Economia

Moody’s altera perspectiva de nota do Brasil de positiva para estável

Agência de classificação de risco destacou a piora na capacidade de pagamento da dívida e rigidez nos gastos públicos, mesmo com crescimento econômico de 3% ao ano

Esplanada dos Ministérios: segundo a Moody's, a dívida pública projetada deve se estabilizar em torno de 88% do PIB nos próximos cinco anos, um aumento frente a 82% estimados em outubro de 2024. (Leandro Fonseca)

Esplanada dos Ministérios: segundo a Moody's, a dívida pública projetada deve se estabilizar em torno de 88% do PIB nos próximos cinco anos, um aumento frente a 82% estimados em outubro de 2024. (Leandro Fonseca)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 30 de maio de 2025 às 18h10.

Última atualização em 30 de maio de 2025 às 19h13.

A Moody’s Ratings alterou nesta sexta-feira, 30, a perspectiva para a avaliação do governo brasileiro de positiva para estável, mantendo a nota Ba1 para as dívidas em moeda local e estrangeira, além dos títulos seniores. A mudança reflete a piora na capacidade do Brasil de sustentar sua dívida, devido ao aumento dos custos de financiamento e à rigidez nos gastos públicos.

A agência ressaltou que, apesar do cumprimento das metas de resultado primário, o avanço nas reformas fiscais foi lento, e o governo ainda enfrenta limitações para reduzir vulnerabilidades fiscais e estabilizar o endividamento no curto prazo.

"O Brasil tem um perfil de dívida sensível à elevação dos juros, que, junto com a rigidez dos gastos, limita o espaço para cortes adicionais e complica o controle da trajetória da dívida pública", informou a Moody's.

A Moody’s destaca que o crescimento econômico de cerca de 3% ao ano, sustentado por uma economia diversificada e reformas estruturais adotadas nas últimas gestões, é um ponto positivo que contribui para a resiliência do país frente a choques externos. No entanto, a dívida pública projetada deve se estabilizar em torno de 88% do PIB nos próximos cinco anos, um aumento frente a 82% estimados em outubro de 2024, impulsionado principalmente pelos maiores pagamentos de juros, que devem consumir até 21% da receita em 2025, ante 15% em 2023.

A perspectiva estável indica que os riscos de crédito estão equilibrados no momento, refletindo a combinação entre o potencial de crescimento, os esforços fiscais e as limitações estruturais. A Moody’s observa que mudanças na estrutura da dívida — com aumento gradual da participação de títulos prefixados e atrelados à inflação, além do alongamento do prazo médio — podem ajudar no manejo dos riscos, mas seus efeitos serão lentos.

Considerações ambientais, sociais e de governança (ESG)

A agência classifica o impacto dos fatores ESG no rating do Brasil com notas medianas: a exposição a riscos ambientais é moderada devido ao carbono e à gestão de recursos naturais; os riscos sociais refletem desigualdade de renda e pressão sobre serviços públicos; e a governança é vista como eficaz na implementação de reformas, mas afetada por desafios em corrupção e estado de direito.

O relatório reforça que um avanço mais profundo nas reformas fiscais, especialmente a redução de vinculações de receitas e revisão da correção automática de benefícios sociais, seria necessário para melhorar a capacidade do governo de responder a choques e reduzir as incertezas fiscais, o que poderia levar a uma melhora no rating.

Por outro lado, retrocessos na consolidação fiscal ou crescimento econômico mais fraco podem pressionar negativamente a nota.

O Brasil mantém seus tetos de rating para dívidas em moeda local (A3) e estrangeira (Baa1), superiores ao rating soberano, refletindo a estabilidade externa e a presença estatal na economia.

Esse cenário aponta para um momento de desafios na gestão fiscal do país, em que o crescimento e as reformas devem caminhar lado a lado para sustentar a melhora na percepção de risco por agências internacionais.
Em nota, o Ministério da Fazenda afirmou que mantém seu compromisso com a melhoria contínua dos resultados fiscais e com o aprofundamento do processo de reformas estruturais, essenciais para garantir o maior crescimento econômico de longo prazo e assegurar o equilíbrio das contas públicas.

“Esse processo tem ocorrido – e continuará ocorrendo – por meio do trabalho conjunto entre o Poder Executivo e o Congresso Nacional, que demonstraram eficácia ao aprovar diversas medidas relevantes, incluindo uma ampla reforma tributária”, informou a pasta.

Acompanhe tudo sobre:Moody'sMinistério da Fazenda

Mais de Economia

Alta do IOF tem efeito semelhante à da Selic e pressiona inflação, diz Samuel Pessôa

Tarifas mais caras: Aneel anuncia bandeira vermelha nas contas de luz em junho

Relator diz que reforma administrativa deve desvincular salário mínimo e piso da saúde e educação

Governo vê PIB ‘levemente abaixo’ do esperado, mas mantém projeção de alta de 2,4% em 2025