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Jéremy Houssin, líder de sustentabilidade da Common Goal: "Os jovens já não sonham com o futebol da mesma forma" (Jonathan Lanza/NurPhoto/Getty Images)
Repórter de ESG
Publicado em 9 de setembro de 2025 às 06h00.
As mudanças climáticas ameaçam não apenas a Copa do Mundo de 2026, mas o futuro do futebol como conhecemos hoje. Um relatório das ONGs Football for Future e Common Goal, desenvolvido em parceria com a consultoria Jupiter Intelligence, revela que 10 dos 16 estádios que sediarão a Copa da América do Norte já estão fora dos limites seguros para jogos devido ao calor extremo.
Os cientistas alertam que, sem ações urgentes contra a mudança do clima, a Copa de 2026 pode ser a última em formato tradicional. O Mundial de Clubes da FIFA de 2025 já ofereceu um vislumbre preocupante: jogadores descreveram as condições como "impossíveis" devido ao clima úmido e o calor. Muitas partidas foram realizadas com temperaturas acima de 29°C durante os horários de maior incidência solar, segundo informações da ESPN.
O estudo analisou as condições climáticas em 16 estádios da Copa de 2026, 18 campos de futebol de base onde lendas começaram suas carreiras, e dois estádios das futuras Copas de 2030 e 2034.
"A Copa mostra as reais implicações do que está acontecendo com o clima", explica Mark McKenzie, jogador da seleção americana e do Toulouse FC. "Enquanto jogos na costa leste sofrem de umidade e calor extremo, o sul cada vez mais lida com frio e tempestades. Se não agirmos rapidamente, tudo isso vai piorar."
O impacto será ainda mais severo na formação de novos talentos. Todos os campos de base analisados já ultrapassam os limites de segurança em pelo menos um fator de risco.
Em três décadas, dois terços dos campos onde começaram ídolos como Lionel Messi, Ronaldo Nazário, Mohamed Salah e Kylian Mbappé excederão os limites seguros de temperatura.Rich Sorkin, CEO da Jupiter Intelligence, enfatiza que "desde estádios bilionários a campinhos de bairro, o esporte depende de condições seguras. A resiliência climática é um esforço de equipe, assim como o futebol."
O Sul global enfrenta desafios desproporcionais. Apesar de contribuir menos para as emissões globais, essas regiões têm menor capacidade de adaptação e enfrentarão, em média, sete vezes mais dias de calor insuportável que o Norte global.
Alexei Rojas, goleiro do Arsenal e jogador da seleção colombiana sub-23, relatou sua experiência durante uma partida em Singapura. "A sensação era como uma sauna. Umidade e calor absurdos afetaram desde treinos até jogos oficiais", diz. Para ele, isso compromete não só o futebol profissional, mas a formação de novos talentos: "Se as crianças não tiverem essa experiência, haverá impacto na construção de equipes em pouco tempo".
Jéremy Houssin, líder de sustentabilidade da Common Goal, observa que o clima já gera desengajamento nas novas gerações. "Os jovens já não sonham com o futebol da mesma forma. A solução inclui adaptação dos treinos de base e programas que aumentem o tempo das crianças brincando ao ar livre", afirma.
A pressão pública é significativa, segundo dados ouvidos pela pesquisa:
Para a Copa de 2026, os especialistas defendem conversas sobre resiliência climática entre governos norte-americanos e a FIFA. "Podemos deixar um legado positivo pela adaptação dos gramados ou mudança de horários dos jogos", sugere Houssin, da Common Goal.
McKenzie, do Toulouse, porém, considera necessárias mudanças mais radicais: "Não é mudando o horário que paramos o calor ou tempestades. É um começo de conversa, mas não é perfeito."