Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 18 de julho de 2025 às 06h01.
Sem um canal de diálogo estabelecido com os Estados Unidos a 15 dias do prazo para iniciar a vigência do tarifaço anunciado pelo presidente Donald Trump, auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avaliam que os efeitos inflacionários para os norte-americanos, sobretudo nos preços do café, do suco de laranja e do hambúrguer, pode levar o presidente Donald Trump a adiar a sobretaxação.
Como os três produtos fazem parte do dia a dia dos norte-americanos, técnicos do governo apostam que o aumento de custos pode se tornar uma dor de cabeça para Trump e afetar a popularidade do presidente dos Estados Unidos.
A aposta dos auxiliares de Lula tem ganhado fundamento nas análises de mercado. Em relatório, a agência de classificação de risco Moody's afirmou que os Estados Unidos importam 70% de seu suco de laranja e 25% de seu café do Brasil. Com tamanha dependência, mercados alternativos não compensariam facilmente uma eventual redução nas importações brasileiras, informou a Moody's.
Os mesmos técnicos do governo também levam em conta o histórico recente de Trump, que tomou medidas semelhantes com países como México, Canada e China, ao anunciar tarifas e promover seguidos adiamentos.
Com a decisão de Trump de tomar a frente do debate sobre sobretaxar o Brasil, os canais de diálogo do governo brasileiro com os Estados Unidos foram interrompidos. "Trump chamou para si todo o diálogo e isso é um problema porque interrompeu qualquer negociação", disse um auxiliar de Lula à EXAME.
Nas reuniões que conduziu com empresários nos últimos dias, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, pediu aos executivos que busquem as contrapartes norte-americanas para sensibilizar a gestão Trump sobre a necessidade de reverter o tarifaço.
Para executivos ouvidos pela EXAME que participaram dos encontros, o pedido foi interpretado como um dos elementos que demostra que a gestão petista não tem, neste momento, qualquer interlocução tomadores de decisão essenciais do governo Trump.
Além disso, a afirmação de Alckmin de que uma proposta de negociação apresentada em maio ao governo norte-americano não foi respondida sinalizou que as pontes entre as partes foram implodidas. O vice-presidente e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, enviaram na última terça-feira, 15, mais uma carta ao governo dos Estados Unidos para reiterar o interesse em dialogar sobre as tarifas de 50% impostas.
Técnicos da equipe econômica e da ala política ouvidos pela EXAME também confirmaram que não há interlocução do governo Lula com a gestão de Trump e o presidente dos Estados Unidos tem feito questão de, publicamente, sinalizar que não está interessado em abrir diálogo.
A aposta de empresários e do governo brasileiro é de que o lobby das companhias norte-americanas com negócios no Brasil surta mais efeito, já que as vias diplomáticas estão obstruídas.
Uma missão de oito senadores também viajará aos Estados Unidos no final de julho na busca de apoio do Legislativo norte-americano e abertura de diálogo sobre o tarifaço.