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Às vésperas da COP30, Belém inaugura parque de bioeconomia para impulsionar negócios amazônicos

EXAME visitou o complexo de 6 mil m² nos armazéns revitalizados do Porto Futuro: espaço conta com fábrica de produtos a partir de bioativos e hub de conexão entre inovação e saberes tradicionais

Com investimento de R$ 300 milhões, armazéns históricos do porto de Belém ganham nova vida como maior polo de bioeconomia da América Latina (Governo do Pará/Divulgação)

Com investimento de R$ 300 milhões, armazéns históricos do porto de Belém ganham nova vida como maior polo de bioeconomia da América Latina (Governo do Pará/Divulgação)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 8 de outubro de 2025 às 06h00.

*De Belém do Pará 

O açaí que se compra nas bancas do tradicional mercado Ver-o-Peso ou em qualquer esquina de Belém corresponde a 90% da produção nacional e pode em breve conquistar prateleiras do mundo inteiro com escala industrial, qualidade e valor agregado.

Assim como o tucupi, cupuaçu, camu-camu, bacuri e cumaru, o açaí é um dos bioativos naturais mais tradicionais da culinária paraense e que o estado mira transformar em negócio e vitrine global com a inauguração do pioneiro parque de bioeconomia e inovação da Amazônia.

Uma das grandes apostas da COP30, este modelo produtivo sustentável se consolida como agenda prioritária do Brasil e traz uma oportunidade de movimentar entre US$ 100 bilhões e US$ 140 bilhões (R$ 765 bilhões) por ano até 2032, segundo estudos recentes. Só no Pará, o WRI estima que o produto interno bruto (PIB) pode dar um salto de R$ 816 milhões. 

Fruto de um investimento de R$ 300 milhões e uma parceria entre o Governo do Pará e empresas como Vale, Natura, Ambipar e Fundo Vale, o polo se consolida como maior da América Latina e ocupa uma área de 6 mil m² dentro dos armazéns 5 e 6 do novo Complexo Porto Futuro II, obra revitalizada ao lado da Estação das Docas como legado da COP30.

Os espaços que antes serviam para armazenar mercadorias que chegavam e saíam pelo porto, agora ganham nova vida como centro de inovação e fábrica de alimentos, fármacos, cosméticos e bebidas a partir de ativos naturais da floresta.

Em entrevista à EXAME, o governador Helder Barbalho destacou que o parque se torna o único do mundo a unir tecnologia, impulsionar a economia florestal e atender desde comunidades tradicionais até startups.

"Pela primeira vez, a missão de ser protetor da floresta começa a se conectar com as perspectivas de renda, uma vida melhor e escala de produção. Queremos preservar o conhecimento ancestral trazendo a academia, tecnologia e inovação", disse.

Na terça-feira, 7, em coletiva com jornalistas durante evento de inauguração, Helder também reforçou que é um passo decisivo e histórico, além de se tratar de uma estratégia pós-COP30 para criar um "Vale Bioamazônico de techs", inspirado na experiência do Vale do Silício na Califórnia. 

"Em vez da máquina, a floresta. Em vez dos chips, as riquezas da biodiversidade – plantas, raízes, o que só temos aqui. Só venceremos a jornada de sustentabilidade se a floresta viva valer mais do que morta, se garantirmos agregação de valor e empregos verdes para a população", complementou.

Epicentro de bioeconomia: como funciona o complexo

O laboratório e fábrica, localizado no Armazém 6, será onde acontece a transformação produtiva. Equipado com tecnologia de ponta para pesquisa, desenvolvimento e fabricação, o espaço terá capacidade de produzir em média 2 toneladas por hora.

Parque de bioeconomia

No caso de sucos, a expectativa é de mil latas ou garrafas de 355 ml. A partir dos bioinsumos, será possível produzir frutas desidratadas, farinhas, geleias, sucos, shakes, suplementos e fermentados probióticos.

