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Brasil tem uma oportunidade única de ser o grande provedor de soluções verdes para o mundo (Camila Batista/Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 24 de setembro de 2025 às 12h15.
Combate ao desmatamento, restauração de ecossistemas e adoção de práticas de agricultura regenerativa são algumas das soluções para a transição sustentável do setor de uso de terra, responsável por até 21% das emissões globais de gases estufa na última década.
O Brasil, sede da grande conferência do clima da ONU (COP30), tem uma oportunidade de ouro nesta agenda: tanto pelo seu perfil emissor quanto pelo potencial único em soluções verdes possíveis de serem exportadas ao mundo.
Com a missão de impulsionar a descarbonização do setor, a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, composta por mais de 400 organizações, lançou durante a Semana do Clima de Nova York 10 propostas para mitigação e implementação de baixo custo e em escala.
O documento foi apresentado para o governo brasileiro como contribuição brasileira para a COP30 em Belém, em um contexto geopolítico desafiador e com o agravamento dos efeitos da crise climática em todo mundo.
Carolle Alarcon, gerente executiva da Coalizão Brasil, avalia que se trata do "início de um movimento que queremos ver ganhar força até a COP, envolvendo governos, setor privado e sociedade civil". Segundo a especialista, "a urgência é clara" e "é hora de investir em uma nova economia -- e essa transição passa por soluções para o uso da terra".
Em entrevista à EXAME, Leila Harfuch, membro do Grupo Estratégico da Coalizão Brasil e sócia-gerente da consultoria Agroicone, destacou a necessidade de um olhar holístico das propostas.
"Criar políticas para implementação de ações de comando e controle contra o desmatamento precisa ser complementada com a criação de mecanismos que remunerem de forma efetiva a conservação e a restauração de florestas", explicou.
Na terça-feira, 23, o Brasil anunciou US$ 1 bilhão para o Fundo para Florestas Tropicais (TFFF) recém-lançado, um passo inédito para a conservação ambiental e pagamento por serviços ecossistêmicos.
As ações foram organizadas nos três eixos da agenda de ação da COP.
No eixo gestão sustentável de florestas, oceanos e biodiversidade, estão cinco estratégias: aumentar investimentos para controlar e reverter o desmatamento e degradação florestal; promover a restauração de paisagens e florestas em larga escala; incorporar ações integradas de prevenção e combate a incêndios florestais; ampliar mecanismos de pagamentos por serviços ambientais; e fortalecer a rastreabilidade socioambiental das cadeias produtivas.
Para a transformação da agricultura e sistemas alimentares, a Coalizão propõe duas medidas centrais: recuperar áreas degradadas e ampliar sistemas agropecuários de baixo carbono e regenerativos; e implementar sistemas alimentares mais resilientes, adaptados e sustentáveis.
Nos catalisadores e aceleradores, que incluem financiamento, tecnologia e capacitação, três propostas completam o conjunto: definir padrões globais para finanças agrícolas sustentáveis; reconhecer a bioeconomia como estratégia global para o desenvolvimento sustentável; e destinar pelo menos 50% das metas do financiamento climático para adaptação.
Segundo Leila, o principal obstáculo está na mobilização de recursos, visto que há uma necessidade de financiamento e de mecanismos inovadores capazes de reduzirem os riscos para a transformação.
"O que se propõe para a descarbonização são investimentos de longo prazo e alguns com incertezas relacionadas ao retorno econômico, aumentando a complexidade para a efetiva implementação", pontuou a especialista.
Karen Oliveira, cofacilitadora da Coalizão Brasil e diretora da The Nature Conservancy (TNC Brasil), também reforça o desafio e destacou que é preciso mobilizar investimentos na velocidade e na magnitude que a emergência climática exige.
"O Brasil tem projetos maduros e de alto impacto prontos para receber recursos, mas precisamos de mecanismos que facilitem o acesso", reiterou.
Para superar essas barreiras, Leila defende uma mudança estrutural. Primeiro, com o reconhecimento e valoração do capital natural globalmente "das florestas à conservação do solo e da água para a produção de alimentos, fibras e bioenergia".
"Com a crise climática, precificar os riscos físicos e de transição é imperativo", destacou.
O documento destaca que várias propostas já contam com políticas públicas consolidadas no Brasil e os resultados podem inspirar outros países.
Entre os exemplos estão os planos de combate ao desmatamento na Amazônia (PPCDAm), de recuperação da vegetação nativa (Planaveg) e de fomento à agricultura de baixo carbono (ABC+).
"O Brasil é pioneiro nas práticas de agricultura tropical de baixo carbono, regenerativa e resilientes às mudanças do clima, com retorno econômico e instrumentos financeiros consolidados, especialmente pela política agrícola de crédito rural", ressaltou Leila.
Fernando Sampaio, cofacilitador da Coalizão e diretor de Sustentabilidade da Abiec, também reforçou o potencial do país e o papel da agropecuária brasileira na segurança alimentar e na transição para uma economia verde.
"Já temos tecnologias e práticas consolidadas, como a integração lavoura-pecuária-floresta, plantio direto e o manejo de pastagens, que reduzem emissões e aumentam a produtividade", acrescentou.
Mauricio Voivodic, diretor executivo do WWF-Brasil e membro do Grupo Estratégico, diz que o cenário atual aumenta exponencialmente a responsabilidade brasileira:
"É uma grande oportunidade para o país levar à mesa a agenda do uso da terra e desmatamento. Temos no Brasil uma série de iniciativas e políticas públicas bem-sucedidas nessa área, do combate ao desmatamento à descarbonização da agropecuária, que podem ganhar escala em outros países", concluiu.