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Brasil define cinco setores prioritários para acelerar transição à economia circular

Um estudo inédito foi lançado em São Paulo durante o primeiro Fórum Mundial de Economia Circular realizado na América Latina e revela os principais desafios e oportunidades em ano de COP30

Economia circular é um modelo de produção e consumo que busca reduzir desperdícios, prolongar a vida útil dos produtos e promover o reaproveitamento de recursos (Getty Images)

Economia circular é um modelo de produção e consumo que busca reduzir desperdícios, prolongar a vida útil dos produtos e promover o reaproveitamento de recursos (Getty Images)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 14 de maio de 2025 às 13h34.

Última atualização em 14 de maio de 2025 às 13h51.

A transição para uma economia verde depende da circularidade de recursos e o mundo conecta cada vez mais a agenda com a de clima e descarbonização, pensando em interseções com a COP30 e protagonismo do setor privado.

No mesmo ano em que o Brasil recebe pela primeira vez a grande Conferência de Mudanças Climáticas da ONU, São Paulo sedia de 13 a 16 de maio o Fórum Mundial de Economia Circular (WCEF) pela primeira vez na América Latina e coloca no centro do debate o potencial deste modelo regenerativo para o crescimento sustentável.

O foco deste ano é em bioeconomia, inovação e papel dos negócios, visando "criar um arcabouço mais favorável à transição".

Um estudo inédito divulgado pelo Instituto Brasileiro de Economia Circular (Ibec) e pela Exchange 4 Change Brasil (E4CB) durante o evento revelou um panorama do país e definiu cinco setores estratégicos para impulsionar o modelo: metais e minerais, plástico, têxtil, eletroeletrônicos e energia.

"É um convite para países e empresas revisarem seus compromissos de redução de emissões, inserirem princípios circulares em suas metas climáticas (NDCs) e olharem para o desenvolvimento justo e sustentável", disse Beatriz Luz, presidente do Instituto Brasileiro de Economia Circular e diretora da E4CB.

Enquanto no modelo linear se extrai da natureza para se dar vida à produtos que no final acabam sendo descartados e se tornando lixo, a economia circular é um ciclo fechado em que os recursos voltam para a cadeia de forma sustentável por meio de práticas como a reciclagem e reaproveitamento de resíduos.

Neste sentido, o design sustentável é uma prioridade, visando novas práticas de produção regenerativas e que minimizam o impacto no ambiente.

À EXAME, Beatriz destacou que o Brasil está vivendo um momento decisivo na pauta, com a Política Nacional de Economia Circular (PNEC) aprovada pelo Senado em março de 2024. "A medida demonstra o compromisso do país com um modelo de crescimento que não apenas evite a exploração de recursos, mas promova a regeneração", destacou.

Em seguida, foi a vez da Estratégia Nacional de Economia Circular, da qual deriva o Plano Nacional de Economia Circular, sancionado na última semana, e que traça objetivos ambiciosos para os próximos dez anos para guiar a indústria e os governos para a implementação -- de forma colaborativa.

"Mais do que nunca, a agenda se torna um status de política estratégica, para promover crescimento econômico, justiça social e preservação ambiental", ressaltou Beatriz.

Segundo ela, o setor privado precisa olhar para o desenvolvimento de negócios de uma nova forma, com foco em definição de valor, integração de atores e em relação de investimento e retorno.

Em relação aos negócios, outro estudo apresentado na terça-feira (13) pela Confederação Nacional da Indústria apontou que 6 em cada 10 indústrias brasileiras já adotam práticas de economia circular.  Entre as ações, estão: reciclagem de produtos (34%), oferecimento de reparo de itens durante o uso (32%) e utilização de recurso reciclado ou recuperado em novos produtos (30%). 

COP30 à vista

Rumo à COP30 no Brasil, em Belém do Pará, a expectativa é que esta seja a “COP da implementação”. Pensando em economia circular, as soluções e tecnologias já existem e é preciso entender quais ações podem ser adotadas em escala.

