "Também [quero] incentivar os empresários a brigar pelos mercados. Não dá para deixar barato a taxa do Trump. Tem lei nos Estados Unidos que eles podem abrir processo, eles podem brigar lá. É isso que nós queremos que aconteça e eu acho que vai dar certo".

Segundo ele, o governo federal também considera a possibilidade de lançar mão de compras governamentais dos produtos taxados pelos Estados Unidos.

"A gente vai ter crédito, compras governamentais e abertura de novos mercados (outros destinos para esses produtos). E vai ter (prioridade para) conteúdo nacional também, nas coisas que nós fabricamos aqui, porque nós vamos garantir a sobrevivência das empresas brasileiras, como eu acho que todos os outros países vão fazer um sacrifício enorme para as empresas deles".

Defesa do Brics

O presidente Lula defendeu novamente o comércio entre países dos Brics e reforçou que isso seja feito com moedas desses países, e não em dólar, um dos motivos que incomodou Donald Trump.

"A gente não quer mexer com o dólar, o dólar é uma moeda importante, os Estados Unidos têm a máquina que roda essa moeda, mas nós podemos discutir nos Brics a necessidade de uma moeda de comércio entre nós dos Brics. Eu não recuo dessa ideia, porque é preciso testá-la".

Consequências aos EUA

Para Lula, as tarifas de 50% aos produtos brasileiros vai ter efeitos no poder de consumo dos cidadãos norte-americanos.

"Uma das coisas que eu acho é que o presidente Trump não pensou, embora ele diga que está juntando muito dinheiro, que os produtos taxados em todos os países do mundo vão aumentar os preços nos Estados Unidos. Não existe milagre. E a economia não tem milagre. Se fosse fácil, o mundo não tinha problema. Porque todo presidente pensa que é milagroso. E como não tem milagre e não tem mágica, a gente tem que trabalhar de acordo com a realidade. Eles não ficarão impunes, porque o povo americano vai sofrer. Trump vai sofrer as consequências dessa taxação".

O presidente também afirmou que o preço da carne já sofre com os impactos das taxações: "Para quem reclama, eu queria que você entrasse no site americano e procurasse uma picanha. Uma picanha hoje estava sendo vendida a 150 dólares."

Tarifas de Trump contra o Brasil

Em 9 de julho, Trump anunciou uma tarifa extra de importação de 50% para os produtos brasileiros. Ele disse que a taxa se deve aos processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e contra redes sociais americanas.

Em uma carta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele disse:

"Devido, em parte, aos ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos (como recentemente ilustrado pelo Supremo Tribunal Federal, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com milhões de dólares em multas e despejo do mercado brasileiro de mídia social) [...] cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros enviados aos Estados Unidos, separadamente de todas as tarifas setoriais. Mercadorias levadas a outros países  para escapar dessa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta".

"Conheci e lidei com o ex-presidente Jair Bolsonaro e o respeito profundamente, assim como a maioria dos outros líderes de países. A forma como o Brasil tratou o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Este julgamento não deveria estar acontecendo. É uma caça às bruxas que deve terminar IMEDIATAMENTE!", afirmou.

"Além disso, tivemos anos para discutir nossa Relação Comercial com o Brasil e concluímos que precisamos nos afastar da relação comercial de longa data e muito injusta, gerada pelas Políticas Tarifárias e Não Tarifárias e Barreiras Comerciais do Brasil. Nossa relação está longe de ser recíproca", disse o presidente americano.

No tarifaço anunciado em abril, o Brasil havia ficado na categoria mais baixa, de 10% de taxas extras. Os EUA possuem superávit comercial com o Brasil. Ou seja: vendem mais produtos para cá do que os brasileiros enviam para os americanos.

No primeiro trimestre de 2025, os dois países trocaram US$ 20 bilhões em mercadorias, sendo que os EUA tiveram superavit de US$ 653 milhões, segundo dados da plataforma Comexstat, do governo brasileiro.

Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial brasileiro, atrás da China. O Brasil é um grande exportador de aço, café, carne, suco de laranja e outros produtos aos americanos.

Tarifas para vários países

Desde que tomou posse, em janeiro, Trump passou a aumentar tarifas de importação sobre outros países, sob argumento de que eles estariam trazendo problemas aos EUA.

Trump quer que as empresas voltem a produzir nos Estados Unidos, em vez de ter fábricas no exterior, como fazem há décadas para cortar custos. Assim, ao encarecer as exportações por meio de novas taxas, ele espera que mais indústrias se mudem para os EUA e gerem empregos no país.

