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Fórum de Líderes Locais no Rio de Janeiro reúne mais de 300 autoridades para impulsionar ação climática rumo à COP30 (Flickr / COP30 /Divulgação)
Redação Exame
Publicado em 4 de novembro de 2025 às 12h30.
Última atualização em 4 de novembro de 2025 às 12h47.
*Caroline Grune, do Rio de Janeiro
“Acredito que as cidades são onde a promessa do Acordo de Paris pode realmente se concretizar”. É a bandeira levantada por Laurence Tubiana, Diretora Executiva da Fundação Europeia para o Clima e Enviada Especial da COP30 para a Europa. A economista francesa debateu os caminhos da transição energética no Fórum de Líderes Locais no Rio de Janeiro, em um esquenta para a ação climática rumo à COP30 em Belém.
Em meio à resistência de presidentes e governos nacionais na adoção de políticas capazes de reverter as mudanças climáticas, são as cidades, estados, universidades e a sociedade civil que protagonizam ações de sustentabilidade.
“Esse é o grupo que deve estar à mesa nas próximas discussões — não no futuro distante, mas agora. E falo isso com seriedade. Há países que não apenas atrasam a ação climática, mas também adotam uma postura autoritária contra as energias renováveis”, disse Laurence.
As cidades já produzem aproximadamente 80% do PIB global e mais de 70% das emissões relacionadas à energia.
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“Quando os governos nacionais são lentos para agir, as cidades se mostram mais ágeis e voltadas à fontes limpa, mesmo enfrentando dificuldades políticas internas”, avalia a pesquisadora.
A importância da transição energética está na pauta em muitas cidades. Mas não é um desafio simples: são cenários políticos e financeiros complexos, que demandam recursos, planejamento e apoio público.
Pelo mundo, líderes locais se comprometem em transformar metas ambiciosas em realidade. Tian Chen, Diretor-Geral do Departamento Municipal de Ecologia e Meio Ambiente em Pequim, na China, afirmou que a redução no uso do carvão foi um fator-chave para promover o uso de energia renovável.
“Pequim fechou usinas a carvão e substituiu suas fontes por gás natural, tornando o fornecimento elétrico mais limpo e estável”, afirmou Chen no painel.
Com isso, a megacidade investiu fortemente em solar e eólica.
“Atualmente, um terço da eletricidade consumida em Pequim vem de renováveis. Esses esforços ajudam não apenas na descarbonização, mas também contribui para atingir nossas metas de neutralidade de carbono”, aponta o diretor.
Segundo o prefeito de Atenas, Haris Doukas, a capital da Grécia é o berço da democracia -- e também da revolução verde. Para o líder, o combate às mudanças climáticas é uma questão de sobrevivência.
Todos os anos, cerca de 3 mil mortes em Atenas estão direta ou indiretamente relacionadas à poluição e ao aumento das temperaturas, especialmente durante o verão. Por isso, a justiça climática é uma prioridade.
As políticas locais buscam garantir que as pessoas mais vulneráveis, aquelas que são mais afetadas por ondas de calor e enchentes, devem ser protegidas.
“Damos prioridade, por exemplo, à reforma de casas de baixa renda. Trabalhamos com transparência: todos os anos, apresentamos oficialmente nossas metas com números claros: quantas escolas foram reformadas, quantas residências têm taxas municipais zeradas, e quanta energia renovável foi produzida”, afirma Doukas.
Os ventos apontam para a redução do uso de combustíveis fósseis no mundo. O custo médio dos projetos de energia solar caiu 85% entre 2010 e 2020. Mais de 90% da nova capacidade de eletricidade instalada em 2023 e 2024 veio de fontes renováveis, principalmente solar e eólica, de acordo com a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA).
Houve ainda uma redução de 90% no custo das baterias, impulsionando a adoção e popularização dos carros elétricos e abrindo um novo leque de possibilidades para o armazenamento energético.
“Os líderes locais atuam no transporte, planejamento urbano, energia — e, cada vez mais, na gestão da água, que será um tema crucial no futuro. Eles podem moldar o uso de energia”, diz Laurence Tubiana.
Os investimentos verdes estão mudando de direção: nos últimos anos, ultrapassaram os em combustíveis fósseis. Segundo a International Energy Agency (IEA), em 2023 mais de US$ 1,7 trilhão foram destinados a tecnologias limpas, contra cerca de US$ 1 trilhão para fósseis.