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Ana Toni e André Corrêa do Lago, respectivamente CEO e Presidente da COP30, coordenam estratégia brasileira para Conferência, que acontece em novembro, em Belém do Pará. (Rafa Neddermeyer/ COP30/Divulgação)
Editora ESG
Publicado em 24 de maio de 2025 às 13h30.
Última atualização em 24 de maio de 2025 às 14h04.
A presidência brasileira da COP30 publicou na última semana, sua terceira comunicação oficial. Desta vez, a novidade veio na abordagem da questão dos combustíveis fósseis - tema que havia sido tratado de forma periférica nas correspondências anteriores.
Assinado pelo embaixador André Corrêa do Lago, presidente da Conferência, o documento estabelece três prioridades específicas para as negociações preparatórias de Bonn, na Alemanha, e detalha objetivos concretos relacionados à transição energética.
A carta ressalta que os combustíveis fósseis respondem por mais de 75% das emissões globais de gases de efeito estufa, avalizando a necessidade de um enfoque mais assertivo sobre o tema.
E menciona também o "Programa de Trabalho dos Emirados Árabes sobre Transição Justa" e o "Diálogo dos Emirados Árabes Unidos sobre a implementação dos resultados do Balanço Global".
Este último tópico representa um avanço importante, uma vez que visa operacionalizar a meta acordada na COP28 de "se afastar dos combustíveis fósseis".
O documento estabelece três eixos centrais para as negociações alemãs. O primeiro trata dos indicadores da Meta Global de Adaptação (GGA), mecanismo aprovado na COP28 que requer detalhamento operacional para mensurar a capacidade mundial de adaptação às mudanças climáticas.
O segundo pilar aborda o Programa de Trabalho dos Emirados Árabes sobre Transição Justa, que visa implementar o compromisso assumido na COP28 de triplicar a capacidade global de energia renovável e dobrar a taxa de melhorias em eficiência energética de forma equitativa entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.
O terceiro eixo concentra-se no Diálogo dos Emirados Árabes Unidos sobre implementação dos resultados do Balanço Global.
Este componente representa mudança emblemática na posição brasileira, que anteriormente havia evitado referências diretas ao tema.
A inclusão desta agenda reflete pressões internacionais crescentes sobre o Brasil para que assuma liderança efetiva em descarbonização, especialmente após críticas recebidas em fóruns internacionais sobre inconsistências entre discurso climático e políticas energéticas domésticas.
A ênfase nos combustíveis fósseis adquire ainda relevância particular no contexto brasileiro atual, em que debates sobre exploração da margem equatorial amazônica intensificaram-se nas últimas semanas.
A região - que representa uma das últimas fronteiras petrolíferas não exploradas do país - abriga reservas estimadas em 5,6 bilhões de barris de óleo equivalente, representando potencial de ampliação de 40% das reservas nacionais.
E gera tensões evidentes entre objetivos econômicos imediatos, com potencial de arrecadação de R$ 3,2 trilhões em royalties ao longo de 30 anos, e compromissos climáticos de longo prazo assumidos pelo país em acordos multilaterais.
O tema havia sido objeto de questionamentos diretos de representantes europeus durante o Diálogo de Petersberg, em abril, quando diplomatas alemães e franceses manifestaram preocupações sobre a coerência da política climática brasileira.
A questão voltou ao centro das atenções após o IBAMA autorizar a Petrobras a realizar testes sísmicos na região, sinalizando avanço no processo de licenciamento.
As três cartas já divulgadas pela presidência da COP30 compõem uma progressiva especificação da agenda brasileira.
A primeira comunicação, em março deste ano, trouxe os conceitos estruturais do "Mutirão Global Contra a Mudança do Clima", focando em aspectos organizacionais sem abordar questões setoriais específicas.
Cerca de dois meses depois, a segunda carta, publicada em maio, introduziu mecanismos de governança para atores não-estatais e expandiu o conceito de "contribuições autodeterminadas" além do âmbito governamental.
Organizações ambientais, contudo, criticaram justamente a ausência de referências substantivas à transição energética.
Logo, a terceira comunicação parece vir como resposta direta a estas reações, incorporando linguagem técnica específica sobre combustíveis fósseis e estabelecendo cronogramas mensuráveis para implementação de compromissos assumidos em conferências anteriores.
Logo após a divulgação do último documento, Ana Toni, CEO da COP30, enfatizou também a importância da postura de negociadores em Bonn para estabelecer bases sólidas em Belém.
"A credibilidade do nosso processo multilateral está nas mãos dos negociadores. Não podemos mais permitir que a procrastinação ou o adiamento de decisões continuem", declarou.
A CEO atentou para a necessidade de uma mudança metodológica nas negociações, defendendo que é preciso chegar a Bonn com empatia e solidariedade — no lugar de conflito e impasse.
"A escuta mútua permitirá aproveitar a diversidade de perspectivas para alcançar sofisticação tanto na colaboração quanto nos resultados", escreveu em posicionamento em suas redes sociais.
As negociações de Bonn, programadas para 16 a 26 de junho, servirão como teste da efetividade da abordagem brasileira. A reunião é o mais importante fórum antes da Conferência em si.
A presidência brasileira estabeleceu um "dia zero" com conversas informais entre Chefes de Delegação, para facilitar discussões sobre temas tecnicamente complexos, incluindo definição de indicadores quantitativos para o Objetivo Global de Adaptação e estruturação de mecanismos financeiros para transição justa.
A 62ª Sessão dos Órgãos Subsidiários da UNFCCC terá o objetivo de traduzir e amarrar as prioridades estabelecidas pela presidência em mecanismos técnicos operacionais.
O sucesso das discussões preparatórias influenciará diretamente a arquitetura final da COP30 em Belém.