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A adaptação do paladar do consumidor é um dos processos nos quais a fabricante de alimentos trabalha (Germano Luders/Exame)
Repórter de ESG
Publicado em 18 de julho de 2025 às 06h00.
De Paris, França*
Do cafezinho de toda manhã ao bolinho das tardes, uma coisa é comum às tradições brasileiras: o consumo excessivo de açúcar. Cada brasileiro chega a consumir 50% acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde, que é de 12 colheradas de chá ao dia.
Esse hábito deve-se muito aos cultivos agrícolas brasileiros. O país figura entre os maiores produtores de cana no mundo, fator que colabora para esse paladar adoçado. De acordo com o Ministério da Saúde, a maior parcela (64%) desse consumo deriva do que é adicionado aos alimentos e bebidas que ingerimos todos os dias.
Na saúde, os efeitos são múltiplos: obesidade, sobrepeso, diabetes, doenças cardiovasculares e até mesmo problemas hepáticos. Por isso, um movimento de mercado baixo em açúcar surgiu nos últimos anos, buscando aplacar o consumo dos doces especialmente entre o público mais jovem.
Essa é a meta da Danone, companhia de produtos lácteos, que investe em pesquisa e desenvolvimento para reduzir a presença de açúcares adicionados em alimentos para todas as idades, com atenção especial para crianças.
Em primeira mão, a fabricante divulgou seu plano para reduzir a porcentagem de açúcar no Danoninho, carro-chefe na linha infantil, no Brasil: de 11,5% para 10%, quantidade que inclui também os inerentes à produção do petit-suisse, como a lactose. Essa meta deve ser atingida em agosto.
O desafio? Comercializar itens mais saudáveis para um público já acostumado com sabores extremamente doces.
O trabalho é árduo: ao mesmo tempo em que precisa vender produtos e garantir a satisfação do consumidor com a fórmula, a empresa atua para alterar a quantidade de açúcares adicionados de forma tímida, sem causar estranhamento ao consumidor.
Ao longo dos anos, no entanto, a redução é clara: com a diminuição no próximo semestre, a quantidade de açúcares passa de 25% nos anos 1990 para 10%. Nos demais países, essa taxa deve ser alcançada até o final do ano, o que já é uma realidade para 75% dos produtos. A quantia de 10% ainda é levada em conta para 95% do portfólio da Danone neste ano.
O diretor de pesquisa e inovação para a Danone América Latina, Gustavo Alvarez, conversou com jornalistas durante uma visita às instalações da companhia em Paris e contou sobre os avanços nesse cenário — e os obstáculos pela frente. “Saúde é o principal objetivo da Danone. Com essa queda, devemos atingir ainda este ano 45% menos açúcar em comparação com nosso principal concorrente brasileiro”, explica.
A adaptação do consumidor é um dos processos nos quais a fabricante de alimentos trabalha. Por isso não adicionar adoçantes: ao adicioná-los, não há a adaptação do paladar, apenas a troca do “vício” por outro. “Para reduzir o açúcar, é preciso adaptar o gosto de quem compra. O mercado brasileiro ainda não está pronto para uma redução maior. Se reduzirmos muito, não vendemos”, afirma Camillo Wittica, vice-presidente de relações-públicas da Danone Brasil.
Segundo ele, esse processo precisa reduzir as taxas sem mudar o sabor dos alimentos. “Mais importante que o próprio negócio é garantir que os produtos, que contém cálcio, proteínas e vitaminas essenciais, entrem na dieta das crianças. Só conseguimos isso fidelizando o cliente”, anuncia.
Para avaliar esse processo, a companhia realiza testes locais com o consumidor no Centro de Inovação Paris-Saclay, inaugurado em 2023, localizado no Plateau de Saclay, chamado de "Vale do Silício europeu". A área abriga centros de pesquisa, universidades de alto nível e escolas de engenharia. É nesse ambiente em que são feitos testes sobre a aparência, aroma, sabor, gosto, textura e sensações trigeminais — ou seja, os estímulos sentidos durante a ingestão, como de itens frizantes e a picância — de cada lançamento.
Ao todo, são 450 metros quadrados dedicados aos testes com consumidores, em locais que imitam salas de estar e cozinhas para tornar o momento o mais natural possível. O objetivo é unir os esforços em ciência e tecnologia para levar saúde a novos mercados. São mais de 500 cientistas envolvidos no desenvolvimento de produtos e fórmulas, desde técnicos em alimentos até doutores em engenharia.
Boa parte das ideias leva anos até as prateleiras de supermercados. De acordo com Marion Meslin, líder de comunicação externa e gerenciamento de projetos do centro de inovação Paris-Saclay da Danone, o YoPro, linha de bebidas focada na ingestão de proteínas, levou nove anos de desenvolvimento. “É preciso um trabalho extenso de pesquisa, que conta com a evolução da ciência e análises de tendências futuras. Agora, estamos estudamos o que vai ser uma febre em 10 anos”, explica.
YoPro, que na França é chamado HiPro, a bebida proteica da Danone, que levou nove anos para ser desenvolvida (Danone/Divulgação)
Isabelle Esser, head global de pesquisa, inovação, qualidade, segurança dos alimentos e recursos humanos da Danone, contou que o trabalho de criar alimentos mais nutritivos inclui múltiplos esforços. “É muito importante para nós, além de diminuir os açúcares, não utilizarmos corantes artificiais. Estamos tentando ser o mais natural possível”, conta.
Para garantir que tudo seja feito a partir da melhor nutrição são levados em conta fatores como imunidade, alergias, energia e performance, saúde mental, recuperação, crescimento infantil e saúde intestinal. Esse último, inclusive, é um dos termos mais ouvidos durante a visita ao centro de inovação. Desde 2020, o termo passou a 3,5 vezes mais buscado no Google do que antes, prova de que as discussões sobre impactos da alimentação saíram dos laboratórios para os celulares e redes sociais.
“A comida precisa ser saborosa, deliciosa, mas, ao mesmo tempo, queremos que ela também seja saudável e, em alguns casos do nosso portfólio, nutricionalmente completa. Isso é muito importante para nós”, afirma Esser.
*A jornalista viajou a convite da Danone.