Além disso, Trump reclama do déficit comercial dos EUA com os outros países, e usa as tarifas como meio de pressionar os parceiros a comprarem mais itens americanos. Em vários casos, houve acordos nesse sentido: um compromisso de maiores compras ou abertura de mercados a produtos dos EUA em troca de Trump desistir de novas taxas.

Assim, analistas apontam que Trump usa as novas taxas como um elemento de pressão. Ele cria um problema que não existia antes, as novas taxas, e exige que os outros países mudem de postura para não implantá-las.

Em abril, Trump anunciou uma tarifa geral de 10% extras a quase todos os países do mundo e outra taxa extra, que variava entre os países de acordo com o déficit que os EUA tinham com cada um.

Na época, houve uma crise nos mercados e o líder americano adiou as novas taxas por país até 9 de julho, sob o argumento de que daria tempo para negociações.

Isenção de alguns produtos

A tarifa de importação de 50% sobre os produtos brasileiros imposta pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, entrou em vigor em 6 de agosto.

No entanto, o impacto da tarifa deve menor do que esperado inicialmente, pois os americanos isentaram alguns itens exportados, como suco de laranja, minérios, petróleo e avião, da taxação adicional de 40%.

O governo americano havia anunciado taxa mínima de 10% para o Brasil em 2 de abril. Os produtos isentos agora ficarão com a taxa de 10%.

Ao todo, 694 categorias não serão atingidas pela tarifa de 50%. Uma parcela dos itens estão relacionados a artigos de aeronaves — exceto as militares —, seus motores, peças e componentes; além de simuladores de voo terrestre e suas peças e componentes do Brasil.

Café, carne e manga tarifados

Entre os itens que representam uma parcela relevante da exportação brasileira para os Estados Unidos estão o café, a carne bovina e frutas como manga.

O café, por exemplo, representa 4,7% de tudo do que é vendido para os americanos.

Ainda existe a expectativa de que setores como o do café — um produto não produzido nos Estados Unidos — possam ser isentos. Na semana passada, o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, afirmou que produtos não produzidos internamente pelos EUA podem entrar no país com tarifa zero.

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços estima que, do total de US$ 40,4 bilhões em exportações, US$ 14,5 bilhões (ou 35,9%) estarão sujeitos à tarifa adicional de 50%.

  • Café não torrado: US$ 1,9 bilhão em valor exportado;
  • Instalações e equipamentos de engenharia civil, e suas partes: US$ 1,5 bilhão;
  • Carne bovina: US$ 944 milhões;
  • Madeira parcialmente trabalhada e dormentes de madeira: US$ 737 milhões;
  • Cal, cimento e outros materiais de construção (exceto vidro e barro): US$ 709 milhões;
  • Açúcares e melaços: US$ 610 milhões.

Veja a seguir a lista da Casa Branca de tarifas recíprocas por país:

PaísTarifa
Afeganistão15%
Argélia30%
Angola15%
Bangladesh20%
Bolívia15%
Bósnia e Herzegovina30%
Botswana15%
Brasil10% (+ 40%)
Brunei25%
Camboja19%
Camarões15%
Chade15%
Costa Rica15%
Costa do Marfim15%
República Democrática do Congo15%
Equador15%
Guiné Equatorial15%
União Europeia15%
Ilhas Malvinas10%
Fiji15%
Gana15%
Guiana15%
Islândia15%
Índia50%
Indonésia19%
Iraque35%
Israel15%
Japão15%
Jordânia15%
Cazaquistão25%
Laos40%
Lesoto15%
Líbia30%
Liechtenstein15%
Madagascar15%
Malauí15%
Malásia19%
Maurício15%
Moldávia25%
Moçambique15%
Mianmar40%
Namíbia15%
Nauru15%
Nova Zelândia15%
Nicarágua18%
Nigéria15%
Macedônia15%
Noruega15%
Paquistão19%
Papua-Nova Guiné15%
Filipinas19%
Sérvia35%
África do Sul30%
Coreia do Sul15%
Sri Lanka20%
Suíça39%
Síria41%
Taiwan20%
Tailândia19%
Trinidad e Tobago15%
Tunísia25%
Turquia15%
Uganda15%
Reino Unido10%
Vanuatu15%
Venezuela15%
Vietnã20%
Zâmbia15%
Zimbábue15%
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