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A Grande Barreira de Corais, na Austrália, é a maior estrutura viva do mundo.. (Reprodução/AFP)
Colunista
Publicado em 24 de junho de 2025 às 11h00.
Última atualização em 24 de junho de 2025 às 11h06.
Os efeitos do aquecimento global causado pelo homem são cada vez mais evidentes, com um claro aumento na frequência de eventos climáticos extremos. A meta estabelecida no Acordo de Paris, de limitar o aquecimento global a menos de 2 °C acima dos níveis pré-industriais, já é vista como utopia por parte relevante da comunidade científica. De acordo com a própria ONU, mesmo com as medidas acordadas, as temperaturas deverão aumentar em 3 °C. A eleição de Trump também trouxe diversos desafios à agenda climática.
A maior frequência de eventos climáticos extremos, como secas, enchentes, furacões, ondas de frio e de calor, impacta tanto o homo sapiens como milhões de outras espécies de animais e plantas com capacidades de adaptação variadas. O impacto das mudanças climáticas sobre perda de biodiversidade é menos divulgada e cientificamente mais incerta. Entretanto, alguns estudos apresentam conclusões preocupantes.
Segundo um estudo do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), as projeções atuais indicam que, com um aumento de temperatura global de 2 °C até 2100, até 18% de todas as espécies terrestres estarão em alto risco de extinção. Além disso, a grande barreira de corais (um ecossistema de 30 mil anos e patrimônio mundial da Unesco) será totalmente extinta, reduzindo-se a esqueletos embranquecidos em poucas décadas. Caso a temperatura global aumente em 4 °C, uma em cada duas espécies de plantas ou animais que conhecemos estará ameaçada.
Além do impacto irreversível sobre as espécies animais, a perda de biodiversidade resulta também em impactos econômicos e na saúde humana.
Os recifes de corais abrigam cerca de 25% de todas as espécies marinhas, sustentando mais de 1 bilhão de pessoas. De acordo com um estudo publicado no MIT Science and Policy Review, os serviços prestados por esse ecossistema, como a proteção das costas contra tempestades e furacões, preservação dos estoques pesqueiros, turismo e empregos têm valor estimado em US$ 11 trilhões por ano.
A produção global de alimentos também seria impactada, já que cerca de 30% dela depende da polinização por animais, como as abelhas. Essas criaturas enfrentam um declínio acelerado, com o aumento da temperatura sendo o principal fator responsável. O valor dos cultivos diretamente afetados por polinizadores é estimado entre US$ 321,6 bilhões e US$ 789,6 bilhões anualmente.
Além disso, a biodiversidade está intimamente ligada à saúde humana, pois é uma fonte de recursos genéticos para o desenvolvimento de tratamentos contra inúmeras enfermidades. No entanto, seu declínio pode favorecer o surgimento e a propagação de doenças. Segundo um estudo publicado na revista Nature, a perda de biodiversidade desequilibra os ecossistemas, ampliando a presença de hospedeiros e patógenos que favorecem a transmissão dessas doenças.
Portanto, as mudanças climáticas podem impactar os pilares que sustentam não apenas a biodiversidade, mas a própria base de nossa sobrevivência. A necessidade de reduzir emissões é urgente, pois cada avanço no grau de aquecimento global pode impactar a existência de diversas espécies. A natureza sempre encontrará um novo caminho; somos nós que dependemos dela para nossa existência.