Dados divulgados pela pesquisa mostram aumento da desigualdade de gênero na última década (Angelina Bambina/Getty Images)
Plataforma de conteúdo
Publicado em 24 de setembro de 2025 às 21h21.
A renda média das mulheres no Brasil é 40% inferior à dos homens, de acordo com estudo realizado pela Fundação Perseu Abramo, em parceria com o Sesc São Paulo. A 3ª edição da pesquisa, intitulada "Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”, foi divulgada na terça-feira (23) na capital paulista.
Dividida em seis capítulos, o levantamento apresenta um panorama sobre desigualdade e percepção de gênero: uma a cada quatro mulheres considera que há mais coisas negativas em ser mulher do que positivas.
“Esses tipos de dados são fundamentais para elaborar políticas públicas. Eu queria ressaltar a importância do tema da política nacional de cuidados, cujo objetivo é justamente transformar a realidade, promover o direito ao cuidado através da corresponsabilização entre homens e mulheres, entre a família, a comunidade, o estado e o setor privado pela garantia desse direito, mas colocando o estado como principal garantidor, não como subsidiário”, afirmou a pesquisadora Laís Abramo, secretária Nacional de Cuidados e Família do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social.
Realizada em duas fases, com uma amostra qualitativa, com 65 mulheres cisgêneros e transgêneros, e outra amostra quantitativa, que envolveu 2.440 mulheres e 1.221 homens de todo país; os dados foram coletados desde 2023 e mostram uma realidade de disparidade econômica entre os gêneros, que persiste em diferentes classes sociais.
Renda média
A pesquisa revela que 44% das mulheres brasileiras vivem com menos de um salário mínimo, ou seja, R$1.518. Esse percentual representa o dobro se comparado ao sexo masculino, já que 21% dos homens se encontram nessa faixa salarial.
O levantamento mostra que somente 1% da população feminina recebe mais de cinco salários mínimos. Já em relação ao mercado de trabalho: 46% do público feminino que trabalha está inserido no mercado formal e 58% no informal. E 93% dos domicílios no Brasil têm uma mulher como principal responsável pelos afazeres domésticos.
Outro dado expressivo é o aumento das mulheres como chefes de família. Em 2010, 35% eram responsáveis pelo sustento da casa. Depois de uma década, em 2023, esse número saltou para 49%. Dessas mulheres, 26% têm responsabilidade exclusiva pelas contas da família.
“As relações da mulher no mercado de trabalho, as diferenças salariais e a persistência da violência, ainda estão bastante presentes. Essa pesquisa é um instrumento para conhecer e debater a realidade”, explica Vilma Bokany, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Urbanas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), coordenadora da pesquisa.
Escolaridade x renda
Apesar dos avanços na escolaridade, as mulheres continuam com salários mais baixos, maior informalidade e carga desproporcional de trabalho doméstico e cuidados. De acordo com a pesquisa, quase metade das mães criam os filhos sozinhas.
Também foi registrado o empobrecimento feminino nos últimos anos. Os dados mostram que 59% das mulheres negras possuem renda familiar de até dois salários mínimos, e 64% vivem na região Nordeste.
“Quero fazer um paralelo dessa pesquisa com outras que nos demonstram como a interseccionalidade, além de ser uma categoria fundamental de conhecimento, de análise crítica, precisa ser uma ferramenta de produção de políticas públicas. Sob pena de nós, mulheres negras e outros grupos historicamente vulnerabilizados, continuarmos sendo objeto de política pública ao invés de sujeitos de produção. Somos o último país do ocidente a declarar a abolição da escravidão há 137 anos. E ainda assim a raça segue sendo o principal fator determinante de todas as desigualdades no Brasil de representatividade, renda média mensal, violência”, ressalta Lívia Sant’Anna Vaz, promotora de justiça do Estado da Bahia.