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Tarifaço: qual pode ser o futuro das negociações entre Brasil e Estados Unidos?

Grupo de oito senadores foi até os EUA para apresentar argumentos técnicos e políticos contra a imposição da tarifa de 50% sobre exportações brasileiras

Brazil's President Luiz Inacio Lula da Silva gestures during the signing of the new export incentive law at the Planalto Palace in Brasilia on July 28, 2025. (Photo by EVARISTO SA / AFP)

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Publicado em 28 de julho de 2025 às 20h03.

Há margem para contestação das tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, mas o caminho mais eficaz ainda é o diplomático. A avaliação é da advogada Roberta Portella, professora de Direito Internacional do Comércio da FGV, que vê fundamentos jurídicos sólidos para o Brasil questionar as medidas na Organização Mundial do Comércio (OMC), caso elas entrem em vigor. 

“O Brasil pode e deve acionar os canais diplomáticos e jurídicos disponíveis, mas a via do diálogo direto com o governo dos EUA continua essencial”, afirmou. A sócia do R. Portella Advogados destaca que a aplicação unilateral de sanções com base na Seção 301 da legislação americana já foi analisada pela OMC no passado e pode ser objeto de contestação. 

Ao mesmo tempo, ela sugere que o Brasil adote uma estratégia mais ampla e pragmática, buscando apoio entre os setores da economia americana que serão prejudicados pelas tarifas. “É uma oportunidade de mostrar que previsibilidade, segurança jurídica e custo-benefício são do interesse de ambos os lados”, defendeu.

Essa visão orienta a missão oficial do Senado Federal aos Estados Unidos, que desembarcou em Washington nesta segunda-feira, 28. A poucos dias da entrada em vigor das tarifas adicionais anunciadas pelo presidente Donald Trump, um grupo de oito senadores brasileiros participa de uma série de reuniões com congressistas, empresários e representantes de organismos multilaterais para tentar conter a escalada da tensão comercial.

“Janela estratégica”

Com caráter institucional, a comitiva reúne senadores de diferentes partidos – do PT ao PL – e é liderada pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Nelsinho Trad. A proposta é apresentar argumentos técnicos e políticos contra a tarifa de 50% sobre exportações brasileiras, anunciada no início de julho. Analistas apontam motivações eleitorais e vínculos com a ação penal que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro, o que adiciona complexidade ao impasse.

A agenda teve início com encontros na Embaixada do Brasil e na U.S. Chamber of Commerce, além de reuniões com lideranças do Brazil-U.S. Business Council. Até quarta-feira, 30, o grupo ainda terá compromissos com parlamentares americanos e organizações empresariais.

Paralelamente, o governo brasileiro acompanha o avanço de ações judiciais nos EUA que questionam a legalidade das novas tarifas. Um dos processos, movido pela empresa Johana Foods, importadora de suco de laranja brasileiro, solicita a suspensão imediata da medida. Outra ação, mais abrangente, conta com o apoio de empresas e congressistas americanos e busca criar um precedente para impedir a implementação da sobretaxa.

O ex-diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, que participou dos encontros iniciais da missão, classificou o momento como uma “janela estratégica” e alertou para o risco de mal-entendidos alimentarem crises comerciais. “Noventa por cento das situações comerciais que acompanhei nasceram de percepções equivocadas. O Brasil precisa usar essa mobilização para se reposicionar e se aproximar dos EUA de maneira mais estruturada”, afirmou.

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