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Belém 2025: a COP da Amazônia e o resgate de um legado ambiental brasileiro

"A escolha de Belém direciona o olhar global para a Amazônia como laboratório de soluções, indo muito além do imaginário global sobre a região", diz Daniela Grelin, diretora-executiva do Pacto Global da ONU

É certo que desafios e turbulências farão parte, mas a oportunidade e o simbolismo da COP em Belém superam questões logísticas, afirma a diretora-executiva (Rafael Medelima/COP30/Flickr)

É certo que desafios e turbulências farão parte, mas a oportunidade e o simbolismo da COP em Belém superam questões logísticas, afirma a diretora-executiva (Rafael Medelima/COP30/Flickr)

Daniela Grelin
Daniela Grelin

Diretora Executiva do Pacto Global Rede Brasil

Publicado em 28 de agosto de 2025 às 11h22.

Oferecidas as garantias pelo Brasil de pacotes de hospedagem entre US$100 e US$200 para negociadores de países de menor desenvolvimento relativo e pequenos estados insulares, Belém está finalmente confirmada como sede da COP30.

A escolha dessa cidade como sede, apesar das críticas, representa um marco histórico e uma oportunidade ímpar para o Brasil e o planeta. Esta decisão consolida o protagonismo brasileiro nas discussões climáticas multilaterais! Desde a Rio-92, evento que estabeleceu as bases da Convenção-Quadro das Nações Unidas para Mudança do Clima - UNFCCC (da qual a COP é a conferência máxima) e da Rio +20 (que lançou as bases dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS’s), o Brasil conquistou papel central nas discussões com voz ativa e propositiva em temas como justiça climática, mecanismos de mercado de carbono e financiamento sustentável. Sediar a COP é uma evolução natural do legado da Rio-92, Rio+20, reafirmando que a agenda ambiental é um compromisso duradouro.

A localização na Amazônia é crucial. Belém, como porta de entrada para a maior floresta tropical do mundo, confere um simbolismo poderoso. A proximidade física permite que líderes e a mídia internacional "vejam para crer", sentindo a realidade da floresta e gerando maior senso de urgência.

Além disso, amplifica a voz de povos indígenas e comunidades tradicionais, guardiões da floresta, cujas perspectivas são fundamentais para uma abordagem eficaz da crise climática e afirma o Brasil em seu papel de construtor de pontes entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, entre o norte e o sul global, defendendo responsabilidades comuns, porém diferenciadas. A localização compõe um cenário impactante para negociadores e coloca em evidência tanto a dimensão do desafio, quanto o potencial transformador das soluções inovadoras protagonizadas pelo Brasil.

COP da Amazônia

O Brasil tem muito a dizer (e demonstrar) ao mundo em temas como agricultura de baixo carbono, com práticas como o plantio direto, recuperação de pastagem, integração lavoura-pecuária-floresta e fixação biológica de nitrogênio. Embora a agropecuária seja responsável por parcela significativa das emissões, somos reconhecidos por uma tecnologia agrária expoente responsável por uma verdadeira revolução agrícola que impulsionou a produtividade nacional em sete vezes nos últimos 50 anos.

Temos exemplos dignos de serem conhecidos mundo afora de modelos de negócio eficazes baseados na sociobiodiversidade da Amazônia como vetor de desenvolvimento sustentável, com cadeias de valor para produtos florestais não madeireiros e cooperativas de produção e consumo responsáveis. A título de exemplo, a Natura, participante ativa da Rede Brasil do Pacto Global da ONU, é reconhecida como pioneira no uso de bioativos da Amazônia em cadeias de valor justas e sustentáveis.

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Ao desenvolver produtos cosméticos com a manteiga extraída de sementes de árvores outrora exploradas de forma predatória, a empresa reposicionou economicamente espécies nativas locais, garantindo que comunidades extrativistas passassem a obter até três vezes mais renda mantendo a floresta em pé do que com o corte da madeira.

A escolha de Belém direciona o olhar global para a Amazônia como laboratório de soluções (bioeconomia, manejo sustentável), indo muito além do imaginário global sobre a região. A COP pode impulsionar investimentos em infraestrutura sustentável e desenvolvimento local, provando que conservação e progresso devem coexistir. A presença massiva de visitantes ajudará a desmistificar a Amazônia, mostrando sua complexidade e potencialidades.

É certo que desafios e turbulências farão parte, mas a oportunidade e o simbolismo da COP em Belém superam questões logísticas. É uma chance para o Brasil reafirmar seu compromisso ambiental, para a Amazônia mostrar sua relevância vital e para o mundo se conectar profundamente com a urgência climática. Precisamos que Belém alavanque o potencial transformador desta conferência global, impulsionada pela força e simbolismo da Amazônia.

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