Parque de bioeconomia

Já o Armazém 5 funciona como centro de negócios e inovação, concentrando coworkings, incubadoras, aceleradoras, salas de reunião e investidores.

O local também abriga o "laboratório vivo", voltado a cocriação entre comunidades, startups e pesquisadores, e a "escola de saberes da floresta", dedicada à valorização de conhecimentos tradicionais. Há ainda um polo de gastronomia social aberto ao público.

Parque de bioeconomia

João Victor Satiro, líder de engenharia do projeto, contou à EXAME que o parque inicia a operação ainda em fase de testes. Neste primeiro momento, não será possível comercializar os produtos, visto que estes precisam se enquadrar aos padrões de qualidade, vigilância sanitária e outras regulações nacionais.

Durante a COP30 em novembro, estão previstas exposições demonstrativas para que a Amazônia e o Brasil mostre seu potencial em soluções verdes e possa aproveitar o grande evento global como uma "vitrine".

"A máquina está funcionando, mas depende da reta final de operacionalização. É um trabalho de engenharia complexo a ser feito, para colocar todas as peças no lugar", explicou João.

O modelo de funcionamento prevê que as startups e empreendimentos utilizem a infraestrutura do espaço compartilhado, trazendo seus produtos e conhecimentos para serem desenvolvidos e fabricados.

Parque de bioeconomia

A ideia é democratizar o acesso a equipamentos de ponta e processos industriais que seriam inacessíveis para pequenos negócios e fazer com que toda cadeia seja remunerada de forma justa e sustentável. 

Ecossistema de startups em expansão

O parque chega em um momento de crescimento acelerado do ecossistema de startups da Amazônia. Hoje são cerca de 800 empresas na região, enquanto cinco anos atrás eram menos de 200.

Dessas, 80% precisam de impulsionamento para estruturar o negócio e gerar receita. Do total, 20 delas já foram selecionadas pelo programa Jornada da Amazônia para aderirem ao projeto inicial do parque.

Um dos cases é a Jucarepa, empresa que atua com a semente de cumaru – também conhecida como "baunilha da Amazônia" –, servindo como ingrediente para a indústria alimentícia e consumidor final, em formato de extrato, pó e geleia.

"Neste primeiro momento, escolhemos as startups que mais se encaixam às estruturas da fábrica. A longo prazo, haverá uma captação mais ampla, que depende de editais e fomentos", destacou o engenheiro.

Legado da COP30

A menos de 40 dias da COP30 em Belém do Pará, o parque se posiciona como referência global e ficará de legado para impulsionar os negócios amazônicos. 

À EXAME, Marcelo Behar, enviado especial para Bioeconomia da COP30, disse que o parque representa mais do que um projeto local e nasce como a materialização de um sonho ao conectar comunidades e saberes tradicionais com inovação.

"Será um farol para que outros locais possam também olhar sob novas formas para seus territórios, construindo soluções que possam ao mesmo tempo descarbonizar, trazer natureza de volta e repartir benefícios com quem preserva 80% da biodiversidade do planeta", destacou.

Carina Pimenta, secretária nacional de bioeconomia, reforçou a importância da iniciativa para fomentar políticas públicas e sobretudo para pequenos empreendedores de startups e comunidades: "Será como um hub catalisador para que estes empreendimentos possam agregar valor e serviços ao redor de temas importantes como financiamento e tecnologia".

Para Ana Costa, VP de Sustentabilidade, Jurídico e Comunicação Corporativa da Natura, patrocinadora do projeto, também se trata da "concretização de um sonho" que a gigante de cosméticos começou há 25 anos, quando escolheu a Amazônia como território.

"Quando juntamos múltiplos atores para resolver problemas complexos – como preservar o bioma e dar voz a quem vive na floresta –, é preciso unir todos para soluções escaláveis que coloquem na mesma pauta natureza, clima e pessoas", ressaltou.

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