Nesta equação, é necessário o engajamento das empresas e a inserção de novos modelos econômicos. "É preciso pensar a agenda em desenvolvimento com a transição energética, preservação da Amazônia e o ganho de capital social", disse Beatriz.

Atualmente, 27% dos países já incluíram a economia circular nas suas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas). Mas o número ainda é muito baixo, acredita Beatriz. Para a COP30, "a circularidade deve não apenas entrar na meta climática de mais nações, como também estar nos planos de ação nacionais, com práticas financiáveis e implementáveis", sustentou ela.

Por outro lado, há uma oportunidade única de articulação enquanto sociedade, indústria e governo e de inserção de soluções circulares na NDC brasileira, que prevê a redução de até 67% nas emissões de gases estufa até 2035.

"O Fórum Mundial de Economia Circular é um pontapé para darmos maturidade ao tema, engajando diversos atores dispostos a criar um arcabouço mais favorável à transição", complementou Beatriz.

Desafios e oportunidades

O documento divulgado nesta quarta-feira, 14, é resultado de dez anos de trabalho da E4CB e destaca que mesmo em meio a avanços, há desafios de implementação no Brasil. Os três principais são:

  1. Letramento: Há necessidade de uma mudança de mentalidade nos negócios para educar e engajar todos os atores envolvidos.
  2. Estratégias integradas: Existe uma dificuldade em definir estratégias que ultrapassem os limites de uma única empresa ou setor, e a transição exigirá o desenvolvimento de novas competências e indicadores.
  3. Comportamento de mercado: A adoção de novos valores pela sociedade é essencial para que produtos e serviços circulares sejam valorizados e demandados pelos consumidores.

Segundo Beatriz, a organização é frequentemente procurada por especialistas e investidores internacionais que querem entender o cenário da economia circular no Brasil, além de stakeholders brasileiros que não sabem por onde começar.

Neste sentido, a especialista destaca que é fundamental olhar para além de uma única empresa ou setor, olhando para novas habilidades, competências e indicadores. "O mercado também dita a regra, e é essencial que produtos e serviços circulares sejam valorizados e demandados", disse.

Ações para destravar a agenda

Para superar esses desafios, o estudo também propõe sete diretrizes essenciais:

  1. Inserção da economia circular nos currículos educacionais, da educação básica ao ensino superior.
  2. Criação de um modelo de financiamento circular adaptado à realidade brasileira.
  3. Letramento das lideranças públicas e privadas.
  4. Fomento a redes de colaboração para estimular ecossistemas de trocas multissetoriais e internacionais.
  5. Priorização do design circular para redesenhar produtos e garantir sua reparabilidade.
  6. Desenvolvimento de roadmaps regionais com metas e prioridades específicas para cada estado.
  7. Mobilização e conscientização da sociedade por meio de campanhas de sensibilização.

O que é o Fórum Mundial de Economia Circular 

O Fórum Mundial de Economia Circular é organizado anualmente pelo Fundo Finlandês de Inovação Sitra e conta com a participação de líderes empresariais, formuladores de políticas públicas e especialistas de diversas partes do mundo. Em sua nona edição, acontece de 13 a 16 de maio no Parque Ibirapuera, na capital paulista. Em 2024, foi sediado em Bruxelas, na Bélgica. 

Neste ano em solo brasileiro, visa impulsionar a economia circular para gerar valor, empregos e maior resiliência nas cadeias de suprimentos, ajudando no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ONU).

Uma das principais organizações do setor, a Fundação Ellen MacArthur atua com foco em três princípios: eliminar a poluição e resíduos desde o design de produtos, criar materiais com alto valor agregado e regenerar a natureza.

Já o Instituto Brasileiro de Economia Circular faz parte do fórum de especialistas criado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) para definir a Estratégia Nacional de Economia Circular e foi a primeira organização brasileira a integrar a Coalizão de Economia Circular para a América Latina e o Caribe, reforçando o protagonismo do país nessa agenda na região.

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